Vocação nacional?

Há mais de quinhentos anos, Pero Vaz de Caminha escreveu ao Rei de Portugal afirmando que aqui pelas terras de Vera Cruz “em se plantando tudo dá”. Será assim também para o audiovisual brasileiro hoje? Podemos “plantar” de tudo?

Na data em que escrevo este artigo ainda não foi divulgado o resultado da premiação do Oscar, que pode dar o prêmio dourado ao longa de animação brasileiro O Menino e o Mundo, somando-se aos prêmios que a obra já conquistou mundo afora. Mas esta indicação ao Oscar traz outra reflexão: a animação é uma vocação nacional?

Antes destes tempos da Lei 12.485, a Lei do SEAC ou Lei da TV por assinatura, a animação brasileira largou na frente de outros gêneros, formatos, linguagens, em séries protagonizadas por coproduções formais embaladas com recursos internacionais do Canadá e apoio de linha específica de fomento do BNDES. Outras tantas séries e longas se desenvolveram, novos estúdios de animação surgiram e nos tempos atuais de Fundo Setorial do Audiovisual muita animação brasileira ganhou espaço, sobretudo nos canais internacionais infanto-juvenis. Os precursores da animação brasileira, como Walbercy Ribas, Mauricio de Sousa, Marcos Magalhães se repaginaram nesses novos tempos e dividem espaço com uma nova turma de realizadores.

Se, num exame assim brevíssimo deste espaço, destacamos a animação, o que dizer da Dramaturgia em Live Action? Nossa paixão nacional, as novelas das TVs sempre foram um exemplo de qualidade dramatúrgica. Produto brasileiro de exportação. O cinema nacional em seus mais diferentes ciclos, mesmo os interrompidos, sempre trouxe boa projeção à nossa dramaturgia. A novidade neste novo ciclo, até então virtuoso, é participarmos de fato do mundo globalizado da dramaturgia em formato de séries. Algumas delas verdadeiramente campeãs de audiência nos canais de TV por assinatura.

A outra novidade é, de fato, o produto das telas cinema e TV se mesclarem e produzirem juntas – filme e série. Em qualquer ordem de lançamento. Cinema e TV vão, enfim, se fundindo em audiovisual. Audiovisual independente nessa nova ordem nacional.

As bilheterias do cinema nacional vão bem, obrigado, com as novas comédias brasileiras. Criticadas por uns, elogiadas pelo respeitável público, o fato é que essa característica tupiniquim de dar boas risadas com as chanchadas e comédias pastelão funciona bem na tela grande.

Estamos gerando roteiristas especializados em mais de uma tela. Estamos nos apropriando da qualidade das novelas para gerar obras seriadas mais elaboradas e ao gosto da paixão nacional.

Esses resultados positivos, nesse novo ciclo do audiovisual brasileiro com ganhos incontestáveis de qualidade e escala num mercado nacional aquecido e com oportunidades nas telas globais, vão nos impulsionando para um patamar de indústria. Uma indústria que já atrai investimentos privados maiores que se complementarão ao fomento público.

Seja pela animação, seja pela dramaturgia, histórias do povo de Vera Cruz não faltam. E assim com nosso jeitinho vamos dando passos maiores e colocando a mão na taça. Ou melhor, nas estatuetas douradas da economia audiovisual.

 

Por Mauro Garcia, Diretor Executivo da ABPITV

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