“Muitos Homens num Só”, de Mini Kerti, é o grande vencedor do Cine PE
A 18ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual chegou ao fim na noite de sexta, 2 de maio, e teve como grande vencedor o longa Muitos Homens num Só, primeira ficção da diretora carioca Mini Kerti. Produzido por Flavio Ramos Tambellini, o filme ganhou nove Calungas do júri oficial, além do prêmio do júri popular, totalizando 10 troféus.
Muitos Homens num Só é baseado em fatos reais e inspirado em personagens de diversos livros de João do Rio, pseudônimo do escritor e jornalista Paulo Barreto (1881-1921). Em especial, o romance Memórias de um Rato de Hotel (1912), que retrata um personagem real do início do século XX: Artur Antunes Maciel (Vladimir Brichta), um ladrão inteligente, ousado, elegante. Gaúcho, de família rica, ele morava no Rio e hospedava-se com nomes falsos nos hotéis da cidade para roubar. No filme, Artur se apresenta como Dr. Antonio e vive um romance com Eva (Alice Braga), desenhista casada com Jorge (Pedro Brício), um homem ganancioso e pouco atento aos interesses e desejos de sua mulher. Félix Pacheco (Caio Blat), diretor do recém-inaugurado Gabinete de Identificação, decide pôr um fim ao reinado do Rato de Hotel usando a novíssima técnica de identificação por impressões digitais.
Romance Policial, que ganhou três troféus, se passa no Deserto do Atacama e conta a história de Antonio (Daniel de Oliveira), 30 anos, funcionário público com vocação não assumida para escritor, que viaja ao deserto em busca de inspiração, mas acaba se deparando com um homem assassinado e é o principal suspeito. O que ele vivencia transforma sua vida.
O filme italiano Anni Felici, de Daniele Luchetti, também foi premiado com dois Calungas e uma menção honrosa. O filme conta a história de um artista narcisista que encontra o seu mundo de cabeça para baixo depois de uma exposição desastrosa e das novas inclinações extraconjugais de sua, até então, dedicada esposa.
O júri Abraccine optou por conceder prêmios a partir de dois recortes das mostras competitivas do 18º Cine PE: o de curtas-metragens, revelado na última terça; e o de longas, que inclui filmes exibidos na Mostra Doc e na Mostra de Ficção. Os jurados elegeram como melhor filme o documentário português E Agora? Lembra-me, de Joaquim Pinto. O diretor convive com o HIV há quase 20 anos e é o personagem de uma reflexão aberta e eclética sobre o tempo e a memória, as epidemias e a globalização, a sobrevivência para além do expectável, a dissensão e o amor absoluto. Num vai e vem entre o presente e o passado, o filme é também um tributo aos amigos que partiram e aos que permanecem.
No palco, o presidente do júri da crítica, André Dib, leu como justificativa um texto escrito por João Carlos Sampaio esta semana, depois de assistir ao longa: “Dores no corpo e na alma diante da angústia de ter os dias contados… e esse dolorido confrontado com um estranho ‘carpe diem’. Um jeito de lidar com o tempo que resta, que não se submete ao desespero pela alegria, ou ao arrebatamento da festa, mas por algo que é quase o oposto da euforia. Uma celebração quase religiosa do tempo, como se um dia inteiro coubesse numa tarde morna, acomodada em afetos demorados, intensos sentimentos e silêncios… Tô falando de E Agora? Lembra-me, filme do português Joaquim Pinto, exibido no 18º Cine PE. Coisa finíssima!”
Apresentada pelo casal de atores Deborah Secco e Bruno Torres, que também é cineasta, a cerimônia no Teatro Santa Isabel contou com a presença de diretores, produtores e atores dos filmes concorrentes. A noite foi marcada pelas homenagens aos 50 anos do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, com a exibição de um vídeo produzido pelo Canal Brasil; e a José Wilker, que faleceu no último dia 5 de abril. A láurea já estava programada desde o início do ano e a Calunga de Ouro foi entregue a Isabel Wilker e Claudia Montenegro, a filha e a companheira do ator, e outros familiares. O festival também homenageou o jornalista baiano João Carlos Sampaio, um dos maiores críticos de cinema do Brasil, que estava cobrindo o festival e faleceu esta manhã (2 de maio), aos 44 anos, vítima de um infarte fulminante.
O júri oficial do 18º Cine PE foi composto por Fabiano Canosa (diretor deral da Brazilian World Cinema, produtor carioca e locutor do Kinoscope); Marcos Petrucelli (jornalista e crítico de cinema paulista); Francisco Ramalho Junior (diretor, roteirista e produtor cinematográfico paulista); Marco Aurélio Marcondes (distribuidor e produtor carioca independente); e Marcos Santuário (jornalista, pesquisador e crítico de cinema gaúcho). A curadoria foi do jornalista carioca Rodrigo Fonseca.
Confira abaixo os vencedores do Cine PE 2014:
Mostra Festival de Cinema de Ficção Internacional
Calungas (12 categorias)
Filme: Muitos Homens Num Só, de Mini Kerti
Direção: Mini Kerti (Muitos Homens Num Só)
Ator: Vladimir Brichta (Muitos Homens Num Só)
Atriz: Alice Braga (Muitos Homens Num Só)
Ator Coadjuvante: Alvaro Rudolphy (Romance Policial, de Jorge Durán) e Pedro Brício (Muitos Homens Num Só)
Atriz Coadjuvante: Roxana Campos (Romance Policial) e Pia Engleberth (Anni Felici)
Roteiro: Leandro Assis (Muitos Homens Num Só)
Fotografia: Luis Abramo (Romance Policial)
Direção de Arte: Kiti Duarte (Muitos Homens Num Só)
Trilha Sonora: Dado Villa-Lobos (Muitos Homens Num Só)
Edição de Som: Tomás Alem (Muitos Homens Num Só)
Montagem: Mirco Garrone (Anni Felici, de Daniele Luchetti)
Prêmio do Júri Popular: Muitos Homens Num Só, de Mini Kerti
Prêmio da Crítica – Júri da Abraccine: E Agora? Lembra-Me, de Joaquim Pinto (Portugal)
Prêmios especiais do júri oficial
Menção Honrosa: “Para o filme O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha (MG), por ampliar a proposta de uma produção brasileira que destaca fatos da história nacional para um público infantil”.
Menção Honrosa: “Para o elenco infantil dos filmes Anni Felici, de Daniele Luchetti (Itália), e O Menino no Espelho, de Guilherme Fiúza Zenha (MG), em especial para o ator mineiro Lino Facioli.”
Menção Honrosa: “Para o filme Mundo Deserto de Almas Negras, de Ruy Veridiano (SP), pela inventividade e ousadia ao construir um filme que utiliza o espírito ‘DJ’ na construção de sua narrativa.”