Cinemateca Brasileira homenageia documentaristas brasileiras com a Mostra 7 Décadas de História
Entre os dias 30 de maio e 8 de junho, a Cinemateca Brasileira homenageia 14 diretoras documentaristas brasileiras. A mostra reúne filmes feitos entre a década de 1960 e os dias atuais, realizados por cineastas de diferentes regiões do Brasil. A seleção evidencia a riqueza estética e a potência poética das contribuições das mulheres ao cinema documental, destacando a diversidade de vozes e abordagens que marcaram – e seguem marcando – esse campo do audiovisual.
Se, como afirmou a montadora Vânia Debs, a história do cinema brasileiro é, em grande medida, a história dos filmes de ficção, é no documentário que as cineastas brasileiras encontraram, historicamente, um espaço mais amplo para criação e expressão. Com foco nesse gênero, a mostra apresenta obras fundamentais para compreender o cinema realizado por mulheres no Brasil, combinando títulos consagrados com filmes que vêm sendo redescobertos e valorizados nos últimos anos.
O público terá a oportunidade de assistir a “A Entrevista” (1967), marco do cinema brasileiro moderno e da primeira geração de documentaristas brasileiras. O primeiro curta dirigido por Helena Solberg – cineasta com carreira expressiva, composta por quinze documentários e duas ficções – será exibido ao lado de seu trabalho mais recente, “Um Filme para Beatrice” (2024), em que revisita sua trajetória cinematográfica à luz das lutas feministas no Brasil. A programação traz três sessões dedicadas à diretora.
Outras cineastas que, como Solberg, iniciaram suas carreiras durante a ditadura civil-militar estão presentes na mostra. Entre elas, Eunice Gutman, cuja filmografia, marcada por um viés declaradamente feminista desde os anos 1980, será representada por quatro curtas realizados ainda sob o regime ditatorial. Os filmes abordam temas sensíveis e polêmicos, como o aborto, as performances de gênero e a participação das mulheres na política.
A curadoria também inclui uma sessão de curtas de Norma Bahia Pontes e Rita Moreira, pioneiras no uso do vídeo nos anos 1970 e na abordagem aberta e sem tabus da lesbianidade. Um dos pontos altos desta sessão é a exibição inédita da nova cópia digital de “Bahia Camará” (1968), filme que permaneceu por décadas inacessível ao público. Será também a estreia das novas cópias de três curtas da paraibana Vânia Perazzo recém digitalizados pelo Cine Limite. Já a pernambucana Kátia Mesel, autora de mais de 300 obras – majoritariamente documentais –, terá sua produção representada pela cópia restaurada de “Recife de Dentro pra Fora” (1997), uma adaptação audiovisual do poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, que revela o olhar poético e singular da diretora sobre a capital pernambucana.
A mostra propõe um diálogo entre a primeira geração de diretoras – em sua maioria ainda em atividade – e cineastas mais jovens, cujos trabalhos vêm renovando a linguagem do documentário e conquistando destaque em circuitos internacionais. É o caso de Maria Augusta Ramos e o seu longa “Justiça” (2004), que será exibido em 35mm. Outro destaque é “Racionais: das Ruas de São Paulo pro Mundo” (2022), de Juliana Vicente, que se tornou um dos filmes mais assistidos no streaming no Brasil e será exibido na tela externa da Cinemateca, antecedido pelo seu curta “As Minas do Rap” (2015).
Um traço marcante dos documentários contemporâneos é o borramento das fronteiras entre quem representa e quem é representado. Muitas das diretoras tornam-se personagens de seus filmes, construindo narrativas pessoais e íntimas. É o caso de Tila Chitunda, diretora e produtora pernambucana, filha de pais refugiados angolanos. A partir de um olhar sensível sobre a memória e a trajetória de sua família, sua obra aborda temas como as relações entre África e Brasil, as diásporas negras e o racismo. Outro exemplo é Patrícia Ferreira Pará Yxapy, uma das vozes mais atuantes e reconhecidas no cinema indígena. Seu filme “Teko Haxy – Ser Imperfeita” (foto, 2018), codirigido por Sophia Pinheiro, traz ao público da mostra um encontro íntimo entre as duas cineastas, que se filmam mutuamente, expõem seus conflitos e revelam diferenças e afinidades na justeza de suas imagens.
A mostra Documentaristas Brasileiras: 7 Décadas de História reúne diretoras com sólidas carreiras no campo do documentário. Os 34 títulos selecionados revelam a pluralidade de estilos, temas abordados, origens geográficas e inovações de linguagem ao longo de quase 60 anos de produção documental realizada por mulheres no Brasil. A mostra será acompanhada do curso homônimo, com duas aulas ministradas pelas pesquisadoras e professoras Mariana Tavares e Karla Holanda.
As diretoras incluídas na curadoria são: Eliza Capai, Eunice Gutman, Helena Solberg, Jorane Castro, Juliana Vicente, Kátia Mesel, Lúcia Murat, Maria Augusta Ramos, Norma Bahia Pontes, Patrícia Ferreira Pará Yxapy, Rita Moreira, Susanna Lira, Tila Chitunda e Vânia Perazzo.
A programação é gratuita. Os ingressos serão distribuídos uma hora antes de cada sessão e o curso terá inscrições prévias pelo site da Cinemateca Brasileira, a partir do dia 19 de maio, às 10h.
O curso será transmitido ao vivo no Youtube da Cinemateca Brasileira e contará com tradução simultânea em Libras. Serão duas aulas, 4 e 6 de junho, uma focada na trajetória de Helena Solberg, com a prof. Mariana Tavares, e outra com um panorama geral da produção de documentários por mulheres no Brasil, com a prof. Karla Holanda. As inscrições devem ser feitas no link.
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