Calendário de festivais em transe com falta de patrocínio financeiro

Por Maria do Rosário Caetano

O mais tradicional festival de cinema do país, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, criado em 1965 por Paulo Emilio Salles Gomes e equipe, acaba de mudar sua data de setembro para o final de novembro (início dia 22), com noite de entrega de prêmios dia primeiro de dezembro. Em tese, sua quinquagésima-segunda edição aconteceria em setembro, de 13 a 21.

A mudança tem razão clara: não há dinheiro para bancar o custo do mais antigo festival do país. Faltam recursos, porque a Petrobras, que apoiava o evento há quase duas décadas, retirou seu apoio, e o novo governo (liderado pelo empresário Ibaneis Rocha), através de seu secretário de Cultura e Economia Criativa, Adão Cândido, não realizou, em tempo hábil, edital para escolher OSC (Organização da Sociedade Civil) capaz de buscar, junto a novos patrocinadores públicos ou privados, os recursos necessários.

Como o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é uma realização da Secretaria de Cultura, com o advento das leis de incentivo, tornou-se mais eficiente e ágil contar com uma OSC para levantar patrocínios. Porém, só agora os quadros técnicos da pasta da Cultura estão, realmente, cuidando dos trâmites necessários à busca da parceira encarregada de agilizar, via leis de incentivo, a captação de recursos. O prazo será curto, mesmo com a transferência da data para novembro/dezembro, pois, com a crise econômica, a situação vem se mostrando adversa com projetos de natureza artístico-cultural.

O Festival de Brasília, ao contrário da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece sempre na segunda quinzena de outubro, já mudou de data muitas vezes. Em seu nascedouro, a Fundação Cultural de Brasília (hoje Secretaria de Estado) previa um grande festival artístico na primavera. Ou seja, em setembro. Mas o festival teve edições em julho, em outubro e em novembro (nesta data, na Era Collor, quando se deu o desmonte dos organismos de fomento e dispor de seis longas-metragens para disputar os Troféus Candango tornou-se imenso desafio). Houve ano em que foram selecionados seis filmes, mas um deles (visto em precária “prova videográfica”) não ficou pronto em tempo. O jeito foi realizar a competição com apenas cinco concorrentes.

Como a produção brasileira tem gerado média de 150 longas-metragens/ano, não faltarão filmes para a edição de número 52. Mas o festival candango será obrigado a torcer para que títulos importantes não percam o ineditismo. Ou seja, não optem pelo segmento brasileiro da Mostra Internacional de Cinema (que costuma selecionar média de 40 longas ficcionais e documentais).

Nos últimos anos, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro contou com apoio total dos governantes. Nas gestões de Cristovam Buarque, Agnelo Queiroz e Rodrigo Rollemberg, ele foi realizado com forte apoio oficial. Resta saber o quanto o governador Ibaneis Rocha, do MDB, eleito com discurso sintonizado aos novos tempos (prioridade máxima para a segurança pública) vai empenhar-se na busca de recursos para o mais longevo evento cultural do DF.

Com a mudança de data do 52º Festival de Brasília, o calendário de festivais deve sofrer reajustes. O Festival do Rio, que aconteceria em setembro, ano passado foi transferido para novembro. Este ano, enfrentará nova adversidade: o governador empossado em janeiro, Wilson Witzel, vem somar-se ao prefeito Marcelo Crivella em sua relação problemática com a cultura. Por isto, o festival carioca, de alcance internacional, ainda não divulgou sua data. O Cine PE (festival de cinema de Pernambuco), que acontecia em abril, passou para maio e, agora, migrou para julho/agosto (29 a 4). O Anima Mundi, que tem o Rio como base e São Paulo como extensão, perdeu o patrocínio da Petrobras, e, por isto, está em busca, via crowdfunding (a popular vaquinha), de recursos financeiros. Daí que sua data histórica, julho, depende dos recursos levantados. Outro que abandonou o mês de junho foi o FAM (Festival do Audiovisual do MercoSul, realizado em Santa Catarina). Está agendado para o começo da primavera.

Por enquanto, o calendário de festivais está assim anunciado:

MAIO

Mostra Ecofalante (São Paulo): 30/5 a 12/6

JUNHO

Olhar de Cinema (Curitiba): de 5 a 13
CineOP (Ouro Preto): 5 a 10
Festival Varilux (São Paulo): 6 a 19
In-Edit (São Paulo): 12 a 23
Fest Guarnicê (Maranhão): 14 a 26
Santos Film Festival: 26/6 a 3/7

JULHO

Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

AGOSTO

Festival de Gramado (RS): 16 a 23
Festival Internacional de Curta de SP: 21/8 a 1/9
Cine Ceará (Fortaleza): 31/8 a 7/9

SETEMBRO

Festival de Vitória (ES): 24 a 29
FAM (Florianópolis): 26/9 a 2/10

OUTUBRO

Mostra Internacional de Cinema de SP: 17 a 31

NOVEMBRO

Mostra de Cinema Russo (SP): 4 a 10
Festival de Ilhabela (SP): 19 a 23
Festival de Cinema de Gostoso (RN): 22 a 26
Festival de Brasília: 22/11 a 1/12

DEZEMBRO

Festival Aruanda (PB): 5 a 11

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