Com inspiração europeia, Prêmio de Apoio à Distribuição completa dez anos

O Programa Cinema do Brasil, dedicado à promoção e à difusão de filmes brasileiros no exterior, anunciou a abertura das inscrições para a 11ª edição do Prêmio de Apoio à Distribuição. Em 2019, o edital completa dez anos e vem oferecendo suporte aos distribuidores estrangeiros interessados em lançar longas-metragens nacionais (ou em coprodução com o Brasil) em seus territórios. De lá para cá, segundo as informações oficiais, foram apoiados 125 filmes, em mais de 40 territórios. E é sobre a implementação e o alcance desse apoio que pretendo examinar aqui.

Se dentro do território nacional a distribuição é uma das etapas que recebe menos recursos dos mais diversos editais e do Fundo Setorial do Audiovisual, para a comercialização internacional é quase inexistente qualquer iniciativa. O Prêmio de Apoio à Distribuição – com montantes da Apex-Brasil e do Ministério das Relações Exteriores – é o único que conseguiu se manter com certo reconhecimento junto aos agentes do setor, permitindo que alguns filmes brasileiros pudessem chegar às salas comerciais de todos os continentes, embora o auxílio destinado não se converta em um grande número de espectadores estrangeiros.

Na sua criação, o edital previa um teto de 25 mil dólares para cada lançamento, a serem gastos apenas com cópias e propaganda, cuja rubrica é conhecida no mercado internacional como P&A (prints and advertising). De lá para cá, esse valor foi diminuindo para 10 mil ou 15 mil dólares, dependendo da proposta do distribuidor, com a garantia de que ele investirá do próprio bolso, como contrapartida, o mesmo valor recebido. Ou seja, aqueles 25, 15 ou 10 mil dólares se tornam 50, 30 ou 20 mil dólares, no final das contas. Não é um valor desprezível, mas costuma atrair empresas distribuidoras de menor porte, que trabalham com um número pequeno de cópias e um marketing discreto. E como o circuito exibidor é, majoritariamente, ocupado pelo produto norte-americano, a disputa pelo público local permanece acirrada em qualquer país do mundo.

Um dos tópicos da minha pesquisa de mestrado foi justamente a análise dos cinco primeiros anos de atuação do Prêmio de Apoio à Distribuição. Com base nos dados disponíveis, foi possível encontrar 78 inscrições e distribuidores de 31 países contemplados pelo edital. Os distribuidores franceses foram os que mais receberam o aporte: 16 propostas aprovadas no total. Em seguida, aparecem distribuidores de Portugal, com 12 prêmios; da Alemanha, com 10; e dos Estados Unidos, com 9. Esse estudo detalhado – com tabelas e gráficos sobre os filmes, distribuidores e países premiados – está disponível no livro “Coprodução de Cinema com a França: Mercado e Internacionalização” (Editora Senac São Paulo, 2018).

Inspiração europeia

Na Europa, a preocupação em estimular a distribuição cinematográfica não é uma novidade recente. Em meados dos anos 1990, o então chamado Programa MEDIA passou a estimular a circulação de filmes europeus dentro da União Europeia, apoiando obras que tivessem potencial para adentrar novas fronteiras.

Desde 1987, os países-membros do Conselho Europeu já contavam com um suporte específico para encorajar novas coproduções europeias (que se somava aos editais nacionais robustos de alguns países, especialmente os da França, criados nas décadas anteriores). A partir do MEDIA II, em 1995, focado na distribuição, os distribuidores europeus tiveram acesso a uma verba que cobre desde a elaboração das cópias, a dublagem, a legendagem, até as ações de promoção comercial para lançar, em seus territórios, filmes provenientes dos países vizinhos. A proposta era ambiciosa e tentava fomentar a participação desses distribuidores na própria coprodução, ampliando as fontes de recursos desde o começo e garantindo a circulação europeia do produto anos depois.

Para os produtores brasileiros, esse acesso se dá apenas por meio de uma coprodução com algum país europeu, uma vez que somente esse parceiro poderá pleitear os recursos tanto para a produção quanto para a distribuição. Desde 2014, o Programa MEDIA foi anexado a um novo projeto da União Europeia, chamado Creative Europe, voltado não apenas para o audiovisual, mas para todo o setor criativo e cultural.

O Prêmio de Apoio à Distribuição nitidamente se inspirou nessa experiência europeia, até porque as diretrizes e alguns objetivos são bastante próximos. Poucos anos depois, o Programa Cinema do Brasil até mesmo ampliou o suporte para os agentes de vendas internacionais interessados em incluir filmes brasileiros em seus catálogos, tal como ocorre com o MEDIA. Mas esse é um outro assunto que merece uma análise futura.

 

Por Belisa Figueiró

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