Festival de Brasília institui prêmio Zózimo Bulbul em parceria com a APAN
Por Maria do Rosário Caetano, de Brasília (DF)
Dois anos atrás, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sediou seminário, promovido em parceria com a Fundação Rockfeller, para gerar reflexão sobre a rarefeita presença de negros e indígenas na direção de filmes, em especial de longas-metragens.
Depois de intensos debates, jovens realizadores negros defenderam, com veemência, a necessidade de criação e ampliação de editais inclusivos. E a participação de artistas negros e indígenas em comissões de seleção, júris de festivais e mostras capazes de alterar a hegemonia de homens brancos, força dominante no cinema desde seu nascimento, há mais de um século.
No ano passado, o comando do Festival de Brasília iniciou, ainda de forma restrita, o cumprimento das reivindicações do seminário de 2016. Este ano, em sua quinquagésima-primeira edição, a presença de cineastas negros se faz marcante no evento, em (quase) todos os setores. E uma iniciativa — a criação do Prêmio Zózimo Bulbul — chega para “reconhecer a importância da trajetória cinematográfica do principal nome do movimento do cinema negro no Brasil”.
O Prêmio tem como foco dois fatores: “o corpo negro na frente e por trás das câmaras e a inovação estética e narrativa na abordagem de subjetividades negras”. O Trofeu Zózimo Bulbul será entregue por júri formado pela APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro) e pelo Centro Afrocarioca de Cinema, que organiza, anualmente, no Rio de Janeiro, o Encontro de Cinema Negro – Brasil, África e Caribe. Um festival criado por Zózimo Bulbul (1937-2013) e mantido por Biza Viana, sua viúva, e Joel Zito Araújo (seu curador).
Para o júri da primeira edição do Prêmio foram convocadas cinco mulheres: a cenógrafa e figurinista Biza Viana, a cineasta Viviane Ferreira, presidente da APAN, a pesquisadora e curadora Janaína Oliveira, a historiadora Edileuza Penha de Souza, que comanda a Mostra de Cineastas e Produtoras Negras Adélia Sampaio, e a documentarista Carmen Luz, autora do longa-metragem “Um Filme que Dança”.
A comissão julgadora terá significativo material para analisar. Na competição oficial (Troféu Candango) de longas e curtas-metragens, há filmes de André Novais Oliveira, de Minas Gerais (“Temporada”, protagonizado pela atriz e dramaturga Grace Passô), da dupla baiana Glenda Nicásio e Ary Rosa (“Ilha”, com Arlete Dias e Aldri Assunção à frente do elenco), Fábio Rodrigo (“Kairo”), dos Irmãos (Marcos e Eduardo) Carvalho (“Eu, minha Mãe e Wallace”, com Fabrício Boliveira), de Vinícius Silva e Pedro Nishi (“Liberdade”), entre outros.