Regina Casé é aplaudida de pé na Mostra SP
Por Maria do Rosário Caetano
A plateia que lotou o Theatro Municipal, um dos novos palcos da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na noite da última sexta-feira, 19 de outubro, para assistir à première brasileira de “Três Verões”, de Sandra Kogut, aplaudiu de pé a atriz Regina Casé.
Como fizera, com talento raro, em “Eu Tu Eles”, de Andrucha Waddington, e “Que Horas Ela Volta?”, de Anna Muylaert, Regina é a protagonista absoluta do quarto longa-metragem de Sandra Kogut e encarna, mais uma vez, uma cativante mulher do povo. Desta vez, com os cabelos frisados para reforçar, ainda mais, sua alma afro-brasileira.
Ao apresentar o filme, a atriz, de 65 anos, lembrou que devia um longa-metragem à “amiga e comadre Sandra”, com quem fizera um curta, quase média-metragem, muito especial, “Lá e Cá” (1995). Pediu uma salva de palmas para o filho pequeno (Roque Casé Ciavatta, de seis anos), que a acompanhava, de impecável terno branco e bocejando de sono. “Ele passa meses sem mim quando eu filmo, então, de alguma forma, contribuiu com o filme. Por isto, peço uma salva de palmas para ele (Roque adorou os aplausos)”. E fez questão de elogiar o ator Rogério Fróes, de 85 anos, seu principal parceiro em “Três Verões”. Ainda “não vi o filme”, avisou, “mas sei que ele está maravilhoso pelas incríveis sequências que fizemos juntos”. O ator, no palco do Municipal, com outros integrantes da equipe, sorriu, feliz.
De saída, dá para afirmar que “Três Verões” tem tudo para ser o primeiro sucesso comercial de Sandra Kogut, 54 anos. O primeiro longa por ela dirigido, o documentário “Passaporte Húngaro” (2001), não se destacou no circuito comercial. Já “Mutum” (2007), sua encantadora adaptação do livro “Manuelzão e Miguelim”, de João Guimarães Rosa, ficou bem aquém do esperado. O exibidor Adhemar Oliveira, do Circuito Espaço Itaú de Cinema, disse muitas vezes que o filme, protagonizado por uma criança míope, teria sido um sucesso se contasse com uma poderosa trilha sonora. Mas Sandra quis fazê-lo à moda Robert Bresson, com, digamos, silêncios musicais.
“Campo Grande” (2015), um drama de muitas qualidades, patinou nas bilheterias. Agora, ela tem dois trunfos para chegar ao público: o talento de Regina Casé e o humor, característica pouco explorada em seus filmes anteriores.
Regina participou de alguns filmes brasileiros – destaque para “Tudo Bem”, de Arnaldo Jabor, “Os Sete Gatinhos”, de Neville D’Almeida, “Segredo da Múmia”, de Ivan Cardoso, e “Marvada Carne”, de André Klotzel – mas como coadjuvante ou em participação especial. Protagonista absoluta, só em três longas: “Eu Tu Eles”, no qual deu vida a uma sertaneja casada, ao mesmo tempo, com três homens, “Que Horas Ela Volta?”, em que foi Val, a doméstica dedicada aos patrões que recebe a filha, pernambucana e rebelde, em véspera de prestar vestibular na USP, e agora, como Madá, a caseira de luxuosa mansão no litoral fluminense.
“Eu Tu Eles” vendeu 800 mil ingressos. “Que Horas Ela Volta?”, quase 500 mil. Quantos espectadores fará “Três Verões”? Não dá para prever, pois o país está de cabeça para baixo e nosso mercado exibidor vem castigando a produção nacional com índices muito negativos.
O quarto longa de Sandra Kogut tem, como pano de fundo, a operação Lava Jato. E, na linha de frente, Madalena, uma mulher cheia de vida, de espírito empreendedor, que sonha em comprar um terreninho para nele instalar descolado quiosque. Ela conseguirá realizar seu intento, mas não perceberá que o patrão, Edgard Lira (Otávio Muller) fará o pagamento da entrada do terreno e, no mesmo instante, comprará o velho celular dela. Claro que com segundas intenções. Ele a envolverá em suas falcatruas financeiras. Com a prisão de seu empregador, a vida de Madá e dos demais empregados da casa se complicará. Eles continuarão na mansão e cuidarão do velho pai de Edgard, o Senhor Lira (Rogério Fróes), um honesto mas debilitado professor aposentado.
O roteiro, escrito por Sandra Kogut e Iana Casoy Paro, ganhou contribuições milionárias de Regina Casé e Hermano Vianna. Regina e Hermano, nunca é demais lembrar, são parceiros de longa estrada, dois apaixonados pelo humor e pelas virações das gentes das periferias brasileiras. Ninguém, pois, espere análises político-sociológicas das causas da corrupção brasileira, nem um retrato profundo do Brasil que se dividiu em dois e vem alimentando-se de ódio. O filme é alto astral, bem-humorado, muito colorido e ambientado em trecho paradisíaco da costa fluminense. E, coisa rara em nosso cinema, tem final feliz.
A história se passa em três verões (incluindo o nosso Natal tropical e o Ano Novo), banhados de sol ou chuvas torrenciais, na mansão da Família Lira. O primeiro em 2015, o segundo em 2016 e o terceiro em 2017 (o país rumava para o despenhadeiro que o levou a eleger Jair Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, de pensamento filiado a ideais de extrema direita). Ao apresentar o filme, Sandra Kogut lembrou que, “se observássemos bem, veríamos que tudo estava exposto naqueles três verões pré-2018”.
A Madá de Regina Casé, ajudada por um motorista (o hilário Emilson Barros) e por duas belas moças negras (Jéssica Ellen e Wilma Mello), faz como o povo brasileiro: segue em frente, apesar de todos os problemas que já enfrentou e há de enfrentar. Tudo indica que a colaboração e as improvisações de “comadre Regina” foram tantas, que o terceiro (e último) verão até se desequilibrou.
A filmagem de um comercial natalino na mansão, que perdeu os patrões, dá à atriz-protagonista a possibilidade de fazer um solo de prima donna (mesmo que de origem proletária). Madá é testada para dar um depoimento à equipe comandada pelo ator-e-cineasta Luciano Vidigal (um dos esteios do Nós do Morro e do Nós do Cinema). A cena se estende por longos minutos. Regina Casé realmente dá um show, mas quebra o ritmo do filme, que vinha impecável. Mesmo assim, ela há de emocionar o público com este momento melodramático.
“Três Verões” terá, ainda, duas novas sessões na Mostra SP: sexta-feira, dia 25 (Itaú Frei Caneca, às 15h40), e terça-feira, dia 28 (Petra Belas Artes, às 15h30).
Olá, boa noite
Me chamo Rayssa Soares dos Santos e sou de Caraguatatuba, litoral norte de SP.
Sou estudante de jornalismo e estou realizando um trabalho proposto em sala de aula. Gostaria de saber um pouco mais a respeito do veículo, sua história, se Revista de Cinema é um veiculo voltado para a o jornalismo especializado em cinema, quem são os criadores.
Obrigada pela atenção.