CineSesc recebe mostra OJU de cinemas negros, destacando narrativas afro-brasileiras

Foto: “Malês”, de Antonio Pitanga © Vantoen PJR

Entre os dias 4 e 10 de setembro, o CineSesc (Rua Augusta, 2075, São Paulo) será palco de uma programação especial da 4ª edição da mostra OJU – Roda Sesc de Cinemas Negros, iniciativa do Sesc São Paulo, que celebra a força criativa e política do audiovisual negro. Durante esse período, o CineSesc exibirá 14 títulos selecionados para esta edição da mostra, entre ficções e documentários de diferentes regiões do Brasil – todos com ingressos a R$ 10. A mostra propõe um mergulho em narrativas que reinventam o país a partir da potência da negritude, com filmes que exploram temas como memória, identidade, resistência e ancestralidade.

A abertura, no dia 3, às 20h, terá a pré-estreia do filme “Suçuarana” (2024), de Clarissa Campolina e Sérgio Borges. No enredo, uma mulher de espírito nômade busca seu espaço no mundo. Dora, a protagonista, vive há mais de 10 anos pelas estradas brasileiras em busca de Suçuarana, uma terra desconhecida e misteriosa que sua falecida mãe mencionava. Por uma região mineradora, Dora vaga na procura desse espaço e de trabalho. Sua jornada se complica quando, após um acidente, a mulher reencontra um cachorro que havia abandonado. Entre as dificuldades e os riscos desse movimento constante, ele a guia até uma aldeia afastada de trabalhadores fabris onde Dora encontra abrigo e consolo temporário.

Outro destaque da mostra é “Malês” (2024), de Antonio Pitanga. Ambientado na Salvador de 1835, o longa resgata a Revolta dos Malês, a maior insurreição de pessoas escravizadas da história do Brasil. Com atuação de Antônio Pitanga e seus filhos Rocco Pitanga e Camila Pitanga, a narrativa acompanha um casal de jovens muçulmanos arrancados de sua terra natal na África e vendidos como escravos no Brasil. Enquanto lutam para sobreviver e se reencontrar, ambos se envolvem no maior levante de escravizados da história do país. A sessão será seguida de bate-papo com a equipe do filme.

Entre ficções e documentários, a mostra também traz retratos contemporâneos da juventude negra. Em “Greice” (2024), de Leonardo Mouramateus, acompanhamos uma jovem brasileira em Lisboa que, após um acidente, vê sua vida virar de ponta-cabeça e precisa encarar o retorno ao Brasil em busca de um lugar no mundo. Já em “Kasa Branca” (2024), de Luciano Vidigal, o foco recai sobre Dé, adolescente da Chatuba, no Rio de Janeiro, que enfrenta a iminência da perda da avó com Alzheimer, ao lado dos amigos que o ajudam a atravessar essa fase de descobertas e afetos.

Entre os documentários, “Tijolo por Tijolo” (2024), de Victoria Alvares e Quentin Delaroche, acompanha Cris, moradora do Ibura, em Recife, que enfrenta o desemprego, a perda da casa e a chegada de um quarto filho em meio à pandemia. Entre a luta por uma laqueadura e o trabalho como microinfluenciadora digital, Cris busca reconstruir sua vida e a de sua família.

O poder da negritude na música brasileira também é retratado em uma série de documentários. Em “Brasiliana – O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo” (2024), o diretor Joel Zito Araújo recupera a história do espetáculo idealizado por Haroldo Costa, que entre as décadas de 1950 e 1960 levou a música, a dança e a cultura afro-brasileira para plateias de mais de 90 países, tendo como estrela a pioneira Mercedes Baptista.

O CineSesc também exibe “Milton Bituca Nascimento” (2025), de Flávia Moraes, documentário que acompanha a turnê de despedida do artista e mergulha na espiritualidade e na dimensão universal de sua obra. Já “Luiz Melodia – No Coração do Brasil” (2024), de Alessandra Dorgan, traz um retrato íntimo e poético da vida e obra do cantor e compositor, construído a partir de materiais raros e inéditos.

“Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinicius” (2024), de Emílio Domingos, revisita a criação do clássico disco de 1966 e sua importância para a música brasileira. Filmado entre Salvador e Rio de Janeiro, o documentário reúne imagens de arquivo e entrevistas exclusivas com Maria Bethânia, Dori Caymmi, Russo Passapusso e Nelson Motta. O documentário “3 Obás de Xangô” celebra a amizade e o legado cultural de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, pilares da construção do imaginário baiano e da valorização das raízes afro-brasileiras.

As ações formativas gratuitas Cinema Revelado, com Chica Andrade, e O Processo de Construção do Documentário, com Emílio Domingos, oferecem ao público a oportunidade de mergulhar em duas trajetórias singulares do audiovisual brasileiro. Interessados podem se inscrever pelo aplicativo Credencial Sesc SP ou pelo site sescsp.org.br.

Enquanto Chica compartilha os bastidores e desafios de seu longa em produção “House of Hilton”, revelando estratégias criativas e pessoais para transformar obstáculos em potência narrativa, Emílio conduz os participantes por cada etapa da elaboração de um documentário, do surgimento da ideia às filmagens em campo, trazendo sua experiência em retratar culturas urbanas, juventudes e expressões artísticas. Juntas, as atividades aproximam diferentes olhares sobre o fazer documental, convidando à reflexão sobre formas de contar histórias e à valorização do processo criativo como espaço de experimentação e transformação.

Com o encerramento da mostra OJU, dá-se início ao Francos Diálogos – Ciclo de cinema francófono e emergência socioambiental, com uma programação que é parte da Temporada França-Brasil 2025. Na sessão gratuita de abertura, na quarta, 10/09, será apresentado o documentário “As Guardiãs do Planeta” (2023), de Jean-Albert Lièvre, que acompanha a luta pela vida de uma baleia jubarte que encalha em uma costa remota.

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