Circuito Spcine exibe filmes do Ciclo de Oro do cinema mexicano

As salas do Circuito Spcine no Centro Cultural São Paulo e na Galeria Olido apresentam, de 24 a 30 de novembro, a mostra de cinema Salon Mexicano. Trata-se de uma seleção de clássicos mexicanos do intitulado Ciclo de Oro, cujo período vai de 1940 a 1955. Estão programados filmes como “Outro Amanhecer”, “A Outra” e “Santa entre Demônios”. Todas as sessões são gratuitas.

A cerimônia de abertura será realizada no dia 24/11, às 19h15, no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000, Paraíso). Na ocasião, a Spcine e o Consulado do México no Brasil assinam um acordo que integra a Cineteca Mexicana ao programa Sp Mundus, que exporta filmes paulistas para fora do país.

A mostra aproxima o público do trabalho de um grupo seleto de habilidosos diretores, como o premiado Roberto Gavaldón (1909-1986) e Julio Bracho (1909-1978), famoso pelos soberbos closes que dirigiu para todas as grandes divas mexicanas, entre as quais sua própria irmã Andrea Palma (1903-1987), a primeira estrela do cinema local a consagrar a figura da “grande pecadora” em clássicos como “La Mujer del Puerto” (1934) e “Outro Amanhecer” (1943), este último incluído na mostra.

Andrea Palma, assim como a também atriz Dolores Del Rio, teve que enfrentar a concorrência da poderosa Maria Félix (1914-2002), celebridade que contaminou os sonhos e a imaginação das massas durante as duas décadas em que o México produziu os mais inacreditáveis dramalhões da história do cinema como “A Deusa Ajoelhada” (1947), de Roberto Gavaldón, que está dentro do ciclo.

Segundo Silvia Oroz, pesquisadora e professora do Curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá, essa película é um dos mais curiosos exemplos do kitsch cinematográfico mexicano, a começar pela trama: Raquel (Maria Félix) depois de ter induzido seu amante, o milionário Antonio (Arturo de Córdova), a pensar que fora ele a causa da morte da sua própria mulher, obriga-o a se casar com ela, abrindo caminho para uma segunda série de maldades e desgraças. No México, o filme provocou um enorme escândalo dividindo o público entre aqueles que eram “pró” ou “contra” Raquel-Maria Félix, polêmica que arrastou ainda mais gente para os cinemas.

Hollywood sempre a cortejou a fim de atraí-la para o seu império, mas ela jamais se curvou ao jogo dos grandes estúdios americanos. Maria Félix encerrou a carreira na condição de mito, além de riquíssima, colecionando jóias e antiguidades e venerada pelo público do seu país. Além do seu legado nos filmes, ela deixou uma coleção de frases irreverentes e atrevidas que alimentaram ainda mais a sua fama de rebelde e perversa. Certa vez, a um repórter que lhe perguntou indelicadamente se era lésbica, respondeu: “Não, mas seria se todos os homens fossem feios como você”.

Se hoje o cinema mexicano continua vibrante e presente nos principais festivais de cinema do mundo, é porque o país carrega um lastro de sucessos artísticos e comerciais ao longo da sua história, tendo, inclusive, atropelado a supremacia de Hollywood no mercado latino-americano durante pelo menos uma década. O trunfo desta “época de oro” foi o projeto mercadológico que não hesitou em explorar todos os gêneros cinematográficos e em reproduzir entre os muros dos seus diversos estúdios a narrativa fluida e o padrão de acabamento dos filmes de Hollywood.

Personalidades mexicanas sempre tiveram destaque no cinema mundial desde a década de 1920. Algumas delas atingiram a estatura de astros de primeiríssima grandeza na Hollywood da era do cinema silencioso, como Ramón Novarro (1899-1968), que substituiu Rodolfo Valentino no coração do público feminino depois que este faleceu precocemente em 1926, e Dolores Del Rio (1905-1983) que, após uma carreira vitoriosa na Meca do Cinema, voltou ao México em 1942 para continuar reinando nas telas do seu país.

Mas foi só após o fim das revoluções do início do século XX que o México pode começar a organizar a sua indústria cinematográfica na esteira da relativa estabilidade política dos anos 1930-1940, responsável por um forte surto de desenvolvimento econômico e a consequente urbanização da vida mexicana. No início dos anos 1940, a capital, Cidade do México, já começava a mostrar os primeiros sinais de um crescimento desordenado que caracterizaria a metrópole nas décadas seguintes, a ponto de hoje se colocar entre as quatro mais populosas cidades do mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.