Difícil regresso
Em junho último, no Cine Ceará, o cineasta Fernando Meirelles recebeu curiosa homenagem no plenário da Assembleia Legislativa do Estado. Parlamentares se somaram a estudantes de Cinema para avaliar os dez anos de “Cidade de Deus”, seu filme mais famoso e que, agora, dá origem a um longa documental, de Cavi Borges e Luciano Vidigal (“Cidade de Deus, Dez Anos Depois”). Finda a concorrida homenagem-debate, um pequeno grupo de jornalistas passou a discutir as razões de Meirelles não filmar mais no Brasil. Uns lembraram a facilidade de conseguir financiamentos na Europa (especialmente na Inglaterra) e outros, o fascínio que o mercado externo exerce sobre diretores brasileiros. Até que um, mais afoito, afirmou ter a razão mais justa: “medo”. Para esta voz, Meirelles evita o retorno ao cinema brasileiro, pois teme não conseguir realizar filme capaz de igualar ou suplantar “Cidade de Deus”. Ou seja, um filme capaz de impactar a crítica e transformar-se em sucesso de bilheteria (3,3 milhões de espectadores). Meirelles, que agora vai filmar “Nemesis”, cinebiografia do armador grego, Aristóteles Onassis, já realizou três longas internacionais (“O Jardineiro Fiel”, “Ensaio para a Cegueira” e “360”). Se há um componente de medo na atitude do realizador, por outro lado, há que se admitir que preserva certo atrevimento. Afinal, seu projeto brasileiro consiste em nada mais nada menos que levar às telas o romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Quem, 48 anos atrás, ousou fazê-lo (os irmãos Santos Pereira) fracassou. Na época, o crítico Sérgio Augusto escreveu: “ao invés de realizar um épico, os dois diretores fizeram um hípico”. Afinal, os cavalos corriam, em cena, para todos os lados.