Festival Internacional de Curtas de São Paulo exibe cerca de 400 filmes

O Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo chega à sua 27ª edição, entre os dias 24 de agosto a 4 de setembro. O evento, dirigido por Zita Carvalhosa e organizado pela Associação Cultural Kinoforum, exibirá cerca de 400 filmes de mais de 60 países, que foram selecionados em meio a mais de 3.550 inscritos, além de títulos convidados. Totalmente gratuita, a programação acontece em seis salas de cinema da capital – MIS, CineSesc, Cinemateca Brasileira, Espaço Itaú Augusta, UNIBES Cultural, Centro Cultural São Paulo – e cinco unidades de CEUs participantes do Circuito Spcine – Aricanduva, Butantã, Caminho do Mar, Paz e São Rafael.

Com o tema “O Estado do Mundo”, a edição destaca filmes que tratam de questões sociais, políticas e comportamentais que estão presentes no nosso dia-a-dia, como a censura e a liberdade de expressão, imigrações e a xenofobia, os direitos e a violência contra as mulheres, a acessibilidade e a promoção das diferenças.

A programação é dividida nas mostras principais Internacional, Latino-Americana e Programas Brasileiros e nos Programas Especiais, além de Atividades Paralelas, que incluem debates, workshop e uma instalação audiovisual.

Neste ano, a Mostra Internacional faz uma grande viagem pelo mundo, exibindo 65 filmes – de 2.700 inscritos nesta categoria –, vindos de 41 países, um novo recorde de abrangência do evento. Entre curtas norte-americanos, franceses e do Reino Unido, há obras produzidas em países como Egito, Marrocos e Curdistão, e a diversidade não é apenas de origem, mas também de gênero, linguagem e estética, oferecendo assim ao público, um panorama bastante variado da atual produção mundial.

A seleção traz ao Brasil filmes premiados nos principais festivais internacionais do gênero neste ano. É o caso do espanhol “Timecode”, de Juanjo Giménez, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes, mostrando como dois seguranças de estacionamento quebram o tédio de seu trabalho; do português “Balada de um Batráquio” (Leonor Teles), vencedor da Berlinale, que tem a etnia cigana como mote; da animação francesa “A Cabeça Oculta” (Franck Dion), eleita o melhor curta do Festival de Annecy; e o neozelandês “Madame Black” (Ivan Barge), uma divertida fábula moderna para todas as idades, que recebeu o ‘Prêmio do Publico’ em Clermont-Ferrand.

Outros destaques da Mostra Internacional são “Os Cravos e a Rocha” (Luísa Sequeira), de Portugal, que traz um raro registro de Glauber Rocha durante a Revolução dos Cravos, e o austríaco “The Exquisite Corpus”, dirigido pelo cultuado mestre do cinema experimental Peter Tscherkassky. A mostra também exibe o francês “Uma Vida Comum”, curta de estreia de Sonia Rolland, ex-Miss Franceque nasceu em Ruanda e, fugida do genocídio de seu país, se tornou modelo e atriz na França, tendo atuado em filmes como “Uma Noite em Paris”, de Woody Allen.

A Mostra Latino-Americana apresenta 26 produções de 12 países, selecionados entre os 238 inscritos na seção. A forte presença feminina, tanto nos enredos como atrás das câmeras, e a quebra de paradigmas da dramaturgia latina, caracterizada especialmente por um jogo de ambiguidades entre os personagens, dão o tom deste programa.

O colombiano “Mãe” (Simón Mesa Soto), que integrou a seleção oficial de Cannes, tem como protagonista uma garota de 16 anos, da periferia de Medellín, que vai fazer um casting para um filme pornô. O chileno “Os Barcos” (Dominga Sotomayor), exibido pelo Festival de Roterdã, mostra uma atriz do Chile que vai para Lisboa representar seu filme, mesmo tendo um papel secundário, e acaba partindo em uma jornada pela capital portuguesa.

Com o 3° prêmio Cinéfondation de Cannes, o venezuelano “A Culpa, Provavelmente” (Michael Labarca), se passa em uma noite de blecaute, quando uma mãe solteira recebe a visita de seu ex-parceiro. O documentário cubano “Iceberg” (Juliana Gómez Castañeda), eleito o melhor curta internacional do Festival de Fribourg, revela o luto de uma pescadora de 60 anos que se vê na obrigação de criar sua neta. Outra atração é “Antiman” (Gavin Ramoutar), o primeiro filme da Guiana a participar do Festival.

Esta edição recebeu inscrições de mais de 620 curtas-metragens nacionais. Destes, 127 serão exibidos nas três categorias de Programas Brasileiros.

A Mostra Brasil é marcada pela representatividade de gêneros, etnias e culturas. No conjunto de 49 títulos, estão produções de 17 Estados brasileiros, incluindo Roraima, que nunca tinha sido selecionado para este programa.

As temáticas são bem atuais. Falando de política, “Impeachment” (Diego de Jesus), do Espírito Santo, é um documentário que apresenta personagens conhecidos – como Michel Temer, Aécio Neves, José Genoíno e José Dirceu – na ocasião do pedido de impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso, e “Rascunho da Bíblia” (Marcia Deretti e Marcio Junior), animação goiana, que aborda a presença de evangélicos na política do país.

A questão indígena é discutida em diferentes curtas, como “Índios no Poder” (Rodrigo Arajeju), do Distrito Federal, que resgata a trajetória de Mario Juruna, primeiro – e até agora único – indígena eleito deputado federal no Brasil, e o capixaba “Mitã Odjau Ramo – Quando a Criança Nasce” (Ricardo Sá), que mostra duas índias que decidem romper com uma tradição para dar a luz a seus bebês em um hospital perto da aldeia.

A violência contra a mulher é tratada em “Quem Matou Eloá?” (Livia Perez), de São Paulo, que coloca em cheque a cobertura da mídia televisiva no caso do mais longo sequestro em cárcere privado da história do estado. Personagens transexuais ganham voz em “Ingrid” (Maick Hannder), de Minas Gerais, e “Eu vou me Piratear” (Daniel Favaretto e Eduardo Quintanilha), de São Paulo.

Destaque para três curtas nacionais que estiveram em Cannes neste ano: “A Moça que Dançou com o Diabo” (João Paulo Miranda), do interior de São Paulo, que recebeu menção honrosa do Júri Oficial; “Abigail”, (Isabel Penoni e Valentina Homem), de Pernambuco, selecionado para a Quinzena dos Realizadores; e o também pernambucano “O Delírio é a Redenção dos Aflitos” (Fellipe Fernandes), exibido na Semana da Crítica, e protagonizado por Nash Laila (atriz dos longas “Tatuagem” e “Amor, Plástico e Barulho”).

O Panorama Paulista traz 29 curtas do Estado de São Paulo, muitos deles contando histórias íntimas e pessoais, mesmo quando o objetivo é tratar de questões sociais e coletivas. “Para Salvar Beth” (Theodoro Cochrane e Alan Medina) tem Antônio Fagundes e Marília Gabriela (mãe de Cochrane) como os “pais” da cadela Beth, que contratam um homem para levá-la todos os dias a uma clínica veterinária. “Filme em Fúria” (Nana Maiolini), uma estreia mundial, promove o encontro entre música, HQ e cinema na São Paulo das décadas de 1970 e 1980.

O Cinema em Curso Petrobras programou 20 curtas desenvolvidos em 14 cursos superiores de audiovisual. Entre eles, “Cuscuz Peitinho” (Rodrigo Sena e Julio Castro), o primeiro filme do Rio Grande do Norte escolhido para uma das mostras principais do Festival, que revela uma pequena jornada de libertação sexual de um garoto.

A 27ª edição Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo traz 18 Programas Especiais. Há mostras que estão todos os anos na programação, como a Semana da Crítica, a Quinzena dos Realizadores e a Mostra Infanto-juvenil, que neste ano apresenta o curta ganhador do Oscar de animação, o chileno “História de um Urso” (Gabriel Osorio).

O programa Feminino Plural volta ao evento, mas em formato diferente da versão de 2011. Ele reúne curtas de jovens realizadoras – de diferentes raças e classes sociais –, que discutem padrões de beleza, assédio sexual, a hereditariedade da emancipação feminina e o olhar das mulheres através da direção dos filmes. “Das Raízes às Pontas”, inclui depoimentos da cantora Ellen Oléria, da atriz Sheron Menezes, de uma garota de 12 anos e de mulheres de várias idades que se orgulham de seu cabelo crespo.

O Curtas da Berlinale reforça a importância do formato para o Festival de Berlim, que exibe cerca de 100 curtas a cada edição. Aqui serão mostrados cinco títulos indicados pela curadora de curtas da Berlinale Maike-Mia Hohne, todos de jovens e promissores cineastas, como o vietnamita “Outra Cidade” (Lan Pha Ngoc). O programa Coleção Canal+: Desenhar é Preciso reúne curtas de animação comissionados pela emissora francesa que tratam de liberdade de expressão e foram produzidos após o atentado terrorista à redação do periódico Charlie Hebdo.

Diferente Como Todo Mundo é a primeira parceria com o Festival International de Filmes sobre Deficiência, de Cannes. Tratando da promoção das diferenças, ele exibe seis curtas como “Elisa e Joana” (Evaldo Mocarzel e Lauro Escorel), que revela o cotidiano de duas meninas especiais, as filhas dos cineastas, e “A Valsa do Pódio” (Bruno Carneiro e Daniel Hanai), que retrata a atleta paralímpica Terezinha Guilhermina, que ganhou medalhas nas últimas três Olimpíadas e compete na Rio 2016. Já o New York Portuguese Short Film Festival, que divulga os melhores trabalhos da nova geração de realizadores portugueses em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália, chega agora ao Festival de Curtas. Pronto, Era Assim” (Joana Nogueira e Patrícia Rodrigues), um documentário animado da história de seis idosos, é uma das seis obras que serão apresentadas.

E voltando os olhos ao passado, a edição preparou duas mostras especiais. A Censura no Curta situa o curta-metragem brasileiro no período da ditadura militar, apontando o formato como um meio de experimentação e expressão política. Entre os filmes, “Meio Dia” (1969), de Helena Solberg, que observa alunos revoltados na sala de aula, tendo como contexto a música “É Proibido Proibir”, de Caetano Veloso. Paulo Emílio – Os Jovens e seu Mestre comemora o centenário do professor de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, fundador da Cinemateca Brasileira. O programa resgata curtas desenvolvidos por seus jovens alunos à época e que têm o mestre como personagem, como “Tem Coca-Cola no Vatapá”, de Pedro Farkas e Rogério Correa (1976).

O Festival de Curtas vai além da exibição de filmes. A programação traz diversas atividades paralelas abertas ao público. Entre as atrações, está a instalação audiovisual “Invasão”, da jovem fotógrafa Dáurea Gomes, do Rio de Janeiro, que estará em exposição de 25 de agosto a 03 de setembro no MIS. Utilizando fotos e áudios, ela demonstra a posição de mulheres em meio a olhares e “cantadas” masculinas.

Convidada do festival e do Coletivo Vermelha, a sueca Ellen Tejle vem ao Brasil pela primeira vez e participa da conversa “Desigualdade de Gênero no Audiovisual”, que acontece no MIS no dia 28 de agosto, às 19h. Aos 32 anos, a programadora de uma sala de cinema em Estocolmo ficou conhecida por realizar a campanha que popularizou o Teste de Bechdel, que avalia o índice de participação feminina nas telas e hoje garante que a Suécia seja hoje um dos países com melhor igualdade de gênero no audiovisual.

E de Portugal, vem o diretor Pedro Serrazina, que dará o workshop de animação “Cidade Sonhada São Paulo/Lisboa, entre os dias 1º e 3 de setembro, também no MIS. Com vagas limitadas e indicado para profissionais e estudantes de cinema, arquitetura e design, as aulas propõem a produção de animações que relacionam os espaços urbanos do Brasil com imagens de Lisboa. As inscrições serão abertas em breve no site do festival, www.kinoforum.org/curtas.

 

27º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo
Data: 24 de agosto a 4 de setembro
Locais: Museu da Imagem e do Som, CineSesc,  Espaço Itaú Augusta, Cinemateca Brasileira, UNIBES Cultural, Centro Cultural São Paulo e Circuito Spcine de Cinema
Entrada gratuita

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