“Mulheres Radicais” revela trabalhos pioneiros de artistas que seguem praticamente desconhecidas
Se as artistas plásticas ganham cada vez mais relevância na arte contemporânea, houve um período em que a produção feminina na América Latina, entre os anos 1960 e 1980, acabou silenciada por uma série de fatores. São várias autoras de trabalhos pioneiros que seguem praticamente desconhecidas. O documentário “Mulheres Radicais”, de Isabel De Luca e Isabel Nascimento Silva, propõe um novo capítulo na história da arte do século XX ao reunir a potência dessas artistas. O filme estreia com exclusividade no Curta!, no dia temático Terças das Artes, 12 de março, às 22h30.
O ponto de partida do longa é a exposição Mulheres Radicais, que entre 2017 e 2018 ocupou o Hammer Museum, em Los Angeles, o Brooklyn Museum, em Nova York, e a Pinacoteca de São Paulo, reunindo 127 artistas e coletivos de 15 países – entre figuras conhecidas, como a brasileira Lygia Clark, a cubana Ana Mendieta e a argentina Marta Minujín, e uma esmagadora maioria de artistas, cujo trabalho começou a ser reconhecido e celebrado pela primeira vez. Filmado em Nova York e São Paulo, “Mulheres Radicais” promove encontros inéditos entre algumas das mais representativas artistas que participaram da mostra.
O documentário se estrutura a partir do conceito de rede. A primeira artista convidada – a paulistana Lenora de Barros – escolheu livremente outra para entrevistar; esta, por sua vez, elegeu uma terceira e assim por diante, numa corrente que nos leva a conhecer, por meio de conversas livres, a arte, o pensamento e os afetos dessas mulheres radicais, enquanto elas se conhecem e se reconhecem umas nas outras. A narrativa é ressaltada por uma ampla gama de imagens de arquivo: além de fotos e vídeos de acervo pessoal que ajudam a contar a história das 11 artistas contempladas, cerca de 400 trabalhos surgem na tela enquanto são comentados pelas autoras.
O filme revisita, no calor do presente, um período marcado pela emancipação das mulheres e seus corpos. O corpo político era essencial à obra das artistas latino-americanas na época retratada pelo documentário. Seus trabalhos, embora se misturem a experiências de ditadura, prisão, exílio, tortura, violência, censura e repressão vinculadas à situação política, cultural e social vivenciada por grande parte do continente na época, também foram fundamentais para o surgimento de uma nova sensibilidade artística, entre elas a arte da performance e modalidades híbridas que mesclam dança, teatro, videoarte, entre outras.
Essas artistas que contribuíram significativamente para a arte contemporânea, mas tiveram pouca atenção acadêmica e do mercado, não intencionaram fazer uma obra feminista, apesar de essa agenda hoje estar clara na produção. Muitas tiveram as carreiras interrompidas e só retomaram o ofício depois do processo de redescobrimento acelerado pela exposição. A relevância da obra dessas mulheres é ressaltada no documentário em depoimentos de curadoras, como Cecilia Fajardo-Hill e Andrea Giunta, responsáveis pela mostra, e outras especialistas, como a historiadora da arte brasileira radicada em Nova York Claudia Calirman e a colecionadora e curadora venezuelana Estrellita Brodsky, diretora-fundadora do Another Space, em Nova York.
“Mulheres Radicais” é uma produção da Hysteria – selo centrado em narrativas femininas formado por mulheres da Conspiração – viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A produção executiva é de Isabel De Luca, Luisa Barbosa e Renata Brandão, e a produção associada de Isabel Nascimento Silva e Maria Barreto.