Rogério Duarte, o Tropikaoslista
O ano de 2018 marca os cinquenta anos do lançamento do disco-manifesto “Tropicália”, pedra fundadora do movimento artístico homônimo que marcou a cultura brasileira. Na esteira de eventos que relembram essa importante data, a O2 Play lança, dia 26 de abril, nos cinemas de todo o Brasil, o documentário “Rogério Duarte, o Tropikaoslista”, dirigido por José Walter Lima.
O documentário dá voz ao artista Rogério Duarte (1939-2016), designer gráfico, tipógrafo, músico e poeta brasileiro que atuou no cerne do movimento tropicalista. Espécie de mentor intelectual do movimento, o baiano Rogério Duarte criou as capas dos principais discos tropicalistas, foi coautor de músicas com Gilberto Gil e Caetano Veloso, criou os cartazes dos filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Idade da Terra”, do diretor Glauber Rocha, de quem era amigo.
O percurso artístico de Rogério Duarte envolve o período de gestação do Tropicalismo, na efervescente Bahia dos anos 50 e 60, o engajamento na programação visual da UNE (União Nacional dos Estudantes), as agitações tropicalistas com o grupo baiano e Hélio Oiticica, seus contatos com a Bossa Nova e o Cinema Novo e a brutalidade da tortura em 1968, no Rio de Janeiro, ao ser sequestrado com irmão depois da missa de sétimo dia do estudante Edson Luís.
As sessões de tortura levaram dez dias e a prisão dos irmãos Duarte tornou-se um caso acompanhado pelos jornais brasileiros, às vésperas do AI-5. Em liberdade, Rogério tomaria novos rumos artísticos e espirituais: aproximou-se do movimento Hare Krishna, iniciou traduções do Bhagavad Gita e mergulhou em experiências marginais como o semanário “Flor do Mal”, ao lado de Luiz Carlos Maciel.
O filme de José Walter Lima dimensiona as contribuições de Rogério Duarte à contracultura no Brasil, mas também oferece imagens de seu cotidiano no interior da Bahia, onde cuidava de uma fazenda desde os anos 80. Pouco antes de morrer, declarou que gostaria de ser enterrado nesse refúgio rural.
Seus companheiros tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil gravaram respectivamente para o documentário a canção “Gayana”, de autoria do designer, e “Não tenho medo da vida”, de Gil e inspirada em uma conversa com o amigo. Como declarou Glauber Rocha a Caetano, “por trás de todos nós está Rogério Duarte”. O documentário “Rogério Duarte, o Tropikaoslista”, através da narrativa do próprio artista, revela o impacto de sua inteligência na vida de alguns dos mais importantes criadores brasileiros no século 20.