Sessão Mutual Films do IMS Paulista exibe “Nada Além de um Homem” (1964) e “A Vida de um Minerador Exemplar” (1972)
Neste mês, o Cinema do IMS Paulista recebe mais uma edição da Sessão Mutual Films, com filmes que tratam da luta diária de homens e mulheres comuns em sistemas degradantes e desumanos, em prol de uma futura sociedade mais justa: o longa-metragem de ficção independente norte-americana “Nada Além de um Homem” (1964), dirigido por Michael Roemer e tido como um dos filmes favoritos de Malcolm X, o docudrama “A Vida de um Minerador Exemplar” (foto, 1972), do diretor bósnio Bahrudin “Bato” Čengić, e o documentário musical dirigido por Karpo Ačimović Godina, “Gente Saudável para Brincar” (1971). Os filmes serão exibidos em novas cópias digitais recém-restauradas, nos dias 16 de abril, a partir das 18h, e 27 de abril, a partir das 16h. A curadoria é de Aaron Cutler e Mariana Shellard.
“Nada Além de um Homem” conta a história de Duff Anderson (interpretado pelo ator e ativista político Ivan Dixon), um homem negro de 30 e poucos anos, que trabalha na empresa ferroviária no estado segregado do Alabama, no Sul dos Estados Unidos. Uma noite, numa festa religiosa, ele conhece Josie Dawson (a cantora de jazz e também ativista Abbey Lincoln), uma professora do ensino básico e filha do proeminente pastor negro local. Os dois se apaixonam e decidem se casar, a contragosto de todos ao seu redor.
O filme foi coproduzido de forma independente e corroteirizado pelo cinegrafista Robert M. Young e o diretor Michael Roemer, ex-colegas de faculdade na Universidade de Harvard. Young e Roemer conceberam o longa no auge do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e ao longo de uma viagem de pesquisa pelo Sul do país. A obra resultante foi marcada por uma forte verossimilhança emocional. “Nada Além de um Homem” foi inovador em seu uso da trilha sonora, que contou com participações de artistas da Motown, como The Miracles, Mary Wells e o então adolescente Stevie Wonder. O filme foi lançado um ano antes do assassinato de Malcolm X, que valorizou seu retrato da busca por uma autossuficiência negra norte-americana.
Já no filme “A Vida de um Minerador Exemplar” – uma obra maestral do movimento Black Wave (Onda Negra) iugoslavo –, o diretor bósnio Bahrudin “Bato” Čengić e o cinegrafista esloveno-macedônio Karpo Godina buscaram recriar a história de vida do celebrado minerador Alija Sirotanović, com trabalhadores rurais reais na Bósnia. Eles registram os homens e suas famílias em uma série de planos fixos, que comentam tanto as ferramentas de propaganda em um Estado comunista, que transformou o trabalho dos mineradores em um jogo competitivo entre cidadãos de diferentes regiões da Iugoslávia, quanto a tragédia de uma geração de heróis cuja memória foi descartada pela sociedade em geral.
“A Vida de um Minerador Exemplar” foi inspirado na história do udarnik (trabalhador e herói nacional) mais celebrado da ex-Iugoslávia, o bósnio Alija Sirotanović, que aparece no filme como uma versão dele mesmo e no meio de um elenco de atores profissionais e não profissionais (vários deles mineradores reais, cujos feitos foram esquecidos na memória nacional popular). Nas sessões do filme também será exibido o curta musical “Gente Saudável para Brincar”, de Karpo Ačimović Godina, que inspirou a estética do longa de Čengić. Filmado na província de Voivodina, no norte da Sérvia, uma região conhecida pela grande quantidade de etnias e línguas entre sua população, o documentário traça um panorama dos diversos habitantes da província, cujos depoimentos sobre suas vidas são muitas vezes filmados em frente de suas casas.