Violeta Parra: revolucionária e inquieta

Talvez Violeta Parra não gostasse de assistir ao filme “Violeta Foi para o Céu”. Revolucionária e inquieta, talvez ela considerasse o filme de Andrés Wood conservador e esquemático demais para retratar uma personalidade tão contestadora. Talvez ela não tivesse gostado… Mas o público e os júris de diversos festivais de cinema pelo mundo têm aclamado “Violeta Foi para o Céu”.

Seguindo a linha das cinebiografias clássicas, o filme tem início com uma cena enigmática do final da vida da personagem, para logo em seguida reconstruir sua trajetória a partir de flashbacks fragmentados, fora da ordem cronológica.

Unindo as peças deste quebra-cabeça, o espectador fica sabendo que Violeta Parra foi muito mais que simplesmente a intérprete de “Volver a lós 17”. Cantora, compositora, folclorista, poeta, artista plástica, revolucionária e contestadora, ela carregava dentro de si a força avassaladora das utopias sociais tão presentes naqueles efervescentes anos 60.

Inegavelmente, há algo de “chapa branca” no filme. E nem poderia ser diferente, já que o roteirista Eliseo Altunaga (também roteirista de “Machuca”, do mesmo diretor Andrés Wood) desenvolveu seu trabalho baseado no livro homônimo de Ángel Parra, filho de Violeta. Mas a boa notícia é que “Violeta Foi para o Céu” não é uma tentativa de canonizar a cantora. Suas fraquezas e incertezas também dão as caras, principalmente em relação à sua insistência quase suicida de criar, no meio do nada, uma espécie de bar/restaurante libertário onde todos seriam livres para cantar e para se expressar artisticamente. Um microcosmo do que Violeta sonhava para o seu tão querido Chile.

Chamam a atenção também as respostas rápidas, inteligentes e cáusticas que a cantora disparava em entrevistas para a imprensa. Tudo isso somado à magnética interpretação de Francisca Gavilán e à bela fotografia em tons pastel, quase úmido, de Miguel Ioann Littin Menz, que fazem de “Violeta Foi para o Céu” um “papa prêmios”: já ganhou Sundance, Miami, Goya (como melhor filme ibero-americano) e, mais recentemente, Ceará.

O que não deixa de causar uma pontinha de orgulho ao cinema brasileiro que, através da Bossa Nova Filmes, entrou como coprodutor do filme, ao lado de Argentina e Chile.

Violeta Foi para o Céu | Violeta se Fue a los Cielos
(Chile, Brasil e Argentina, 2011, 110 min.)
Direção: Andrés Wood
Elenco: Francisca Gavilán, Cristián Quevedo, Thomas Durand, Luis Machín, Gabriela Aguilera, Roberto Farias, Patricio Ossa, Jorge López, Francisca Durán
Distribuição: Imovision

 

Por Celso Sabadin

One thought on “Violeta Parra: revolucionária e inquieta

  • 16 de dezembro de 2013 em 22:10
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    Acabei de assisti lo no telecine cult. Envolvente e no minimo inquietante. A instabilidade emocional, e suas oscilações de humor com certeza contribuiram para que a mesma tivesse uma vida criativa tão rica, mas tbem a levaram a tragédia.

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