Cine Shakeaspeare

Um dos filmes mais originais e surpreendentes de nossa história cinematográfica é, sem dúvida, “A Herança”, de Ozualdo Candeias (1918-2007). Adaptação livre de “Hamlet”, de Shakespeare, o filme foi realizado em 1971, com pouquíssima grana, em P&B e 16mm. Candeias assinou, além da direção, o roteiro, a fotografia, a cenografia e o vestuário. Sua Ofélia é negra (Zuleika Maria) e seu Omeleto (Hamlet) ficou a cargo do futuro rei da pornochanchada, David Cardoso. No elenco numeroso, estavam Bárbara Fazzio, Agnaldo Rayol, Clemente Viscaíno, Luiz Carlos Braga e muita gente de cinema: João Batista de Andrade, Rubens Ewald Filho, Jean Garret, Antônio Lima (só faltou Carlão Reichenbach). O crítico Inácio Araújo, também cineasta (“Uma Aula de Sanfona”) e montador (“As Deusas”, “Filme Demência”), assinou a assistência de direção e a gerência de produção. A recriação ozualdina da tragédia de Shakespeare foi ambientada no mundo caipira brasileiro. Omeleto, filho de um dono de terras, vai estudar na cidade. Ao regressar, o pai está morto e a mãe casada com o cunhado, tio do jovem. O pai volta do Além para contar ao filho em que circunstâncias se deu o assassinato. Omeleto promete vingar a morte do pai, ao preço de sua própria vida. Vale, além de ver o filme, ler o livro “Adaptação Intercultural: o Caso de Shakespeare no Cinema Brasileiro”, de Marcel Vieira Barreto Silva, com prefácio do professor João Luiz Vieira, lançado recentemente pela EdUFBA (Editora da Universidade Federal da Bahia).

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