Bilheterias brasileiras
Por Maria do Rosário Caetano
Balanço parcial de bilheteria do cinema brasileiro neste ano de 2019, que se anunciava terrível, apresenta resultado razoável. Afinal, foram vendidos, ao longo do primeiro semestre, 12 milhões de ingressos para títulos nacionais. O recordista de público foi “Minha Vida em Marte”, que atingiu 5,4 milhões de espectadores, graças à cativante presença do ator Paulo Gustavo, o novo midas da comédia brasileira.
Ajudaram as estatísticas, filmes como “De Pernas pro Ar 3”, com Ingrid Guimarães, a “rainha do blockbuster” (quase 2 milhões de espectadores), “Turma da Mônica – Laços” (ainda em cartaz e já visto por 1,7 milhão), “Kardec”, sobre o pai do espiritismo, com quase 800 mil, e parte da bilheteria do infantil “Detetives do Prédio Azul – O Mistério Italiano” (de seus 1,3 milhão de ingressos, pelo menos 500 mil foram vendidos em 2019).
Contribuição modesta foi dada por uma série de filmes com bilheterias bem aquém da esperada: “Sai de Baixo – O Filme” (500 mil), “Cinderela Pop” (480 mil), “Cine Holliúdy – A Chibata Sideral” (200 mil), “Minha Fama de Mau” (175 mil) e “Chorar de Rir”, protagonizado pelo ex-midas da comédia brasileira, Leandro Hassum (100 mil).
Dois filmes do circuito de arte também deram sua contribuição, por menor que seja: a ficção “Divino Amor” (ainda em cartaz, 30 mil espectadores) e o documentário “Fevereiros”, registro da devoção religiosa de Maria Bethânia (20 mil).
O ano em curso não contará com “Minha Mãe é uma Peça 3”, comédia protagonizada pelo mobilizador Paulo Gustavo. Isto porque a vitoriosa dupla Fraccaroli e Wainer (Paris-Downtown) remanejou sua data de estreia (de dezembro para janeiro). De agora em diante, caso se registre novo triunfo (de 4,6 milhões, no primeiro, a “mãe gustaviana” subiu para 9,3 milhões espectadores na sequência), sua bilheteria não será mais fraccionada entre dois anos (o da estreia, com estouros de público nas duas últimas semanas de dezembro, e o da continuação, no primeiro trimestre do novo ano).
Há filmes com promissor apelo de público anunciados para os próximos meses (agosto a dezembro). Um deles – “Nada a Perder 2”, de Alexandre Avancini, sobre o bispo da Igreja Universal – foge de todos os parâmetros comerciais, já que seus ingressos são pré-adquiridos por pastores e distribuídos entre fieis. Estes nem sempre comparecem aos cinemas. Mesmo assim, suas bilheterias serão computadas como foram as de “Os 10 Mandamentos” e de “Nada a Perder” (parte 1). A sequência da cinebiografia do bispo chega aos cinemas no dia 15 de agosto. Espera-se que seja menos entendiante que a primeira, distante anos-luz dos poderes de sedução bíblica de “Os 10 Mandamentos”.
Dentro do sistema normal, ou seja, aquele em que o cidadão paga, do próprio bolso, o valor do ingresso para assistir a filme de sua livre escolha, há produções que esperam estabelecer bom diálogo com o público. Caso de “Vai que Cola – O Começo”, de César Rodrigues, com elenco televisivo comandado por Samantha Schmutz (12 de outubro), “Ela Disse, Eu Disse”, de Cláudia Castro, com a adolescente Maysa (dia 3 de outubro), “Hebe – A Estrela do Brasil”, de Maurício Farias (dia 26), “Os Parças 2”, de Cris D’Amato (14 de novembro), “Carcereiros, o Filme”, de José Eduardo Belmonte (21 de novembro) e, em 5 de dezembro, “10 Horas para o Natal”, também de Cris D’Amato, com Luís Lobianco interpretando um tio boa praça e amalucado. Em sua primeira aparição cinematográfica (“Um Tio Quase Perfeito”), ele mobilizou público significativo (500 mil ingressos).
Já no campo do cinema de arte – aquele que não costuma ocupar mais de cem das 3.200 salas brasileiras – há, também, promissoras estreias agendadas para este segundo semestre. A primeira delas é “Bacurau”, de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, filme premiado em Cannes e Munique (dia 29 de agosto, com distribuição da Vitrine). As ficções anteriores do cineasta pernambucano venderam 100 mil ingressos (“O Som ao Redor”) e 370 mil (“Aquarius”). Aguardemos para ver quantos espectadores mobilizará “Bacurau”, western sertanejo, que dialoga com o cinema de horror e presta tributo à melhor história do cinema brasileiro.
Outra estreia é o polêmico “Marighella”, de Wagner Moura. O filme será lançado numa quarta-feira, 20 de novembro, justo o Dia da Consciência Negra. Nunca é demais lembrar que o ator, agora cineasta, escalou para interpretar o guerrilheiro mestiço, filho de mãe negra brasileira e pai branco italiano, o negro Seu Jorge. Com esta opção, o cineasta espera mobilizar, especialmente, o público afro-brasileiro. A trajetória de “Marighella”, o filme, dependerá da mensuração do grau de crispação política que ora divide o país. Tal divisão se dá de forma nunca vista antes (até porque ultrapassou, graças à capilaridade da internet, o que se viu no derradeiro ano do Governo Jango).
Quantas salas serão ocupadas por “Marighella”? Cem, 300, 500? Wagner Moura quis fazer um filme de ação. O público tradicional do gênero (aquele que comprou mais de 11 milhões de ingressos para ver o Capitão Nascimento em “Tropa de Elite 2”) terá o mesmo interesse por Carlos Marighella (1911-1969)? Se o capitão do Bope era um personagem fictício, o guerrilheiro baiano teve existência real, e dedicou sua vida a combater duas ditaduras brasileiras (a de Vargas e a militar). O roteiro de “Marighella” concentra-se na que triunfou em 1964. Hoje, parte da população brasileira comunga e festeja, orgulhosa, o ideário dos tempos ditatoriais.
Como diretor – e não como o carismático protagonista de “Tropa de Elite” – Wagner Moura conseguirá mobilizar o grande público, independente de sua opção política? Só o tempo dirá.
O primeiro dos filmes que terão circuito de lançamento mediano é “Simonal”, de Leonardo Domingues (estreia no próximo 8 de agosto). À frente do elenco, Fabrício Boliveira e Isis Valverde. A versão documental da agitada vida do cantor (“Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Dei”) vendeu substantivos 75 mil ingressos (dado significativo para o gênero).
Boa expectativa cerca a comédia “Maria do Caritó”, de João Paulo Jabour, protagonizado por Lília Cabral, atriz de grande credibilidade. E, também, “Depois a Louca Sou Eu”, de Júlia Rezende, com Débora Falabella e Yara de Novaes. Outra comédia que pretende dialogar com o público é “Socorro! Virei uma Garota”, de Leandro Neri. O elenco não é estelar, mas o tema é “da hora” (garoto que vira garota por efeito de um raio!). Com este artifício – mudança de corpos – “Se Eu Fosse Você” estourou nas bilheterias brasileiras). Outro filme no fértil terreno da comédia brasileira, “Canta prá Subir”, de Caroline Fioratti, com Cacau Protásio de protagonista, espera mobilizar o grande público. Sua estreia está prevista para 31 de outubro.
Há expectativa, também, com “Boca de Ouro”, terceira recriação do personagem de Nélson Rodrigues, já vivido por Jece Valadão (direção de Nelson Pereira dos Santos) e por Tarcísio Meira (direção de Walter Avancini). Desta vez, o filme traz o crédito do veterano Daniel Filho e tem Marcos Palmeira na pele do bicheiro que nasceu em pia de puteiro e mandou substituir seus dentes originais por dentadura de ouro. Estreia prevista para 17 de outubro.
Dois filmes que dialogam com o cinema de horror já têm datas de lançamento: “Morto Não Fala”, do gaúcho Dennisson Ramalho, com o talentoso Daniel Oliveira (estreia em 10 de outubro), e “Juízo”, de Andrucha Waddington, com roteiro de Fernanda Torres, e elenco estelar (Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Felipe Camargo e Criolo), previsto para 12 de dezembro. Ainda na categoria cinema de gênero, situa-se “Amor Assombrado”, de Wagner Assis (com Vanessa Gerbelli e Carmo Dalla Vecchia).
Para o público cristão, André Marouço realizou “Paulo de Tarso e a História do Cristianismo”. Pouco se sabe do diretor e do filme. No campo do cinema de ação, Caio Cobra comparece com “Virando a Mesa”, com Rainer Cadete e Natália Rodrigues no elenco (24 de outubro).
No terreno da animação, a pedida é “A Cidade dos Piratas”, alucinada viagem de Otto Guerra pela mente da cartunista Laerte, já desinteressada, depois de sua opção trans, pelos personagens metidos a machões, que criou, desenhou e difundiu na Folha de S. Paulo (estreia dia 10 de outubro).
Confira outras estreias previstas:
JULHO
Dia 26
“A Serpente”, de Jura Capela
AGOSTO
Dia primeiro
“No Coração do Mundo”, de Maurílio e Gabriel Martins (MG)
“Abaixo a Gravidade”, de Edgard Navarro (BA)
“A Última Chance”, de Paulo Thiago
Dia 8
“Jovens Polacas”, de Alex Levy-Heller
“O Amigo do Rei”, de André D’Elia
“Alma Imoral”, de Sílvio Tendler
“Leste-Oeste”, de Rodrigo Grotta (PR)
Dia 15
“Eu Sou Brasileiro”, de Alessandro Barros
Dia 22
“Uma Noite Não é Nada”, Alain Fresnot
Dia 29
“O Amor Dá Trabalho”, de Alê McHaddo
“A Mulher do meu Marido”, de Marcelo Santiago
SETEMBRO
Dia 2
“Correndo Atrás”, de Jeferson De
Dia 12
“Greta”, de Armando Praça (CE)
Dia 19
“Carta para Além dos Muros”, de André Canto
Dia 26
“Legalidade”, de Zeca Brito (RS)
“Marés”, de João Paulo Procópio (DF)
“Foro Íntimo”, de Ricardo Mehedff
“Divaldo, o Mensageiro da Paz”, de Clóvis Mello
“O Outro Lado da Memória”, de André Luiz Oliveira (DF/BA)
OUTUBRO
Dia 3
“Um Dia para Suzana”, de Giovanna Giovanni e Rodrigo Boecker
Dia 10
“Eu Sinto Muito”, de Cristiano Vieira
NOVEMBRO
Dia 7
“Inaudito”, de Gregório Guananian
“Os Sonâmbulos”, de Thiago Mata Machado (MG)
Dia 21
“Noites de Alface”, de Zeca Ferreira
DEZEMBRO
Dia 5
“Ainda Temos a Imensidão da Noite”, de Gustavo Galvão
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