Cinema de animação assiste a boom planetário com filmes vindos da Letônia, Peru, China, Índia, Tailândia e Coreia do Sul
Foto: “Ne Zha 2”, de Yu Yang
Por Maria do Rosário Caetano
A indústria cinematográfica assiste a verdadeiro boom de filmes de animação. A China acaba de quebrar sólido tabu – ultrapassar, com um longa animado (“Ne Zha 2”, nome de menina de alma guerreira), a barreira do bilhão de dólares em arrecadação. Isto aconteceu, pela primeira vez na história cinematográfica, com um filme não-produzido nos EUA, seja pela Disney, Pixar ou assemelhados. Um longa-metragem, registre-se, que nem estreou no mercado da maior potência econômica e cultural do mundo.
Até o cineasta francês Michel Hazanavicius, detentor do Oscar de melhor filme com “O Artista” (protagonizado por Jean Dujardin e Bérénice Bejo), resolveu dedicar-se ao gênero animado com “A Mais Perigosa das Cargas”, produção franco-belga. Estreia marcada, entre nós, para o dia 24 de abril.
Nesse ano, assistiremos a significativa profusão de produções animadas oriundas de diversos países, que se somarão aos filme ‘made in USA’. Tais filmes chegam da pequenina Letônia (de 1,9 milhão de habitantes, e em festa com duas indicações ao Oscar), Peru, África do Sul, México, Bélgica, Tailândia e, claro, das indústrias audiovisuais da Coreia do Sul, Japão, China e Índia, estes dois últimos países com mais de um bilhão de habitantes (cada). Essas quatro nações começam a disputar, em bases profissionais, mercado com a hegemônica produção norte-americana.
Na quinta-feira, 20 de fevereiro, entrou no mercado brasileiro dois longas animados oriundos de “outras geografias” – o badaladíssimo “Flow”, do letão Gints Zilbalodis, e “Kayara – A Princesa Inca”, de Cesar Zalada, do Peru. O espantoso é que “Flow” foi lançado em 300 salas.
Até dezembro – segundo registros do Boletim Filme B, editado por Paulo Sérgio Almeida –, dezenas de animações procedentes dos cinco continentes chegarão ao circuito exibidor brasileiro. Muitas delas, com distribuição de pesos-pesados como a Paris Filmes, comanda por Márcio Fraccaroli (ver tabela abaixo).

Estamos assistindo a um processo de democratização geográfica dos filmes animados, de maneira diversa ao que continua ocorrendo no cinema live action?
Hollywood está, realmente, perdendo terreno nesse segmento da produção cinematográfica?
As novas tecnologias estão facilitando a realização de filmes animados em todos os cantos do mundo?
É cedo para ensaiar respostas conclusivas a estas indagações. E o cinema animado ‘made in Hollywood’ continua poderoso, quase imbatível. Tanto que “Divertida Mente 2” vendeu, só no Brasil, ao longo de 2024, mais ingressos (22 milhões), que o live action “Titanic” (19 milhões, em 1997).
Dos EUA continuarão chegando filmes capazes de atingir bilheterias milionárias em todos os continentes. Em 130 anos de história cinematográfica, Hollywood construiu a mais eficiente rede de distribuição e escoamento de produtos audiovisuais. Rede jamais igualada por nenhum outro país. Só, agora, a China consegue feito digno de nota com “Ne Zha 2” (o fenômeno que rendeu 1,64 bilhão de dólares e que pode superar o campeoníssimo “Divertida Mente 2”, com seus 1,69 bilhão).
No próximo dia dois de março, domingo de Carnaval, assistiremos à disputa entre as cinco animações que concorrem ao Oscar. Duas são norte-americanas, uma britânica, uma australiana e uma, o citado “Flow”, da Letônia. Sinal dos tempos. Os EUA já não detêm, sozinhos, as cinco vagas.
Há quem garanta que o favorito ao Oscar de número 97, categoria animação, seja “Robô Selvagem”, de Chris Sanders. “Flow”, que ganhou o Globo de Ouro, e concorre, também, a melhor filme internacional (nesse caso, rivalizando-se com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles), é apontado como o segundo na lista de favoritos.
Se o filme da ex-República Soviética conquistar a estatueta hollywoodiana, ele estará derrotando outro peso-pesado, o bilionário “Divertida Mente 2”, e o representante do Reino Unido, “Wallace & Gromit: Avengança”, de Nick Park e Merlin Crossinghan.
Correndo por fora está o encantador “Memórias de um Caracol”, de Adam Elliot (Austrália). Este, sim, merecia estar na lista dos superfavoritos, ao lado de “Flow”. Foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo, ganhou prêmio especial do júri, e conquistou a devoção de centenas de fãs. Mas não figura na lista de títulos programados (pelo menos até agora) pelo circuito exibidor brasileiro.

O filme letão deriva sua história do mito bíblico da Arca de Noé. Acompanhamos as aventuras de um gato solitário que, porém, será obrigado a conviver com outras espécies. E isto acontecerá quando seu lar for devastado por inundação de proporções diluvianas.
O felino encontrará refúgio em barco à deriva, onde se abrigaram muitos animais. Alguns deles, seus inimigos. A luta pela sobrevivência, em meio ao caos apocalíptico, obrigará o gato a dividir espaço com um cachorro, um pássaro, uma capivara e um lêmure.
A trama, fruto de inventivo roteiro de Zilbalodis, escrito em parceria com Ron Dyens e Matiss Casa, se desdobra na tela ao longo de 85 minutos, sem a menor necessidade de diálogos. Só suas belas imagens servem à narrativa, um canto de amor à tolerância e à diversidade.
A outra estreia dessa quinta-feira, “Kayara – A Princesa Inca”, do peruano Cesar Zelada, tem na intrépida princesinha indígena, de 16 anos, sua protagonista. Ela desafia a tradição de seu povo, pois deseja tornar-se a primeira mulher ‘chasquis’ (mensageira do Império Inca).
Para realizar seu sonho, a adolescente terá que vencer territórios traiçoeiros e defender a desconhecida Cidade Dourada (de exploradores interessados em suas riquezas). Terá, também, que salvar seus amigos e familiares de terríveis ameaças. Eis, portanto, a saga da heroína, que há milênios fascina crianças, estejam elas diante de uma fogueira ou de uma imensa tela de cinema. O filme, que dura 90 minutos, tem distribuição da Paris Filmes.
Confira animações programadas para 2025:
Dia 20 de fevereiro
. “Flow”, de Gints Zilbalodis (Letônia)
. “Kayara – A Princesa Inca”, de Cesar Zalada (Peru)
Dia 27 de fevereiro
. “Attack of Titan – O Último Ataque”, de Yuichiro Hayashi (Japão)
Dia 6 de março
. “Pequenos Invasores”, de Paul Louis Meyer e Geraldd Painter (África do Sul)
. “Bambi, Uma Aventura na Floresta”, de Michel Fessler (França, filme de aventura, que utiliza técnicas de animação)
Dia 13 de março
. “Deu Preguiça”, de Tania Vincent e Ricard Cussó (Austrália)
Dia 20 de março
. “Mundo Proibido”, de Alê Camargo (Brasil)
Dia 10 de abril
. “The Day the Earth Blew up: A Loney Tunes Movie”, de Peter Browngart (EUA)
Dia 17 de abril
. “The Tooth Fairy Tale” (EUA-Rússia)
Dia 24 de abril
. “A Mais Perigosa das Cargas”, de Michel Hazanavicius (França-Bélgica)
. “Rei dos Reis”, de Song-ho Jang (Coréia do Sul)
Dia 1º de maio
. “Minha Família Muito Louca”, de Mark Gavras (Alemanha)
. “Sneaks”, de Rob Edwards (EUA-Índia)
Dia 5 de junho
. “Super Wings em Velocidade Máxima – Maximum Space”, de Xiaoqin Cai e Cai Dongqing (China)
Dia 19 de junho
. “Elio”, de Adrian Molina (EUA)
Dia 17 de julho
. “Smurfs”, de Chris Miller (EUA)
Dia 31 de julho
. “Autentic Games” (Brasil)
. “Os Caras Malvados 2”, de Pierre Perifel e J.P.Sans (EUA)
Dia 7 de agosto
. “Grand Prix: A Toda Velocidade”, de Waldemar Fast (Alemanha)
. “Missão Pets – Detetives de Quatro Patas”, de Vasily Rovensky (Rússia)
Dia 11 de setembro
. “Viagem Gelada – O Resgate do urso Polar”, de Gabriel Riva Palácio Alatriste (México)
. “Untitled Sony/Crunchyroll/Aniplex Event Film” (Japão)
Dia 25 de setembro
. “ZOOpocalipse – Uma Aventura Animal”, de Ricardo Curtis e Rodrigo Pérez-Castro (França, Canadá, Bélgica)
Dia 9 de outubro
. “Super Elfkins”, de Ute von Münchow-Pohl (Alemanha)
. “Animal Friends”, de Peter Atencio (EUA)
. “Gabby’s Dollhouse – The Movie”, de Pearl, DeMicco e Crego (EUA)
. “X-Factor”, de Eric Monteiro (EUA)
Dia 13 de novembro
. “The Big Trip 3: Race Around the World”, de Vasily Rosensky (Rússia)
Dia 27 de novembro
. “Zootopia 2”, de Bush & Howard (EUA)
. “Davi”, de Brent Dawes e Phil Cunninghan (EUA)
. “Groove Tails”, de Bob Logan (EUA)
Dia 11 de dezembro
. “Out of the Nest”, de Arturo A. Hernandez (Tailândia)
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