Cinema da África enriquece a programação on-line do CineSesc
Por Maria do Rosário Caetano
Os festivais de cinema, desde que a epidemia da Covid-19 espalhou-se pelo mundo, vão multiplicando-se pelo espaço virtual. Agora, chegou a vez da Mostra de Cinema Africano (Cine África), que, ano passado, em versão presencial, causou frisson no CineSesc, levando público novo e interessado à sala da Rua Augusta paulistana.
A partir desta quinta-feira, 10 de setembro, o Cinema em Casa, projeto criado pelo Sesc para exibições audiovisuais de várias procedências geográficas, mostrará, ao longo de doze semanas, dez longas-metragens e dois programas de curtas. Todos serão exibidos gratuitamente e legendados em português.
Foram selecionados filmes oriundos de Burkina Faso, Camarões, Etiópia, Quênia, Senegal, Sudão e, claro, do Egito e Nigéria, que formam, com a África do Sul, a trinca responsável pela maior produção audiovisual do continente. O Egito exibiu, semanas atrás, a potência de seus cineastas em mostra promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil. A Nigéria, o país mais populoso da África, segue chamando atenção por sua capacidade de produzir filmes muito baratos (“no budget”) e, mesmo assim, mobilizar grandes plateias. Passou a ser conhecida como a Nollywood (na esteira da Bollywood indiana e da Caliwood colombiana).
Os espectadores espalhados por todo o território brasileiro poderão assistir aos filmes sem que haja limitação de acessos. Esse dado é importante, porque produtores de filmes inéditos fazem questão de preservar suas obras. Ou seja, impedir que esgotem seus potenciais espectadores em uma só vitrine.
Ana Camila Esteves, curadora e diretora da Mostra de Cinema Africano, lembra que só entrarão em cartaz os filmes cujos produtores aceitaram a regra do projeto Cinema em Casa, do CineSesc – não impor limite de visualizações. “Felizmente” – conta a curadora –, “depois de muitas negociações com agências e produtoras, conseguimos chegar a um bom entendimento”. Em seus primeiros meses em funcionamento, os filmes programados pelo Cinema em Casa do Sesc já foram vistos por mais de 500 mil pessoas.
Em coletiva de imprensa sobre a formatação on-line do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários (de 24 de setembro a 4 de outubro), ocorrida na manhã de quarta-feira, 9 de setembro, Amir Labaki explicou que “o padrão internacional prevê média de mil a 1.500 acessos virtuais” para filmes selecionados. Será, portanto, assim, que os interessados de todo o território brasileiro poderão assistir aos documentários do festival paulistano: mil acessos para produções estrangeiras e 1.500 para brasileiras.
Renata Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (de 21 a 31 de outubro), conseguiu ampliar o alcance dos filmes, tanto brasileiros, quanto estrangeiros. Ela contou ao Boletim Filme B, que os produtores queriam limitar o acesso a 1.300 espectadores. Depois de muita negociação, a margem foi ampliada.
A mostra Cine África será, pois, favorecida, já que sua direção conseguiu negociar caso a caso. Os espectadores interessados em conhecer o cinema das várias Áfricas (a do Magreb, a árabe, a do centro e do sul) poderão desfrutar, também, de entrevistas com realizadores e produtores, de um curso virtual com duração de três meses (“Cinemas Africanos: Trajetórias e Perspectivas”), de um “Cinema da Vela” especial e, também, virtual (“Cinemas Africanos em Contexto Digital”) e, ao final, de um e-book. Ao invés de catálogo, o público poderá ler coletânea de críticas e ensaios sobre todos os filmes exibidos.
A cada uma das próximas doze quintas-feiras, a Mostra de Cinema Africano estreará um filme novo. Cada título será disponibilizado por uma semana na plataforma do Sesc, acompanhado de entrevista exclusiva com um integrante de sua equipe artística.
O longa-metragem escalado para a abertura, nessa quinta-feira, é “Fronteiras” (Burkina Faso, 2017), da diretora Apolline Traoré. Trata-se de drama social em clima de road movie, que acompanha perigosa viagem de quatro mulheres, do Senegal à Nigéria.
Ana Camila Esteves explica que, ao escolher os filmes, privilegiou produções recentes, realizadas nos últimos cinco na África e sua diáspora. Muitos deles passaram por festivais internacionais. Mesmo assim, não foram lançados no Brasil. A safra de curtas foi selecionada por duas mulheres. A produtora Nadia Denton buscou-os no projeto “Beyond Nollywood”, com foco em narrativas e registros da Nigéria atual. A jornalista franco-burquinense Claire Diao, pautou-se em suas escolhas focadas na poderosa vertente do Afrofuturismo (“Quartiers Lointains”).
Mostra Cine África, no projeto Cinema em Casa, do Sesc
Ao longo de doze quintas-feiras, serão exibidos dez longas-metragens e dois programas de curtas. Exibição ao longo de uma semana (cada título), na plataforma Cinema #emcasacomsesc. Com debates, curso, Cinema da Vela e e-book.
Mais informações no site:mostradecinemasafricanos.com
PROGRAMAÇÃO
. Setembro
10/09 (qui) – “Fronteiras”, de Apolline Traoré (Burkina Faso, 2017) – Drama – 91 min;
17/09 (qui) – “O Enredo de Aristóteles”, de Jean-Pierre Bekolo (Camarões, 1996) – Comédia – 71 min;
24/09 (qui) – “aKasha”, de hajooj kuka (Sudão, 2019) – Comédia – 78 min;
.Outubro
01/10 (qui) – “Lua Nova”, de Philippa Ndisi-Hermann (Quênia, 2019) – Documentário – 70 min;
02/10 (sex), às 17h – Cinema da Vela – com o tema Cinemas africanos em contextos digitais. Participantes: Ana Camila Esteves (Brasil), Marina Gonzaga (Brasil/França) e Jorge Cohen (Angola).
08/10 (qui) – “O Fantasma e a Casa da Verdade”, de Akin Omotoso (Nigéria, 2019) – Drama – 107 min;
15/10 (qui) – “Rosas Venenosas”, de Fawzi Saleh (Egito, 2018) – Drama – 70 min;
22/10 (qui) – “Madame Brouette”, de Moussa Sene Absa (Senegal, 2002) – Drama – 101 min;
29/10 (qui) – “Beyond Nollywood – Sofrendo e Sorrindo” (Nigéria) – Programa de curtas – 99 min;
. Novembro
05/11 (qui) – “Nada de errado”, de vários diretores (Suíça, 2019) – Documentário – 49 min;
12/11 (qui) – “O Preço do Amor”, de Hermon Hailay (Etiópia, 2015) – Drama – 99 min;
19/11 (qui) – “Quartiers Lointains – Afrofuturismo” (diáspora francesa) – Programa de curtas – 100 min.
26/11 (qui) – “Supa Modo”, de Likarion Wainaina (Quênia, 2018) – Drama – 74 min.
. Cinema da Vela (02/10 às 17h)
Tema: Cinemas africanos em contextos digitais. Participantes: Ana Camila Esteves (Brasil), Marina Gonzaga (Brasil/França) e Jorge Cohen (Angola). No canal do Cinesesc no YouTube: https://www.youtube.com/CineSesc
. Curso
Com duração de três meses. Inscrições gratuitas, abertas a partir dessa quinta, 10 de setembro. 35 vagas. Facilitadores: Ana Camila Esteves, Jusciele Oliveira, Morgana Gama e Marcelo Ribeiro. Inscrições em: https://inscricoes.sescsp.org.br/online
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