Bafta destaca “Duna”, “Ataque dos Cães”, “Belfast” e cinema feminino
Por Maria do Rosário Caetano
O Bafta, irmão gêmeo do Oscar, por falar a mesma língua (o inglês) e tratar filmes da ex-colônia, os EUA, como prata-da-casa, chama atenção este ano por voltar os olhos também ao cinema da Europa. Justo no momento em que a Inglaterra, por causa do Brexit, não faz mais parte da Comunidade Econômica Europeia.
Os cinco finalistas na categoria melhor filme são grandes produções vindas dos EUA e da Grã-Bretanha. “Duna”, de Denis Villeneuve é o recordista de indicações (onze). Em segundo lugar vem “Ataques dos Cães”, de Jane Campion (com oito), e em terceiro, o irlandês “Belfast”, de Kenneth Branagh (com seis). Completam a lista, “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson, e a distopia “Não Olha para Cima”, de Adam McKay.
Só que, na hora de eleger os finalistas na categoria melhor direção, o BFI (British Film Institute) e a comunidade cinematográfica inglesa chutaram o pau da barraca. Abriram espaço nobre para duas francesas – Julia Ducournau, que triunfou no Festival de Cannes, com “Titane”, e Audrey Diwan, que venceu Veneza com “L’Événement”(“O Acontecimento”). Outra realizadora marca presença na lista – a neozelandesa Jane Campion, responsável pelo favoritíssimo “Ataque dos Cães”, neo-western que vem encantando o mundo e conquistando dezenas de prêmios. E mais uma surpresa: o japonês Ryûsuke Hamaguchi, além de encabeçar a lista de candidatos a melhor filme em língua não-inglesa, com o festejadíssimo “Drive my Car”, concorre ao Bafta de diretor. Completam a lista o britânico de origem paquistanesa Aleem Khan (“After Love”) e o estadunidense Paul Thomas Anderson (“Licorice Pizza”). Pelo menos nessa categoria, a hegemonia de Hollywood não se fez, dessa vez, avassaladora.
O Bafta conta com categoria especial para o cinema britânico, ou seja, filmes feitos nos países ligados ao Reino Unido (pelo menos o que sobrou do Grande Império que não via o sol se por, tamanhas eram suas dimensões). São dez os concorrentes desse ano.
O mais badalado de todos é “Belfast”, tanto que recebeu seis indicações, incluindo a de melhor filme (junto com os grandões de Hollywood), mas “After Love”, de Aleem Khan, está bem cotado. E há os descoladíssimos “Casa Gucci”, de Ridley Scott, com Lady Gaga e elenco estelar, e “007 – Sem Tempo para Morrer”, tão british quanto a Rainha Elizabeth, no trono há 70 anos, e o chá das cinco. Completam a safra local “Cyrano”, de Joe Wright, “Ali & Ava”, de Clio Barnard, “Boiling Point”, de Philip Barantini, “Todos Estão Falando de Jamie”, de Jonathan Butterell , “Noite Passada em Soho”, de Edgard Wright, e “Identidade”, de Rebecca Hall. Este filme, disponível no streaming, tem suas duas atrizes concorrendo a protagonista (Tessa Thompson) e coadjuvante (a modelo Ruth Negga). A primeira interpreta uma mulher negra, inserida na comunidade afro-americana de Nova York e casada com um médico, também negro. Ela vive os sobressaltos de um país racista. Certo dia, reencontra amiga de outrora, de pele clara, que se faz passar por branca e casa-se com anglo-saxão que tem horror a negros. Baseado no livro “Passing”, de Nella Larsen.
Na categoria filme estrangeiro, há que se notar que os britânicos apaixonaram-se por três filmes: o japonês “Drive my Car”, que colocou Ryûsuke Hamaguchi também na lista de candidatos a melhor diretor e melhor roteirista, “A Mão de Deus”, de Paolo “A Grande Beleza” Sorrentino, que aparece também na categoria melhor elenco coletivo, e o norueguês “A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier, que emplacou sua protagonista Renate Reinsve (Palma de Ouro em Cannes) na categoria melhor atriz. Este filme, aliás, entrou na lista de produções estrangeiras do César, mas com título menos assustador: “Julie (en 12 Chapitres)”. Ou seja, a vida sexual e amorosa da jovem e libérrima Júlia, moradora de Oslo, contada em doze capítulos.
Já o espanhol Pedro Almodóvar e seu tocante “Madres Paralelas” não emplacou o belíssimo trabalho de Penélope Cruz (Coppa Volpi em Veneza). Só cravou vaga na categoria de filme em língua não-inglesa, mesmo caso da francesa Céline Sciamma, com “Pequena Mamãe”. Esse ano, a França tem espaço nobre no Bafta, coisa raríssima de acontecer. E com três diretoras.
O “Oscar britânico” recebeu pesadas críticas em edições anteriores (e recentes) por ignorar profissionais negros. Este ano, além das duas atrizes de “Identidade”, há astros black como Will Smith, candidato a melhor ator por “King Richard: Criando Campeãs”, e, na mesma categoria, o ator Mahershala Ali, por “A Canção do Cisne”. Aunjanue Ellis, concorre a atriz coadjuvante pelo papel da compreensiva esposa do obstinado King Richard em “Criando Campeãs”. Vale lembrar, também, que Adeel Akhtar, protagonista de “Ali & Ava” e concorrente a melhor ator, é britânico, mas de origem paquistanesa. E há o badaladíssimo documentário “Summer of Soul (… ou, Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada)”, de Quest Love, conhecido como o “Woodstock black”, com grandes chances de triunfar na categoria não-ficcional.
Duas grandes produções holywoodianas, dirigidas por vencedores do Oscar – “Amor, Sublime Amor”, de Steven Spielberg, e “O Beco do Pesadelo”, de Guillermo del Toro – ambas de altíssimo custo, mas com desempenho sofrível nas bilheterias, não receberam grande atenção do votantes do prêmio britânico. Tiveram poucas (e secundárias) indicações.
As estatuetas da edição número 75 do Bafta serão entregues em Londres, no dia 13 de março, duas semanas antes do Oscar de Hollywood.
Confira os indicados:
Melhor filme
“Belfast”, de Kenneth Branagh
“Ataque dos Cães”, de Jane Campion
“Duna”, de Denis Villeneuve
“Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson
“Não Olhe para Cima”, de Adam McKay
Melhor filme britânico
“Belfast”, de Kenneth Branagh
“After Love”, de Aleem Khan
“Ali & Ava”, de Clio Barnard
“Boiling Point”, de Philip Barantini
“Cyrano”, de Joe Wright
“Identidade”, de Rebecca Hall
“Todos Estão Falando sobre Jamie”, de Jonathan Butterell
“Casa Gucci”, de Ridley Scott
“Noite Passada em Soho”, de Edgard Wright
“007 – Sem Tempo para Morrer”, de Cary Fukunaga
Melhor filme de língua não-inglesa
“Drive my Car”, de Ryûsuke Hamaguchi (Japão)
“A Mão de Deus”, de Paolo Sorrentino (Itália)
“A Pior Pessoa do Mundo”, de Joachim Trier (Noruega)
“Mães Paralelas”, de Pedro Almodóvar (Espanha)
“Pequena Mamãe”, de Céline Sciamma (França)
Melhor direção
Julia Ducournau, por “Titane” (França)
Audrey Diwan, por “L’Evenement”(França)
Jane Campion, por “Ataque dos Cães” (Nova Zelândia/EUA)
Ryûsuke Hamaguchi, por “Drive my Car” (Japão)
Aleem Khan, por “After Love” (Inglaterra)
Paul Thomas Anderson, por “Licorice Pizza” (EUA)
Melhor documentário
“Summer of Soul (… ou, Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada)”, de Quest Love (EUA)
“Becoming Cousteau”, de Liz Garbus (EUA)
“Cow”, de Andrea Arnold (Inglaterra)
“A Fuga” (“Flee”), de Jonas Poher Rasmussen (Dinamarca)
“The Rescue” (O Resgate) – de Jimmy Chin e Elisabeth Chai Vaserhelyi (EUA-Inglaterra)
Melhor animação
“Encanto”, de Byron Howard e Jared Bush (EUA)
“Luca”, de Enrico Casarosa (EUA)
“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, de Michael Rianda (EUA)
“A Fuga” (“Flee”), de Jonas Poher Rasmussen (Dinamarca)
Melhor atriz
Tessa Thompson, por “Identidade”
Emilia Jones, por “No Ritmo do Coração”
Renate Reinsve, por “A Pior Pessoa do Mundo
“Lady Gaga, por “Casa Gucci”
Alana Haim, por “Licorice Pizza”
Joanna Scanlan, por “After Love”
Melhor ator
Adeel Akhtar, por “Ali & Ava”
Mahershala Ali, por “A Canção do Cisne’
Will Smith, por “King Richard: Criando Campeãs”
Benedict Cumberbatch, por “Ataque dos Cães”
Leonardo DiCaprio, por “Não Olhe para Cima”
Stephen Gragam, por “Boiling Point”
Melhor atriz coadjuvante
Ruth Negga, por “Identidade”
Citriona Balfe, por “Belfast”
Jessie Buckley, por “A Filha Perdida”
Ariana DeBose, por “Amor, Sublime Amor”
Ann Dowd, por “Mass’
Aunjanue Ellis, por “King Richard: Criando Campeãs”
Melhor ator coadjuvante
Troy Kotsur, por “No Ritmo do Coração”
Mike Faist, por “Amor, Sublime Amor”
Ciarán Hinds, por “Belfast”
Woody Norman, por “Sempre em Frente”
Jesse Plemons, por “Ataque dos Cães”
Kodi Smit-McPhee, por “Ataque dos Cães”
Melhor elenco conjunto
“A Mão de Deus”
“Boiling Point”
“Duna”
“King Richard: Criando Campeãs”
“Amor, Sublime Amor”
Melhor roteiro original
“Apresentando os Ricardos” (Aaron Sorkin)
“Belfast” (Kenneth Branagh)
“Não Olhe para Cima” (Adam McKay)
“King Richard: Criando Campeãs” (Zach Baylin)
“Licorice Pizza” (Paul Thomas Anderson)
Melhor roteiro adaptado
“No Ritmo do Coração” (Siân Heder)
“Drive my Car” (Ryûsuke Hamaguchi)
“Duna” (Denis Villeneuve)
“A Filha Perdida” (Maggie Gyllenhaal)
“Ataque dos Cães” (Jane Campion)
Melhor trilha sonora
“Apresentando os Ricardos” (Daniel Pemberton)
“Não Olhe para Cima” (Nicholas Britell)
“Duna” (Hans Zimmer)
“A Crônica Francesa” (Alexandre Desplat)
“Ataque dos Cães” (Jonny Greenwood)
Melhor fotografia
Greig Fraser, por “Duna”
Dan Laustsen, por “O Beco do Pesadelo”
Linus Sandgren, por “007 – Sem Tempo para Morrer”
Ari Wegner, por “Ataque dos Cães”
Bruno Delbonnel, por “A Tragédia de Macbeth”
Melhor montagem
“Belfast” (Úna Ní Dhonghaíle)
“Duna” (Joe Walker)
“Licorice Pizza” (Andy Jurgensen)
“007 – Sem Tempo para Morrer” (Tom Cross & Elliot Graham)
“Summer of Soul (… ou, Quando a Revolução Não Pode Ser Televisionada)” (Joshua L. Pearson)
Melhor design de produção
“O Beco do Pesadelo” (Tamara Deverell & Shane Vieau)
“Cyrano” (Sarah Greenwood & Katie Spencer)
“Duna” (Patrice Vermette & Zsuzsanna Sipos)
“A Crônica Francesa” (Adam Stockhausen & Rena DeAngelo)
“Amor, Sublime Amor” (Adam Stockhausen & Rena DeAngelo)
Melhor figurino
Jenny Beavan, por “Cruella”
Massimo Cantini Parrini, por “Cyrano”
Robert Morgan & Jacqueline West, por “Duna”
Milena Canonero, por “A Crônica Francesa”
Luis Sequeira, por “O Beco do Pesadelo”
Melhor cabelo e maquiagem
“Cruella”
“Cyrano”
“Duna”
“Os Olhos de Tammy Faye”
“Casa Gucci”
Melhor som
“Duna”
“Noite Passada em Soho”
“007 – Sem Tempo para Morrer”
“Um Lugar Silencioso: Parte II”
“Amor, Sublime Amor”
Melhores efeitos especiais
“Duna”
“Free Guy: Assumindo o Controle”
“Ghostbusters: Mais Além”
“Matrix Resurrections”
“007 – Sem Tempo para Morrer”
Melhor curta britânico em animação
“Affairs of the Art”
“Do Not Feed the Pigeons”
“Night of the Living Dead”
“The Black Cop”
“Femme”
“The Palace”
“Stuffed”
“Three Meetings of the Extraordinary Committee”
Melhor estreia de um roteirista, diretor ou produtor britânico
Rebecca Hall, por “Identidade”
Aleem Khan, por “After Love”
James Cummings & Hester Ruoff, por “Boiling Point”
Jeymes Samuel, por “Vingança & Castigo”
Posy Dixon & Liv Procter, por “Keyboard Fantasies”