Encontro de Cinema Zózimo Bulbul será aberto por Angela Davis

Por Maria do Rosário Caetano

A filósofa, professora universitária e ativista da causa black, Angela Davis, é a convidada especial do 12º Encontro de Cinema Zózimo Bulbul, que acontece no Rio de Janeiro (com extensão a Niterói), desta quarta-feira, 23 de outubro, até 3 de novembro.

Anotem o nome completo (e complexo) do evento: Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas. Trata-se de um festival que reflete sobre a criação audiovisual no Brasil e no mundo e mostra filmes de curta, média e longa-metragem vindos de vários continentes. O Encontro transformou-se, nos últimos anos, na mais vistosa das atividades do Centro Afro Carioca de Cinema, organismo presidido pela figurinista e diretora de arte Biza Vianna.

O festival, que prefere definir-se com a generosa palavra “Encontro”, traz o nome do ator e cineasta que o idealizou, Zózimo Bubul (1937-2013), presença marcante nos elencos de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha”, e “Compasso de Espera”, de Antunes Filho, e diretor do seminal “Alma no Olho” e do longa documental “Abolição”.

As curadoras Janaína Oliveira e Carmen Luz substituem o cineasta Joel Zito Araújo, responsável por muitas edições, duplamente ocupado com a realização do ficcional “O Pai da Rita” e com o lançamento do documentário “Meu Amigo Fela”. Elas prometem a maior, em qualidade e quantidade, das edições do Encontro.

Joel Zito estará presente na décima-segunda edição do festival com o descolado e vibrante longa-metragem que dedicou ao cantor e compositor nigeriano Fela Kuti (1938-1997), e com a ficção “As Filhas do Vento”, um dos títulos da retrospectiva que homenageará a atriz Léa Garcia.

Entre as atrações brasileiras inéditas, destaca-se a estreia de Viviane Ferreira no longa-metragem. Seu filme “Um Dia com Jerusa” tem a mesma atriz Léa Garcia encabeçando o elenco. A jovem cineasta centra sua narrativa no encontro de duas gerações de mulheres negras, que partilham memórias e vivências como forma de aplacar a solidão cotidiana. Viviane preside a APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), organismo que vem desenvolvendo substantivo trabalho de inserção de realizadores afro-brasileiros em nossa cinematografia.

Um dos maiores destaques do festival é o projeto “Imersão em Curadoria”, que contará com 12 curadores negros, para desenvolvimento de ideias e novos projetos audiovisuais.

Angela Davis, que militou no grupo (depois, partido político) Black Panther (Pantera Negra) e foi tema de um ótimo documentário (“Libertem Angela Davis”, de Shola Lynch, 2011), estará na abertura do Encontro Zózimo Bulbul para proferir palestra (“A Liberdade é uma Luta Constante”) e autografar o livro “Uma Autobiografia” (Boitempo Editorial). Outros nomes expressivos do cinema black, como Terence Nance e Naima Ramos-Chapman, já confirmaram presença. Além destes dois realizadores, o Encontro receberá mais dezoito cineastas internacionais vindos do Senegal,Quênia, Ruanda, Burkina Faso, África do Sul, EUA, Sérvia, Alemanha, França, Colômbia e México

A representação brasileira compõe-se com 80 realizadores, sendo metade do Rio de Janeiro, Estado anfitrião, e os outros 40 vindos do Pará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, DF, Goiás, São Paulo, Curitiba e Rio Grande do Sul. Há, portanto, representantes de todas as regiões brasileiras.

Exposição fotográfica sobre a carreira de Zózimo Bulbul e a exibição de 143 filmes (103 brasileiros e 40 internacionais) mostram o quanto o Encontro cresceu. Cresceu, inclusive, em espaços de exibição de filmes e atividades reflexivas, pois dois novos centros culturais foram agregados, aumentando sua capilaridade (Cinemateca do MAM e Memorial Getúlio Vargas).

Além de contar com duas curadoras (atenção ao feminino), o festival é liderado por mulheres. A começar por sua diretora-executiva Biza Vianna, companheira de Zózimo Bulbul, à frente do evento desde 2007 (em parceria com o ator-cineasta, até sua morte, em 2013). Viviane Ferreira assume a direção artística. As mulheres estão em todos segmentos do festival, tanto nos reflexivos, quanto nos formativos e nos créditos dos filmes selecionados.

Janaína Oliveira é historiadora e professora que pensa educação associada ao cinema. Na curadoria do Encontro desde 2017, primeiro em parceria com Joel Zito Araújo e agora com Carmen Luz, ela organizou Mostra de Cinema Negro Brasileiro, em homenagem a Zózimo Bulbul, no último Festival de Roterdã, na Holanda.

Carmen Luz tem formação multidisciplinar no campo artístico e é especializada em gestão cultural de equipamentos públicos. Ela, que é professora na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, participa dos Encontros de Cinema Negro desde a primeira edição.

A curadoria do festival destaca, no espaço reflexivo-formativo, uma dezena de debates, minicursos e masterclasses dedicadas ao tema “Diversas Linguagens, Estéticas e Novas Tecnologias”. Os interessados devem inscrever-se no site do Centro Afro Carioca, www.afrocariocadecinema.com.

Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas
Data:
23 de outubro a 3 de novembro
Local: Rio de Janeiro (Cine Odeon, com sessões das 11h00 às 23h00, no MAR-Museu de Arte do Rio: Imersão em Curadoria, de 29 a 31 de outubro, das 10h00 às 13h00, e exibições de 29 a 31 de outubro, das 14h00 às 18h00, naCinemateca do MAM (painéis e minicursos, de 28 de outubro à 3 de novembro, das 10h00 às 17h00, e exibições de 31 de outubro à 3 de novembro das 15h00 às 21h00), no Memorial Municipal Getúlio Vargas (cursos de 29 de outubro à 1 de novembro das 10h00 às 12h30 e exibições de 29 de outubro à primeiro de novembro, das 13h00 às 17h00), no Centro Afro Carioca de Cinema Zózimo Bulbul (cursos de 25 a 27 de outubro, das 16h30 às 20h30, e exibições de 31 de outubro à 2 de novembro das 20h00 às 22h00). Em Niterói: no Cine Arte UFF (exibições e mesas-redondas, dia 31 de outubro, das 14h00 às 22h00).

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