Confira os concorrentes ao Cesar

Por Maria do Rosário Caetano

A Academia Francesa de Artes e Técnicas do Cinema, responsável pela atribuição do prêmio Cesar, não deu ouvidos aos protestos contra o cineasta franco-polonês, Roman Polanski, de 86 anos, e fez de sua mais nova criação, o drama histórico “J’Accuse” (no Brasil “O Oficial e o Espião”, com estreia prevista para 12 de março), o recordista de indicações, 12 no total, incluindo melhor filme, direção, ator (para Jean Dujardin), roteiro adaptado, fotografia e dois coadjuvantes (Louis Garrel e Grégory Gadebois).

O presidente da Academia, Alain Terzian, ao ser indagado pela imprensa francesa sobre o recorde de indicações a “J’Accuse”, sendo seu diretor, Polanski, alvo de nova acusação de assédio sexual (desta vez por uma francesa), respondeu: “A Academia do Cesar não é uma instância que deva pautar-se por posições morais”. E acrescentou: “Salvo erro de minha parte, 1,5 milhão de franceses foram ver o filme de Polanski. Interroguem a eles”.

Em segundo lugar, com 11 indicações, está o drama social “Os Miseráveis”, de Ladj Ly, em cartaz nos cinemas brasileiros, um matizado mergulho na vida de filhos de imigrantes que vivem na periferia francesa, em sua conflituosa relação com a polícia. Em terceiro, com dez indicações, destaca-se o drama feminista “Retrato de uma Jovem em Chamas”, de Céline Sciamma (também em cartaz no Brasil), sobre o amor homoafetivo entre uma pintora e uma moça prometida em casamento a um nobre italiano.

A lista de concorrentes a melhor filme completa-se com “Graças a Deus”, de François Ozon, já lançado no Brasil, e os inéditos “La Belle Époque”, de Nicolas Bedos, com Daniel Auteuil (indicado a melhor ator) como protagonista, “Roubaix, Une Lumière”, de Arnaud Deplechin, e “Hors Normes”, da dupla Eric Toledano e Olivier Nakache, a mesma do blockbuster “Intocáveis”.

O longa brasileiro “Bacurau”, pré-indicado a melhor filme estrangeiro, não está na lista da Academia, mas um coprodução Itália-Brasil – “O Traidor”, de Marco Bellocchio – foi indicada ao lado de pesos-pesados como “Parasita”, da Coreia do Sul, “Coringa” e “Era uma Vez… em Hollywood”, ambos dos EUA, e três produções europeias – o espanhol “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, e os belgas “O Jovem Ahmed”, dos Irmãos Dardenne, e “Lola Vers la Mer”, de Laurent Micheli. A ausência de “O Irlandês” e “História de um Casamento” é justificada por decisão de produtores e exibidores franceses: só são aceitos filmes lançados em circuito cinematográfico. No caso, os longas de Scorsese e Baumbach só foram apresentados, pela Netflix, em streaming.

Na disputa “melhor longa documental”, um filme chileno é o grande destaque – “A Cordilheira dos Sonhos”, de Patricio Guzmán (embora a categoria seja dedicada somente a filmes franceses). A presença do autor do monumental “A Batalha do Chile” se explica pelo fato dele morar na França e trabalhar com produtores locais. Mas a cordilheira do filme é a dos Andes chilenos. E este documentário, premiado com o Olho de Ouro, em Cannes, fecha trilogia iniciada com “Nostalgia da Luz” (sobre o deserto e a memória dos que lutaram contra a ditadura chilena) e “O Botão de Pérola” (sobre o mar, onde corpos de prisioneiros políticos foram “enterrados”).

Na categoria melhor longa animado, um candidato se destaca dos demais: “Perdi meu Corpo”, de Jerémy Chaplin, disponível na Netflix brasileira. O filme recebeu críticas consagradoras da imprensa francesa e é um dos finalistas ao Oscar de Hollywood. Com ele, na disputa pelo Cesar, mais dois títulos: “Les Hirondelles de Kaboul”, de Zabou Breitman e Elea Gobbé-Mevellec, e “La Fameuse Invasion des Ours em Sicile”, de Lorenzo Mattotti.

Na categoria “melhor filme de diretor estreante”, estão dois filmes black que alcançaram imensa repercussão na França: “Os Miseráveis”, que além de críticas consagradoras, vendeu espantosos 1.970.000 ingressos, e “Atlantique”, de Mati Diop, Grande Prêmio do Júri, em Cannes. “Papicha”, de Monia Meddour, já lançado comercialmente no Brasil, “Le Chant du Loup”, de Antonin Baudry, e “Au Nom de la Terre”, de Édouard Bergeon, completam a lista.

O Cesar instituiu uma fórmula das mais curiosas para eleger o “melhor filme segundo o público”: indica os que venderam mais ingressos. Até o ano passado, o campeão de bilheteria já chegava à festa consagrado. Neste ano, o vencedor seria “Qu’est-ce qu’on Faire au Bon Dieu?”, de Philippe de Chauveron, que vendeu 6.710.000 ingressos. Mas a Academia resolveu inovar. Os sete campeões de bilheteria do ano (veja lista abaixo) vão disputar os votos dos acadêmicos, que elegerão o melhor.

Veja os indicados ao Cesar:

Melhor filme/Melhor diretor

. “J’Accuse” (“O Oficial e o Espião”) de, Roman Polanski
. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly
. “Retrato de uma Jovem em Chamas”, de Céline Sciamma
. “Graças a Deus”, de François Ozon
. “La Belle Époque”, de Nicolas Bedos
. “Roubaix, Une Lumière”, de Arnaud Deplechin
. “Hors Normes”, de Eric Toledano & Olivier Nakache

Melhor documentário

. “A Cordilheira dos Sonhos”, de Patricio Guzmán
. “68, Mon Père et Le Clous”, de Samuel Bigiaoui
. “Lourdes”, de Thierry Demaizière e Alban Teurlai
. “M”, de Yolande Zauberman
. “Wonder Boy Olivier Rousteing, Né Sous X”, de Anissa Bonnefont

Melhor animação

. “Perdi meu Corpo”, de Jerémy Chaplin,
. “Les Hirondelles de Kaboul”, de Breitman & Mevellec
. “La Fameuse Invasion des Ours em Sicile”, de Lorenzo Mattotti

Melhor filme de diretor estreante

. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly
. “Atlantique”, de Mati Diop
. “Papicha”, de Monia Meddour
. “Le Chant du Loup”, de Antonin Baudry
. “Au Nom de la Terre”, de Édouard Bergeon

Melhor longa estrangeiro

. “O Traidor”, de Marco Bellocchio (Itália-Brasil)
. “Parasita” (Coreia do Sul)
. “Dor e Glória” (Espanha)
. “O Jovem Ahmed” (Bélgica)
. “Lola Vers la Mer”, de Laurent Micheli (Bélgica)
. “Coringa” (EUA)
. “Era Uma Vez… em Hollywood” (EUA)

Melhor atriz

. Eva Green (Proxima)
. Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Noémie Merlant (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Chiara Mastroianni (Chambre 12)
. Karin Viard (Chanson Douce)
. Doria Tillier (La Belle Époque)

Melhor ator

. Jean Dujardin (J’Accuse)
. Damien Bonnard (Os Miseráveis)
. Daniel Auteuil (La Belle Époque)
. Vincent Cassel (Hors Normes)
. Reda Kateb (Hors Normes)
. Mevil Poupaud (Graças a Deus)
. Roschdy Zem (Roubaix, Une Lumière)

Melhor atriz coadjuvante

. Fanny Ardant (La Belle Époque)
. Josiane Balasko (Graças a Deus)
. Laure Ccalamy (Seules les Bêtes)
. Sara Forestier (Roubaix, Une Lumière)
. Hélène Vincent (Hors Normes)

Melhor ator coadjuvante

. Louis Garrel (J’Accuse)
. Gregory Gadebois (J’Accuse)
. Denis Ménochet (Graças a Deus)
. Swann Arlaud (Graças a Deus)
. Benjamin Lavernhe (Mon Inconnue)

Melhor “espoir” (promessa) feminina

. Mama Sané (Atlantique)
. Lyna Khoudri (Papicha)
. Luàna Bajrami (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Nina Meurisse (Camile)
. Céleste Brunnquell (Les Éblouis)

Melhor “espoir” (promessa) masculina

. Djebril Zonga (Os Miseráveis)
. Alexis Manenti (Os Miseráveis)
. Anthony Bajon (Au Nom de la Terre)
. Liam Pierron (La Vie Escolaire)
. Benjamin Lesieur (Hors Normes)

Melhor roteiro original

. Ladj Ly, G. Gederlini e A. Manenti (Os Miseráveis)
. Céline Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. François Ozon (Graças a Deus)
. Nicolas Bedos (La Belle Époque)
. Toledano & Nakache (Hors Normes)

Melhor roteiro adaptado

. Polanski e Robert Harris (J’Accuse)
. Costa-Gavras (Adults in the Room)
. Jéremy Chaplin e G. Laurant (Perdi meu Corpo)
. Arnaud Deplechin e Léa Mysius (Roubaix, Une Lumière)
. Dominik Moll e G. Marchant (Seules les Bêtes)

Melhor fotografia

. Pawel Edelman (J’Accuse)
. Julien Poupard (Os Miseráveis)
. Claire Mathon (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Irina Lubtchansky (Roubaix, Une Lumiére)
. Nicolas Bolduc (La Belle Époque)

Melhor montagem

. Hervé de Luze (J’Accuse)
. Flora Volpelière (Os Miseráveis)
. Laure Gardette (Graças a Deus)
. D. Rigal-Anous (Hors Normes)
. Danché e Vassault (La Belle Époque)

Melhor Música Original

. Alexandre Desplat (J’Accuse)
. Fatima Al Qadri (Atlantique)
. Dan Lévy (Perdi meu Corpo)
. Casanova e Chapiron/Grupo Pink Noise (Os Miseráveis)
. Gregoire Hetzel (Roubaix, Une Lumière)

Melhor figurino

. Pascaline Chavanne (J’Accuse)
. Dorothée Giraud (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Alexandra Charles (Jeanne)
. Thierry Delettre (Edmond)
. Emmanuele Youchnovski (La Belle Époque)

Melhor direção de arte

. Jean Rabasse (J’Accuse)
. Thomas Grézaud (Retrato de uma Jovem em Chamas)
. Franck Schwarz (Edmond)
. Stéphane Rozembaum (La Belle Époque)
. Benoît Barouh (Le Chant du Loup)

Melhor filme do público

. “Qu’est-ce qu’on Faire au Bon Dieu?”, de Philippe de Chauveron (1.710.000 ingressos)
. “Estaremos Sempre Juntos”, de Guillaume Canet (2.790.000)
. “Hors Nomes”, de Toledano & Nakache (2.090.000)
. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly (1.970.000)
. “Au Nom de la Terre”, de Edouard Bergeon (1.960.000)
. “La Vie Escolaire de Grand Corps Malade”, de Mehdi Idir (1.800.000)
. “Nicky Larson et le Parfum de Cupidon”, de Philippe Lacheau (1.680.000)

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