Por trás da cachoeira

Numa colônia de férias juvenil, em que meios de comunicação como telefone e internet não são acessíveis, Laura tenta se enturmar ao mesmo tempo em que é perturbada por uma história: uma adolescente que se descobre grávida vai escondida para a cachoeira para abortar em segredo; ela morre e vira um fantasma que assombra a colônia. A premissa de “O Bom Comportamento”, quarto curta de Eva Randolph, selecionado para a competição do Festival de Locarno e premiado como melhor filme da mostra Novos Rumos, do Festival do Rio, vem da própria experiência de Eva ao frequentar uma colônia de férias católica. “Sendo uma adolescente judia, sempre senti que existia ali algo que era estranho e interessante. Não era nem apenas por conta da diferença de religião, mas por uma série de coisas do comportamento em grupo, principalmente das meninas. De alguma forma, não queria fazer parte daquilo, mas tinha. Essa obrigação me fez pensar no filme, em como é ser parte de um grupo que você não quer ou não pertence”, explica a diretora, que filmou no interior do Rio de Janeiro, em Engenheiro Paulo de Frontin e em Miguel Pereira.

Eva Randolph buscava, em “O Bom Comportamento”, orçado em R$ 80 mil, falar sobre o rito de passagem, o amadurecimento. “Também li muito sobre mães adolescentes que deram seus filhos para adoção e depois se arrependeram. Interessava-me essa personagem de uma mãe jovem demais pro seu papel, que se arrepende, tem remorso”, comenta.

A história de fantasma do filme também vem da época em que a diretora frequentou as colônias de férias. “Queria muito pensar em como surge um fantasma, como alguém se torna ou encarna um fantasma. Pesquisei também um bocado sobre a mulher de branco, que é uma espécie de medeia. Interessava-me muito que fosse uma adolescente, vulnerável, com medo e que, por pressão social, não consegue pedir ajuda”, explica.

Para isso, Eva optou por filmar na hoje pouco tradicional janela 1.37:1, buscando emular, em diversos momentos, o ponto de vista de uma câmera de segurança. Segundo a diretora, era importante esse ponto de vista para que se pudesse perceber a força do grupo.

Depois de “O Bom Comportamento”, Eva prepara seu próximo curta, “Não me Prometa Nada”, filmado em março e participante do Shortfilm Station do Festival de Berlim. Neste ano, ela ainda pretende começar a escrever o argumento de seu primeiro longa, além de continuar o trabalho como montadora.

 

Por Gabriel Carneiro

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