Santos Film Fest homenageia o montador e cineasta Daniel Rezende
Por Maria do Rosário Caetano
O Santos Film Festival, que realiza sua quarta edição na Baixada Santista, desta quarta-feira, 26, até 3 de julho, vai prestar homenagem ao montador e cineasta Daniel Rezende, indicado ao Oscar pela edição de “Cidade de Deus” e diretor dos longas-metragens “Bingo, o Rei das Manhãs” e “Turma da Mônica Laços”.
Rezende, paulistano de 44 anos, receberá troféu das mãos de um dos homenageados, o ator santista Luciano Quirino, já que o outro, o também santista Rubens Ewald Filho, faleceu no último dia 19. E, por isto, o crítico, apresentador do Oscar, dicionarista e editor receberá tributo in memoriam do Festival Internacional de Filmes de Santos.
Depois da homenagem, será exibido o filme “Turma da Mônica Laços”, primeiro longa inspirado nos personagens de Maurício de Souza feito em live action (ou seja, com atores de carne e osso). Daniel Rezende, que montou, também, “Tropa de Elite 1”, “Tropa de Elite 2” e filmes de Walter Salles, como “Diários de Motocicleta” e “Água Negra”, se fará acompanhar do quarteto protagonista do filme infanto-juvenil, os atores-mirins Giulia Benitte (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Laura Rauseo (Magali) e Gabriel Moreira (Cascão).
A cineasta Angela Zoé, vencedora do 3º Santos Film Festival, com longa documental sobre o cartunista Henfil, ganhará mostra com quatro filmes (“Meu Nome é Jacque”, “Betinho – A Esperança Equilibrista”, “Henfil” e o curta-metragem “Ele Era Assim: Ary Barroso”).
O diretor-geral do Santos Film Festival, André Azenha, garante que “a programação traz vasto e diversificado panorama do cinema, em gêneros, temas e origens geográficas”. E detalha: “há documentários, dramas, comédias, animações, terror, docudrama, aventura, filmes que abordam a infância, a vida adulta, a terceira idade, questões de gênero, raça, produções de diversos estados brasileiros e de países como França, Suécia, Argentina, Japão, Estados Unidos e Colômbia”.
“Este ano, o festival começa com um filme sobre a infância (‘Turma da Mônica’)” – observa Azenha – “e termina com um filme sobre a terceira idade (“Asilo: Última Curva da Vida”, de João Marinho Normando). “Uma jornada da vida, representada em diferentes histórias, contadas pelos mais variados e complexos olhares”.
A mostra competitiva premiará o melhor curta e o melhor longa, segundo o júri oficial e popular. Haverá menção honrosa para a melhor produção da Baixada Santista.
Os sete concorrentes na categoria longa-metragem são o baiano “Bando, um Filme De”, de Lázaro Ramos e Thiago Gomes, ótimo retrato da trupe “opaió” (Grupo Teatro Olodum); o pernambucano “Salustianos”, de Tiago Leitão, sobre a musical família de Mestre Salustiano; a ficção brasiliense “A Roda da Vida”, de William Alves e Zefel Coff, o paulistano “O Coringa do Cinema”, de Sérgio Kieling, registro da trajetória do “faz-tudo” da Boca (cinematográfica) do Lixo, Virgílio Roveda, e o mineiro “O Imperfeccionista Ian Guest”, de Marcello Nicolato, que perfila o músico e professor brasileiro (nascido na Hungria) Ian Guest. Do Rio, chegam dois concorrentes: “”Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto”, sobre “a travesti da família brasileira”, e “Eduardo Galeano Vagamundo”, de Felipe Nepomuceno, retrato poético do autor de “Veias Abertas da América Latina”.
Os curtas-metragens chegam de diversos estados brasileiros: “Admirável Mundo Destro”, de Luiza Leal, vem de Alagoas e soma-se ao catarinense “Nossa Terra”, de Samuel Moreira, ao carioca “Um Café e Quatro Segundos”, de Cristiano Requião, ao baiano “As Balas que Não Dei ao meu Filho”, de Thiago Gomes, ao paranaense “Primavera de Fernanda”, de Débora Zanata e Estevan de la Fuente, e ao paulista “The Pink Panher Boite”, de Kauê Melo. Santos se faz representar por “Cinquenta – Brevíssima História das nossas Gentes Contada por Algumas Lentes”, de Gilson Barros.
A cineasta belgo-francesa Agnès Varda (1928-2019), falecida em março último, será lembrada com pequena mostra-tributo. E, graças à parceria com a Cinemateca Francesa, serão exibidos três filmes recentes, vindos do país dos Lumière: “Outsider”, de Christophe Barratier, “Makala”, de Emmanuel Gras, e “Ernest e Celestine no Inverno”, de Julien Cheng e Jean-Christophe Roger.
A representação de longas brasileiros em segmento informativo (Mostra Humanidades), será das mais significativas. Os santistas poderão ver “Temporada”, do mineiro André Novais Oliveira, o gaúcho “Tinta Bruta”, de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon, os cariocas “Unicórnio”, de Eduardo Nunes, e “Todos os Paulos do Mundo”, de Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira. Dois longas paulistanos – “Meu Corpo é Político”, de Alice Riff, e “Lembro Mais dos Corvos”, de Gustavo Vinagre – estão, também, na mesma mostra.
“Corvos” será mostrado e debatido com sua protagonista, a atriz trans Júlia Katharine. Dela, será exibido “Tea for Two”, primeiro curta de uma realizadora trans a ser exibido no circuito comercial brasileiro (como complemento do filme de Vinagre). Júlia, de 41 anos, prepara, agora, com a ajuda da atriz Gilda Nomacce, seu primeiro longa-metragem como diretora , “Família Valente”.
A safra brasileira traz, ainda, dois filmes que miram o mundo: o argentino-brasileiro-palestino “Los Territórios”, de Ivan Granovsky (que parte do atentado ao Charlie Hebdo francês), e “Logo Ali – África do Sul”, de Beto Chaves e Leo Santos, no qual “um policial civil vai ao país de Nelson Mandela, para tentar entender como uma nação marcada pelo apartheid virou esta trágica página”.
“A Juíza”, de Betsy West e Julie Cohen, sobre RBG (Ruth Bader Ginsburg), uma das poucas mulheres a ocupar vaga na Suprema Corte dos EUA, também será mostrado aos santistas. A personagem está tão em evidência em seus país, que deu origem também a um filme ficcional (“Suprema”), no qual foi representada pela atriz Felicity Jones.
A prata da casa, ou seja, a produção caiçara, terá presença significativa no Santos Film Festival. O cineasta, dramaturgo e diretor de teatro Rafael Gomes vai apresentar e debater com o público (na terça-feira, 2 de julho, às 19h30, no Roxy) sua estreia no longa-metragem, “45 Dias sem Você”.
Outro santista, Rodrigo Bernardo, que prepara filme sobre o conterrâneo (morto precocemente) Charlie Brown, da banda Charlie Brown Jr, vai narrar sua trajetória no cinema e na TV (no sábado, 29, no Roxy 4, às 16h00). Membro da Academia Internacional do Emmy, Bernardo comandou duas temporadas da série “(Des)Encontros”, exibidas no canal Sony, e dirigiu o filme “Talvez uma História de Amor”, com Mateus Solano. O santista será o responsável pela adaptação cinematográfica das aventuras do herói japonês Jaspion.
Na segunda-feira, 1º de julho, às 19h30, o crítico de cinema Waldemar Lopes lançará o livreto “Grandes Interpretações do Cinema Brasileiro”, no Shopping Pátio Iporanga. Trata-se de coletânea de textos sobre as grandes atuações como a de Sonia Braga em “Dona Flor e seus Dois Maridos”, e a de Wagner “Capitão Nascimento” Moura em “Tropa de Elite”.