Memória apagada

Depois de conquistar 73 mil espectadores com o documentário “A Música Segundo Tom Jobim”, Nelson Pereira dos Santos cuida do lançamento de “A Luz do Tom”. Desta vez, ele revisita a obra do grande compositor guiado pelas vozes de três mulheres fundamentais em sua vida: a irmã, Helena Jobim (que rememora a infância do artista), Thereza Hermanny (a primeira esposa, que evoca os tempos da juventude e grandes sucessos da fase áurea da Bossa Nova) e Ana Lontra Jobim (a segunda esposa, que viveu com Tom os anos da maturidade). A sequência inaugural do filme revela, em sua essência, uma calamidade. Ou seja, o descaso de nosso país com sua memória audiovisual. Depois de voo rasante por uma praia de imensa beleza, nossos olhos chegam ao Instituto Tom Jobim (no Jardim Botânico do Rio). Lá são mostradas imagens de pouca nitidez e som frágil. Vemos Tom conversando com Radamés Gnatalli. As imagens (muito precárias) fazem parte de especial que Nelson Pereira gravou, no início dos anos 80, para a Rede Manchete. Por que encontram-se em estado tão precário? O próprio Nelson responde: “porque a matriz desapareceu, não existe mais. A cópia disponível no Instituto Tom Jobim só existe porque o jornalista Chico Pinheiro (louco por MPB, tanto que apresenta o programa “Sarau”, na Globo News) gravou o programa em seu VHS”. Ironia do destino: se não fosse o jornalista da Globo, não teria sobrado nenhum vestígio do programa da Manchete.

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