O Último Pudovkin

O CPC-UMES (Centro Popular de Cultura da União Metropolitana de Estudantes) está empenhado em recolocar o cinema russo, incluindo a era soviética, nos programas dos cinéfilos brasileiros. Para tanto, associou-se aos Estúdios Mosfilm, de Moscou. Juntos, realizarão, anualmente, em São Paulo, um festival de cinema russo. A segunda edição do projeto acontecerá na Cinemateca Brasileira, em dezembro. Serão exibidos filmes contemporâneos, enriquecidos com um núcleo histórico. Haverá debates e lançamento de DVDs.

Da primeira safra lançada pelo selo CPC-UMES, três títulos se destacam: “Solaris”, a enigmática ficção científica de Tarkovski, e dois clássicos mais antigos da era soviética: “O Retorno de Vassili Bortnikov”, de Vsevolod Pudovkin, e “O Fascismo de Todos os Dias”, de Mikhail Romm. Pudovkin (1893-1953) formou, com Eisenstein, Vertov e Dovchenko, o quarteto máximo do cinema revolucionário soviético. Seus primeiros filmes (o brechtiano-gorkiano “A Mãe”, “O Fim de São Petersburgo” e “Três Cantos para Lênin”) figuram em todas as antologias do período. “Vassili Bortnikov”, interpretado pelo astro eslavo Sergey Lukyanov, é seu canto de cisne (foi lançado no ano de sua morte) e está longe da força inventiva dos primeiros anos. O elenco é bom, a história desperta algum interesse (embora sirva ao projeto de coletivização do campo imposto pela era Stálin) e a fotografia tem seu encanto. Afinal, foi comandada pelo mestre Sergei Urushev (que depois assinaria as arrebatadoras imagens de “Soy Cuba”, de Kalatazov). Mas, convenhamos, é pouco para quem foi um dos principais nomes da vanguarda soviética. Mikhail Romm (1901-1971) desfrutou de muito prestígio na antiga URSS. Um de seus primeiros filmes – “Bola de Sebo”, baseado no genial conto de Maupassant – teve boa aceitação.

Mas seu filme mais famoso é o documentário “O Fascismo de Todos os Dias” (1965), realizado com riquíssimo material de arquivo (inclusive com acervos de Hitler, que os soviéticos confiscaram quando tomaram Berlim). O longa de Romm, um judeu-soviético – e por isto muito motivado a mostrar a derrota do nazi-fascismo – foi assistido pelo paraibano Paulo Bezerra, grande tradutor de russo, quando morava (e estudava) em Moscou. Bezerra conta que o impacto foi brutal e que filas imensas se formavam para ver o documentário. Pois agora, ele está disponível ao público brasileiro, com cópia legendada em português e ao módico preço de R$ 21,00.

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