Alfredo Bertini planeja interligar a Secretaria de Infraestrutura Cultural à SAv

Desde o começo de outubro, o gestor cultural e ex-secretário do Audiovisual, Alfredo Bertini, está de volta ao Ministério da Cultura (MinC), à frente da Secretaria de Infraestrutura Cultural (Seinfra). Embora o cinema não esteja diretamente ligado às suas funções principais, nesta entrevista à Revista de CINEMA, ele antecipa como pretende interligar as duas pastas e disponibilizar os filmes da Programadora Brasil para os Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs) de todo o país. A reforma das salas de cinema também está no escopo da sua atuação e alguns projetos já saíram do papel. Confira:

Revista de CINEMA – Você foi secretário do Audiovisual entre junho e dezembro de 2016, durante a rápida gestão do ministro Marcelo Calero. Qual vai ser a ponte entre SAv e a Secretaria de Infraestrutura, nesta sua nova gestão, no MinC?

Alfredo Bertini – Pela Seinfra, eu posso apoiar a construção de salas [de cinema], embora o meu orçamento seja limitado para isso.

Revista de CINEMA – Qual é o orçamento da Seinfra?

Alfredo Bertini – Estamos fechando, discutindo. Ainda não podemos revelar.

Revista de CINEMA – Mas vai ter um foco nas salas de cinema?

Alfredo Bertini – Sim, a gente ajuda a equipar e a construir salas também. Agora mesmo, eu estou envolvido no Cine-Teatro do Parque, lá do Recife, que é uma casa histórica, tem mais de 100 anos, e que também funciona como um teatro. Acho que vou conseguir um apoio financeiro para o edital da prefeitura. Isso, a classe de cinema de Pernambuco estava demandando muito. Mas eu posso estar ajudando através, por exemplo, dos CEUs, que é o principal programa. São centros de artes, cultura e esportes, que você deve conhecer bem os de São Paulo, que foram expandidos para o Brasil todo. São 144 já funcionando em todo o Brasil. Muitos estão concentrados, naturalmente, no Sudeste. Mas em Pernambuco, por exemplo, tem 14 projetos e quatro funcionando. Os CEUs têm espaço para cinema, aliás é um dos espaços mais demandados. Nos CEUs, os equipamentos são coordenados por nós, tem a sala de teatro, a sala de cinema, tem o projetor. A minha preocupação maior é a sustentabilidade desses equipamentos, e a sustentabilidade envolve a programação, seja de teatro, de dança, de música, seja também de cinema. E é aí que entra a Programadora Brasil, via SAv e a Cinemateca Brasileira, porque eu quero agilizar a entrega desses produtos para os CEUs, para que isso ajude na programação dos cinemas.

Revista de CINEMA – E qual será a interferência da Seinfra nessa programação?

Alfredo Bertini – A gente não conduz a programação. Nos CEUs, a gestão é comunitária, é uma gestão que envolve não só a comunidade, como também as prefeituras, e tem uma interferência nossa com uma ação fiscalizadora. Existe um comitê gestor, que é integrado por pessoas das prefeituras e da comunidade, eles aprovam e definem qual é a programação.

Revista de CINEMA – Haverá a construção de novas salas ou a Seinfra só vai trabalhar com o patrimônio que já existe?

Alfredo Bertini – Pode acontecer a construção de novas salas via emenda parlamentar.

Revista de CINEMA – Porém não nesse primeiro momento?

Alfredo Bertini – Não, porque na verdade a maior parte das demandas acontece via Ancine ou SAv para a construção mesmo, porque elas já têm programas específicos.

Revista de CINEMA – E salas em universidades e cineclubes?

Alfredo Bertini – Não, no geral, não. Pode ser via emenda [parlamentar]. Mas da política da Seinfra, não. A política da Seinfra é mais os CEUs e eu posso fazer alguma coisa nessa direção da infraestrutura, mas muito mais de recuperação. Por isso, eu falei do caso do Cine-Teatro do Parque, ou de um cinema que a gente possa recuperar fisicamente. Mas não é uma missão específica.

Revista de CINEMA – Qual é a missão específica da Seinfra?

Alfredo Bertini – É justamente garantir a infraestrutura cultural, em todos os segmentos. Desde o patrimônio do próprio Ministério, como a Biblioteca Nacional, que vai fazer uma reforma. Então, as obras passam por mim.

Revista de CINEMA – Especificamente para o cinema e o audiovisual, qual é a porcentagem do setor no orçamento da Seinfra?

Alfredo Bertini – É muito pequena. Vai ter um impacto razoável este ano por conta talvez desse aporte que vamos fazer para o Cine-Teatro do Parque, porque hoje ele é muito mais cinema do que teatro. Mas não quer dizer que seja o mesmo no ano que vem. Porque você tem linhas diretas da Ancine, você pode ter uma política da SAv.

Revista de CINEMA – Vai ter recursos do Fundo Setorial do Audiovisual?

Alfredo Bertini – Não, não. O meu dinheiro é o orçamento do Ministério. Por isso que ele é mais restrito. A SAv, como eu já lutava naquela época [em que foi secretário do Audiovisual], pode ter recursos do Fundo Setorial para isso. Mas eu não tenho.

Revista de CINEMA – Existe essa expectativa, levando em conta também a atuação anterior do ministro Sérgio Sá Leitão?

Alfredo Bertini – Não, embora ele também venha do audiovisual. O meu caminho propriamente não é o da sala de cinema. Repito: tem a própria Ancine e a SAv com políticas próprias. Agora, nada me impede de fazer a reforma. A construção é que está mais complicada. Fazer a reforma de um velho cinema de um município…

Revista de CINEMA – E, com a sua experiência, esse diálogo fica mais fluido?

Alfredo Bertini – Claro, nada me impede de fortalecer os CEUs com a programação de cinema, de ter uma política da Seinfra. Por isso, que estamos tentando agilizar as entregas de conteúdo da Programadora Brasil para que a gente possa suprir os CEUs de material para veiculação. Eles vão receber esse material e montar a programação deles. Cabe a nós ver o quanto está ativado o equipamento e o quanto está sendo usado. O bacana é ver esses equipamentos, em alguns casos, funcionando todos os dias na comunidade. Em alguns casos, funcionando de manhã, de tarde e à noite, atingindo um público de todas as faixas etárias. A infraestrutura não é só obra, é também equipamento. Então, é investimento, aquilo que não pode ser caracterizado como custeio. Por exemplo, a climatização de uma sala, a prefeitura pode pedir, apresentar um projeto e ter um suporte através do meu orçamento, ou posso tentar uma emenda parlamentar. Hoje, o aproveitamento da Seinfra é altíssimo de emenda parlamentar. Este ano, teremos 98% de aproveitamento, é o maior índice da Esplanada [dos Ministérios].

Revista de CINEMA – Trata-se de uma secretaria bem política então?

Alfredo Bertini – O meu relacionamento é basicamente com parlamentar, prefeito ou governador, se a obra é do governo do Estado. E com engenheiros e arquitetos. Nossa função é mais operacional e técnica.

 

Por Belisa Figueiró

One thought on “Alfredo Bertini planeja interligar a Secretaria de Infraestrutura Cultural à SAv

  • 2 de novembro de 2017 em 23:05
    Permalink

    Estranho como o Sr. Alfredo Bertini, à frente da Seinfra, se refere ao bem público: “o meu orçamento”, “eu posso fazer isso”… . Passa a impressão de que ele se considera dono e não gestor da coisa pública.
    Por que será isso?

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