Cesar premia o drama conjugal “Custódia”
“Custódia”, o perturbador drama conjugal de Xavier Legrand, foi o grande vencedor da quadragésima-quarta edição dos Prêmios Cesar, o “Oscar” francês, realizado em Paris, na sexta-feira, 22 de fevereiro. O filme, que registra a luta de uma mãe pela custódia do filho pequeno, vítima de um pai violento, levou 370 mil franceses aos cinemas. No Brasil, onde foi lançado em julho de 2018, vendeu 25 mil ingressos.
“Jusqu’ à la Garde” (até a guarda definitiva), nome original de “Custódia”, ganhou mais três troféus Cesar. O de melhor atriz, para Léa Drucker, intérprete da mãe obrigada a dividir a guarda do filho com o marido agressor, de roteiro original, de Xavier Legrand, e montagem, para Yorgos Lamprinos.
A comédia “Le Grain Bain”, de Gilles Lelouch, protagonizada por astros franceses (entre eles Mathieu Amalric, Jean-Hugues Anglade e Guillaume Canet) era o filme mais badalado da cerimônia do Cesar. Como “Custódia”, liderava a lista de indicações (dez cada um) e curtia o triunfo de ter vendido 4,2 milhões de ingressos. Ou seja, tornou-se a terceira maior bilheteria francesa do ano, só perdendo para o vencedor do Cesar do Público, “Les Tuches 3”, de Olivier Barou (5,7 milhões de espectadores), e “La Ch’tite Famille”, de Dany Boom (4,7 milhões).
Há que se registrar que, para ampliar a badalação em torno de “Le Gran Bain”, esta comédia dirigida por um ator famoso (Gilles Lelouch, de 46 anos) obteve boa recepção de parte significativa da crítica. A revista Positif e os jornais Libération e Le Figaro o brindaram com 4 estrelas (em 5), Les Inrock, com 3, e até a Cahiers du Cinéma, sempre avessa a filmes que buscam diálogo com o público, cravou duas. O filme conta a história de um grupo de homens maduros que se entregam a desafio singular: formar equipe vencedora de nado sincronizado.
Tantos trunfos não se fizeram notar na noite do Cesar. “Le Grain Bain”, ainda inédito no Brasil, só levou um mísero troféu: o de melhor ator coadjuvante para Phillipe Katerine.
Depois do vencedor “Custódia”, o filme mais laureado foi “Les Frères Sisters”, um western de Jacques Audiard, diretor de sete longas, entre eles “De Tanto Bater meu Coração Parou”, “O Profeta” e “Dheepan – O Resgate”, vencedor de uma das Palmas de Ouro mais questionadas da história de Cannes. O western protagonizado por Joaquim Phoenix e John C. Really, rendeu o Cesar de melhor direção a Audiard, o de melhor fotografia a Benoît Debie, o de melhor som a Brigitte Tailladier, Valérie De Loof e Cyril Holtz, e melhor cenografia a Michel Berthélémy.
“Custódia” era tido como o favorito também na categoria melhor filme de diretor estreante. Mas o vencedor foi “Shéhérazade”, de Jean-Bernard Marlin, drama sobre jovens infratores de Marselha. Para completar, seus protagonistas, os adolescentes Kenza Fortas e Dylan Robert, foram escolhidos como “meilleur espoir”, ou seja, melhor atriz e ator estreantes (vistos como esperança/promessa).
A melhor animação em longa-metragem ficou com o sétimo filme de Michel Ocelot, “Dilili à Paris”. O cineasta, de 75 anos, tem sua obra exibida e cultivada no circuito de arte brasileiro graças, especialmente, aos exibidores Patrícia Durães e Adhemar Oliveira, que aqui lançaram suas primeiras obras (incluindo “Kiriku e a Feiticeira” e “As Aventuras de Azur e Aznar”).
Na categoria melhor filme estrangeiro, o Cesar confirmou o veredito do Festival de Cannes, que atribuiu a Palma de Ouro ao japonês “Um Assunto de Família”, de Hirozaku Kore-Eda. Este filme, que já vendeu 55 mil ingressos no Brasil, derrotou os belgas “Girl”, de Lukas Dhont, e “A Nossa Espera”, de Guillaume Senez, o libanês “Cafarnaum”, de Nadine Labaki, o polonês “Guerra Fria”, de Pawell Pawlikowski, o britânico “Hannah”, de Andrea Pallaoro, e “Três Anúncios para um Crime”, de Martin McDonagh, dos EUA. Detalhe importante: o mexicano “Roma”, de Alfonso Cuarón, vencedor de Veneza e do Bafta, o “Oscar” britânico, foi ignorado pelo Cesar, por tratar-se de lançamento da Netflix. Ou seja, de filme que não foi lançado comercialmente no circuito exibidor francês.
A cerimônia da Academia Francesa de Cinema 2019 foi presidida pela atriz inglesa Kristin Scott-Thomas, de “O Paciente Inglês”, e entregou um Cesar especial ao ator, diretor (“Reds”) e criador do Sundance Festival, Robert Redford.
Parte da crítica francesa indignou-se com a falta de reconhecimento aos filmes “Conquistar, Amar e Viver”, de Christophe Honoré (já lançado no Brasil), “En Liberté!”, de Pierre Salvadori (protagonizado por Adele Haenel) e “Sauvage”, da estreante Camile Vidal-Naquet. Houve também espanto com a ausência, entre os premiados, de “Pupile”, de Jeanne Herry (nove indicações) e “La Douleur” (“Memórias da Dor”), de Emmanuel Finkiel (indicado nas principais categorias, incluindo melhor filme e direção).
Ano passado, o Cesar consagrou o arrebatador “120 Batimentos por Minuto”, de Robin Campillo, sobre a luta coletiva de homossexuais franceses indignados com a indiferença de autoridades sanitárias no combate à Aids. Este ano, o foco recaiu sobre dramas sociais, como “Custódia” e “Shéhérazade”.
Confira os vencedores do Cesar 2019:
. “Custódia” – melhor filme, atriz (Léa Drucker), roteiro original (Xavier Legrand), montagem (Yorgos Lamprinos)
. “Les Frères Sisters”– melhor direção (Jacques Audiard), fotografia (Benoît Debie), som (Tailladier, De Loof & Holtz), cenografia (Michel Berthélémy)
. “Shéhérazade”, de Jean-Bernard Marlin – melhor filme de diretor estreante, melhor atriz estreante-promessa (Kenza Fortas), e ator estreante (Dylan Robert)
. “Dilili à Paris”, de Michel Ocelot – melhor longa de animação
. “Ni Juge, Ni Soumise”, de Jean Libon e Yves Hinat – melhor longa documental (disponível na Netflix, sobre juíza belga de procedimentos pouco comuns e politicamente incorreta)
. “Um Assunto de Família”, de Hirozaku Kore-Eda – melhor filmes estrangeiro
. “Guy” – melhor ator (Alex Guy), música original (Vincent Blanchard e Romain Greffe)
.“La Chatouille” – melhor roteiro adaptado (Andréa Bescond & Eric Métayer), atriz coadjuvante (Karin Viard)
. “Le Grain Bain”, de Gilles Lelouch – melhor ator coadjuvante (Phillipe Katerine)
. “Mademoiselle de Joncquières” – melhor figurino (Pierre-Jean Larroque)
. “Les Tuches 3”, de Olivier Barou – Prêmio do Público
. “Vilaine Fille” – melhor curta de animação
Por Maria do Rosário Caetano
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