Rio Content Market traz aos brasileiros o mundo dos negócios de TV
Em 2016, o Rio Content Market (RCM) confirma, em sua sexta edição, a vocação para reunir players internacionais no Brasil e promover rodadas de negócios e discussões sobre as produções audiovisuais e mecanismos de financiamento. Ao todo, já foram confirmadas 1.180 reuniões nas rodadas de negócios, durante os três dias do congresso, que será realizado de 9 a 11 de março, no Rio de Janeiro. A expectativa da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV (ABPITV) – realizadora do encontro – é de 3.500 participantes, dentre eles 198 players, 206 palestrantes e delegações de países como França, Alemanha, Reino Unido, Canadá e Argentina. “O evento entrou definitivamente no calendário internacional. Os canais deixam para lançar novidades no Rio Content. É um local para lançamentos, assinatura de acordos. Virou um marco”, diz Mauro Garcia, diretor executivo da ABPITV.
Um dos destaques internacionais presentes ao evento é Steve Golin, fundador da Anonymous Content, produtora dos filmes “O Regresso”, de Alejandro González Iñárritu, e “Spotlight”, de Tom McCarthy, que concorreram ao Oscar deste ano. Também haverá painéis com Howard Gordon, produtor das séries “Homeland” e “24 Horas”, e com Rhys Ernst, coprodutor e consultor de “Transparent”, série vencedora do Globo de Ouro.
Entre os convidados que prometem lotar as salas, estão Peter Iacono, da Lionsgate, que produziu séries como “Mad Men” e “Orange is the New Black”, Olivier Dumont, que está à frente do licenciamento global da animação “Peppa Pig”, distribuída pela eOne, e Melissa Rosenberg, criadora da série “Jessica Jones” e roteirista de “Dexter”. Para falar sobre os serviços de streaming e participar das rodadas de negócios, foram confirmados Erik Barmack, vice-presidente de produções originais locais do Netflix; Philip Matthys, diretor de conteúdo original do Hulu; e Tara Sorensen, diretora de programação infantil da Amazon Studios. Da mesma forma, são esperados diretores dos canais BBC, NHK, Sundance Channel e Al Arabiya Discovery.
A programação geral acontece em seis salas simultâneas para atender a muitas questões relacionadas ao audiovisual, não apenas sobre narrativa e linguagem, mas também de produção, tecnologia, fontes de financiamento e direitos de propriedade. A ABPITV, inclusive, recomenda que os canais, as produtoras e as instituições sempre disponibilizem credenciais para vários setores de suas empresas para que todos possam participar do evento, como destaca Garcia: “Entre convidados estrangeiros e brasileiros, temos debates, assuntos e questões novas que vão pautar o ano inteiro. A Ancine [Agência Nacional do Cinema], por exemplo, compra um número grande de credenciais e envolve todas as suas áreas para acompanhar os assuntos e se atualizar”.
Durante e após o Rio Content Market, os executivos, produtores e distribuidores também têm acesso a uma espécie de rede social para marcar reuniões e rodadas de negócios. É um mecanismo a mais, além do próprio corpo a corpo já característico dos mercados e feiras internacionais dos quais eles fazem parte, no mundo todo.
Aposta que deu certo
O Rio Content Market foi criado em 2011 e é o resultado do trabalho realizado pelo programa de exportação da associação, o Brazilian TV Producers, que tem parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Nas palavras de Marco Altberg, presidente da ABPITV, “o RCM é um sonho realizado” e foi criado por uma demanda dos associados que sentiam falta de um mercado dedicado à produção independente de TV no Brasil, além de oferecer uma contrapartida ao trazer o mercado internacional para o país.
“Felizmente, deu muito certo. Nossa intuição foi acertada e se tornou uma referência na América Latina, com a presença de participantes de países da Europa, América do Norte, América do Sul, África e Ásia, além de praticamente todos os Estados do Brasil”, complementa Altberg.
A primeira edição contou com mil participantes, chegou a 3.500 no ano passado e assim deve se manter por algum tempo, porque este é o limite confortável para ocupar os espaços, de acordo com Garcia, até porque o público é flutuante. Antes mesmo do fechamento das inscrições de 2016, já tinham sido vendidos mais ingressos do que no ano anterior, o que foi uma novidade. “É a confirmação dessa aposta do mercado no evento, que se concentra em discutir e fazer negócios”.
Promovendo negócios
Em 2011, ainda antes da aplicação da Lei 12.485, conhecida como lei da TV Paga, o audiovisual “já estava muito forte” e até hoje “há uma curiosidade grande de alguns países e de alguns canais estrangeiros que não estão instalados no Brasil para saber como são as fontes de financiamento”, segundo Garcia. Além de participar dos debates e conhecer a produção nacional, os diretores desses canais chegam a marcar as suas reuniões específicas com os representantes no Brasil durante o Rio Content Market, o que fortalece ainda mais a importância do evento na agenda internacional.
O convite para os principais players é realizado com a curadoria de Carla Esmeralda e alinhado com a ABPITV e o seu Conselho, com contribuições dos próprios produtores brasileiros, ao longo de todo o ano. Em outubro, a divulgação é fortalecida pela associação durante o MIPCOM, em Cannes, evento que já reúne os players mais importantes do setor. No começo, o Rio Content Market era agendado para a semana seguinte ao Carnaval, com o intuito de aproveitar o interesse histórico pelos desfiles e pela festa carioca para atrair nomes de prestígio para as palestras internacionais. Contudo, a partir deste ano, Garcia reforça que esse apelo não é mais necessário, visto que o Rio Content Market já é esperado pelos players e está confirmado para ocorrer na segunda semana de março também nos próximos anos. “No ano passado, já lançamos o Save the Date para 2016 e 2017. Neste ano, vamos lançar mais dois. Isso ajuda muito a entrar no calendário”.
A associação contabiliza, nas primeiras cinco edições, um total de 14 mil participantes provenientes de 38 países, que apresentaram projetos inovadores, cases e modelos de negócios e fizeram encontros que resultaram em coproduções. Grandes nomes de séries de TV compuseram as mesas e as conferências, como Dan B. Weiss, um dos criadores de “Game of Thrones”; Cary Fukunaga, diretor da primeira temporada de “True Detective”; M. Night Shyamalan, de “Wayward Pines”; Gideon Raff, de “Hatufim”, “Homeland” e “Tyrant”; Mark Gatiss, roteirista de “Sherlock” e “Doctor Who”; David Chase, idealizador de “Família Soprano”; e David Shore, de “House”.
Por Belisa Figueiró