45º Festival de Brasília acontece esta semana

O 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (17 a 24 de setembro) dividiu pela primeira vez a competição de 12 longas, entre ficção e documentário, e filmes de Pernambuco e Rio de Janeiro. Há quatro longas pernambucanos e “três filmes e meio” do Rio de Janeiro. São Paulo só emplacou um documentário. Mesmo caso de Minas, Paraná e Piauí. Esse movimento expressivo de filmes pernambucanos existe em razão de grandes investimentos do governo estadual. Estão em Brasília concorrendo ao cobiçado troféu Calunga e prêmios em dinheiro “Era uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes, “Boa Sorte, meu Amor”, de Daniel Aragão, e “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello. O quarto título é “Doméstica”, documentário de Gabriel Mascaro.

O Rio, historicamente o maior centro produtor de cinema do país, disputará o Candango com três ficções: “A Memória que me Contam”, de Lúcia Murat, “Noites de Reis”, de Vinícius Reis, e “Esse Amor que nos Consome”, de Allan Ribeiro. No terreno do documentário, o estado divide parceria com o Mato Grosso, território de origem do diretor Joel Pizzini e de seu personagem, Ney Matogrosso. “Olho Nu”, quarto longa de Pizzini (“500 Almas”, “Anabasys” e “Mr. Sganzerla”), é uma cinebiografia poética do cantor de “Sangue Latino”.

Com o cancelamento do Festival de Paulínia, Gramado e Brasília puderam montar programações com muitos filmes inéditos. Aliás, todos os títulos em longa-metragem, sem exceção, terão em Brasília sua primeira sessão pública. O festival abre dia 17 de setembro, com a exibição de “A Última Estação”, de Márcio Curi.

Política e novas experimentações

A seleção privilegiou filmes adeptos à experimentação de linguagem, de baixo ou médio orçamento, e que trazem nos créditos diretores jovens, como já é tradição neste festival. Só uma realizadora, Lúcia Murat, pode ser considerada a “veterana” desta maratona de filmes, que este ano será projetada nas telas do Teatro Nacional e não no tradicional Cine Brasília, em reforma. A politizada cineasta volta ao festival candango com Irene Ravache a seu lado. Juntas, elas foram premiadas em 1989, com “Que Bom te Ver Viva”. O novo filme, “A Memória que me Contam”, trará um ator internacional a Brasília, o italiano Franco Nero, astro do faroeste italiano nos anos 70, e marido da atriz Vanessa Redgrave. Nero participa, inclusive, do novo longa de Tarantino, “Django Unchained”, um western paródico. Lúcia, ex-guerrilheira de 62 anos, continua envolvida com o mundo da militância política. Depois do documentário “Uma Longa Viagem”, premiado no ano passado em Gramado, ela promete “um drama irônico sobre utopias e derrotas”.

A Memória que me Contam, de Lúcia Murat

Marcelo Gomes, de 48 anos, já foi premiado no Festival de Brasília com um curta, “Maracatu, Maracatus”. Agora, disputa o Candango pela primeira vez na categoria longa-metragem. E o faz com “Era uma Vez Eu, Verônica”, seu terceiro longa. Gomes é diretor de filmes premiadíssimos como “Cinema, Aspirina e Urubus” e “Viajo porque Preciso, Volto porque te Amo”, este em parceria com Karim Aïnouz. O cineasta define seu filme “como um diário íntimo da personagem (interpretada por Hermila Guedes), escrito em primeira pessoa”. Daí o “Eu” que foi agregado ao título na fase de montagem.

“Boa Sorte, meu Amor”, de Daniel Aragão, 31 anos, se apresenta como “um antirromance do impacto entre a música e o silêncio”. Nos papéis principais, estão atores pernambucanos, e dois convidados, o compositor e cantor mineiro Marku Ribas e o ex-astro da pornochanchada, Carlo Mossy. “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello, 31 anos, tem fotografia do cearense Ivo Lopes Araújo e elenco em que se destaca o pernambucano Germano Haiut (de “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”). O realizador recifense chega a Brasília com “uma fábula de tons, personagens e situações realistas”. Dois anos atrás, ele participou da competição com o documentário “Vigias”.

Boa Sorte, meu Amor, de Daniel Aragão

Vinícius Reis, 41 anos, diretor de “Praça Saenz Peña”, reuniu elenco digno de respeito, Enrique Diaz, Flávio Bauraqui, Luciana Bezerra (do grupo Nós do Morro, que venceu o Festival de Brasília com o curta “Mina de Fé) e Bianca Byington. Sua narrativa, um drama familiar, ambienta-se numa pequena cidade do litoral fluminense, em tempo de palhaços e Folias dos Santos Reis. Allan Ribeiro, 32 anos, formado pela UFF, mostra seu primeiro longa “Este Amor que nos Consome”. Quem assistiu ao curta “Ensaio de Cinema”, conhece os dois protagonistas do filme, os bailarinos Gatto Larsen e Rubens Barbot. Desta vez, a dupla de artistas unida há 40 anos, está cercada de vários atores e segue criando, e convivendo com a crença nos orixás, num casarão outrora abandonado.

Documentários vão do real ao poético

Além de “Olho Nu”, de Joel Pizzini, sobre Ney Matogrosso, a competição de longas documentais conta com mais cinco filmes. A piauiense Karla Holanda estreia no longa-metragem com “Kátia”, sobre travesti eleita por três vezes vereadora e vice-prefeita de uma cidadezinha do sertão do Piauí. Minas Gerais se faz representar pelo mais conhecido de seus documentaristas, Cao Guimarães, com o filme “Otto”, um ensaio, somando ficção, poesia, artes plásticas e documentação, para registrar a gravidez da mulher e o nascimento do filho. O resultado é “um filme instintivo, visceral e intimista”. Gabriel Mascaro chega a Brasília com “Doméstica”, seu quarto documentário. Seus filmes anteriores, “KFZ-1348”, “Um Lugar ao Sol” e “Avenida Brasília Formosa”, tiveram boa aceitação junto à crítica especializada. São Paulo, historicamente conhecido com o segundo polo de produção cinematográfica nacional, marca presença com o primeiro longa-metragem de Petra Costa, “Elena”, filmado em Nova York. Completa a lista “Um Filme para Dirceu”, de Ana Johann, do Paraná, tendo como personagem um jovem gaiteiro paraplégico.

Otto, de Cao Guimarães © Florencia Martínez

Os curtas estão competindo em três categorias: ficção, documentário e animação. Competindo na ficção estão “A Mão que Afaga”, de Gabriela Amaral Almeida (SP); “Canção para minha Irmã”, de Pedro Severien (PE); “Eu Nunca Deveria Ter Voltado”, de Eduardo Morotó, Marcelo Martins Santiago e Renan Brandão (RJ); “Menino Peixe”, de Eva Randolph (RJ); “Vereda”, de Diego Florentino (PR); e “Vestido de Laerte”, de Claudia Priscilla e Pedro Marques (SP). Em animação, estão competindo os curtas “Destimação”, de Ricardo de Podestá (GO); “Linear”, de Amir Admoni (SP); “Mais Valia”, de Marco Túlio Ramos Vieira (MG); “O Gigante”, de Luís da Matta Almeida (SC); “Phantasma”, de Alessandro Corrêa (SP); e “Valquíria”, de Luiz Henrique Marques (MG).

Nos documentários, temos “A Cidade”, de Liliana Sulzbach (RS); “A Ditadura da Especulação”, de Zé Furtado (DF); “A Guerra dos Gibis”, de Thiago Brandimarte Mendonça e Rafael Terpins (SP); “A Onda Traz, o Vento Leva”, de Gabriel Mascaro (PE); “Câmara Escura”, de Marcelo Pedroso (PE); e “Empurrando o Dia”, de Felipe Chimicatti, Pedro Carvalho e Rafael Bottaro (MG).

Confira a programação do festival nos links abaixo:

Festival terá lançamentos de livros e DVDs.

Mostra Panorama exibirá “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.

Veja a programação completa do festival.

 

Por Maria do Rosário Caetano

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