Cordel x Cinema
A relação do cinema com o cordel é muito maior do que se imagina. Assim como o cordel serve de inspiração ao cinema, e é sucesso garantido na TV, os próprios filmes e até seus realizadores viraram temas de livros de cordel, especialmente, nos anos 50 e 60 quando esta literatura era um dos únicos meios de informação das populações do interior do Nordeste. Essa investigação sobre um dos pilares mais fortes da cultura nordestina está no livro “Cinema e Cordel – Jogo de Espelhos” (Interarte e Lume Filmes), de Sylvie Debs, uma pesquisadora francesa que se dedica à difusão na França do cinema brasileiro e da cultura popular do Nordeste.
O livro faz uma ampla análise de como o cordel tratou o cinema brasileiro, levando para os versos populares sagas de filmes como “Vidas Secas”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Os Fuzis”, assim como o cinema se utilizou dos temas dos cordéis, como “O Homem que Virou Suco”, de João Batista de Andrade, e a maior parte dos filmes do cineasta cearense Rosemberg Cariry, que resgata em seu cinema as raízes na construção do mito e narrativas dos cordéis. A autora analisa a construção dos filmes (produzidos dos anos 50 aos 80) e entrevista os cineastas que tiveram ou ainda têm uma relação direta com o cordel, como Geraldo Sarno, Orlando Senna e Nelson Pereira dos Santos. A autora analisa ainda a obra de Glauber Rocha, um cinema que trafega entre o mito e a realidade, especialmente, em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, que se vale de trechos e narrativas oriundas de cordéis.