Cinemateca Brasileira apresenta a mostra Resistências Cinematográficas
Em 2023, a Cinemateca Brasileira organizou sua primeira edição da mostra itinerante A Cinemateca é Brasileira. A programação percorreu o país levando filmes que perpassam diferentes momentos históricos e propostas estéticas ao longo de mais de 120 anos de história.
Diante do sucesso do projeto e do aumento crescente de interessados em receber a programação, a Cinemateca realiza sua segunda edição, A Cinemateca é Brasileira – Resistências Cinematográficas. A curadoria inclui longas e curtas-metragens que demonstram a riqueza do cinema brasileiro e múltiplas abordagens da sua vocação democrática e resistência a retrocessos autoritários, em especial, a ditadura militar que teve início há 60 anos.
Após percorrer 25 cidades e atingir um público de cerca de 20 mil pessoas em suas duas edições, a mostra A Cinemateca é Brasileira fará também uma passagem pela sede da Cinemateca, em São Paulo, entre os dias 10 e 14 de setembro.
As ações de itinerância da Cinemateca pelo Brasil fazem parte do Projeto Viva Cinemateca, lançado em 2023, que reúne os grandes projetos da instituição voltados à recuperação de importantes acervos, além da modernização de sua sede e infraestrutura técnica.
As ficções, documentários e animações selecionadas para esta edição abordam direta e indiretamente os períodos de repressão tão recorrentes na história do país. Diversos episódios da ditadura militar e o golpe de 1964 são tema da maioria dos títulos. O filme de abertura, “Ainda Estou Aqui” (2024), de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, aborda o desaparecimento forçado do deputado Rubens Paiva e a luta que se seguiu, por parte de sua esposa, Eunice Paiva, por respostas e justiça. As torturas praticadas pela ditadura são evidentes na versão não censurada de “Jardim de Guerra” (1968), de Neville d’Almeida, e nos importantes relatos presentes nos filmes “Libertação de Inês Etienne Romeu” (1979), de Norma Bengell, “Torre” (2017), de Nádia Mangolini, e “Vala Comum” (1994), de João Godoy. Por sua vez, os horrores praticados contra os povos indígenas, ainda pouco conhecidos, são denunciados no filme “Arara: um Filme sobre um Filme Sobrevivente” (2017), de Lipe Canêdo.
Já a atmosfera de tensão e a mentalidade dessa época são contextualizadas nas entrelinhas do documentário de Arnaldo Jabor, “A Opinião Pública” (foto, 1966), e na ironia de “Pra Frente Brasil” (1982), de Roberto Farias. Já a luta do movimento operário por melhores condições de trabalho e pela redemocratização do país é ficcionalizada por Leon Hirszman em “Eles Não Usam Black Tie” (1981).
A mostra oferece também alegorias políticas que examinam a complexidade das estruturas de poder e a opressão. Na fictícia nação latino-americana de Eldorado, Glauber Rocha reflete as tensões políticas, sociais e culturais da época em seu clássico “Terra em Transe” (1967). Também ambientado em um país fictício na América Latina, o curta, baseado no conto homônimo de Olney São Paulo, “Manhã Cinzenta” (1969), critica o autoritarismo com imagens impressionantes das manifestações de rua de 1968.
A Cinemateca Brasileira fica no Largo Senador Raul Cardoso, 207, na Vila Mariana, em São Paulo. As sessões são gratuitas e os ingressos são distribuídos uma hora antes de cada sessão.
