“Os Escravos de Jó” e homenagem a Antônio Pitanga inauguram Mostra Tiradentes

Por Maria do Rosário Caetano

Um filme – “Os Escravos de Jó”, décimo-segundo longa de Rosemberg Cariry – rodado em Ouro Preto, a mais importante cidade das Minas Gerais do ciclo do ouro, abre nesta sexta-feira, 24 de janeiro, a 23ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes.

O ator Antônio Pitanga, que integra o elenco do primeiro filme que o cearense Cariry rodou fora de seu Estado, receberá o Troféu Barroco por sua trajetória no cinema. A homenagem será estendida também à atriz Camila Pitanga, com significativos serviços prestados ao audiovisual brasileiro. Pai e filha serão tema de pequena mostra com alguns de seus principais filmes. Destaque para “Pitanga”, documentário que Camila dirigiu em parceria com Beto Brant, e ”Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios”, ficção que ela protagonizou.

O filme que Cariry ambientou em Ouro Preto é protagonizado por dois estudantes, Samuel (Daniel Passi) e Yasmina (Daniela Jesus), que se apaixonam. Mas, para afirmar sua história amorosa, eles terão que superar dificuldades e preconceitos. Personagens do passado e do presente cruzarão os caminhos dos dois jovens, arrastando-os a um inesperado destino. Com fotografia de Petrus Cariry, profissional dotado de rara sensibilidade para a imagem, “Os Escravos de Jó” conta, além dos protagonistas Daniel Passi e Daniela Jesus (e de Antônio Pitanga), com Sílvia Buarque, Everaldo Pontes, Bruna Chiaradia, Romi Soares, Hadi Bakkour e Rocco Pitanga.

Rosemberg Cariry e sua filha Bárbara são os produtores de outro filme que será apresentado na Mostra Tiradentes: “Sertânia”, do baiano Geraldo Sarno, de 81 anos, que se propõe a um novo mergulho no sertão profundo do Brasil. O elenco desta obra ficcional, selecionada para o segmento “Olhos Livres”, traz nomes conhecidos como Júlio Adrião, Lourinelson Vladmir (de “Para minha Amada Morta”) e Edgard “Superoutro” Navarro, mais festejado como cineasta, que como ator (neste ofício, ele tem presença bissexta). A eles, somam-se Vertin Moura, o protagonista, Igor de Carvalho, Gilsérgio Botelho, Kécia do Prado, Isa Mei, Marcelo Cordeiro, Rogério Leandro, Marcos Duarte e Teófilo Gobira. Nos créditos técnicos, colaboradores de Eryk Rocha, como o diretor de fotografia Miguel Vassy e o montador Renato Vallone.

“Sertânia”, cujas filmagens aconteceram na glauberiana Milagres, em Brumado e em Marcionílio de Souza, propõe-se a explorar “as relações de poder no interior nordestino”. E, também, “as dores familiares que atormentam a vida do protagonista em sua luta pela sobrevivência”. Sem esquecer “os rostos que habitam um sertão pobre e violento”. Um sertão muito familiar a Sarno, documentarista experimentado. Diretor de mais de vinte filmes, entre eles o ficcional “Coronel Delmiro Gouveia” e o seminal “Viramundo”, o realizador baiano foi dos nomes da linha de frente da chamada “Caravana Farkas”, movimento que impregnou o audiovisual brasileiro de realidade. E que fertilizou a melhor fase do “Globo Repórter”.

“Sertânia”, de Geraldo Sarno

Geraldo Sarno lembra que seu novo filme “trabalha estrutura polifônica, na qual vários temas se entrecruzam: a questão do olhar, a paternidade, a religiosidade e o retorno ao lar, este arraigado desejo de encontrar uma morada na terra”.

Até o dia primeiro de fevereiro (a Mostra Tiradentes dura nove dias), serão exibidos mais 111 filmes de curta, média e longa-metragem, em mostras competitivas e informativas. Do conjunto, 31 são de longa duração, 81, curtas-metragens e um, média. Os títulos escolhidos enquadram-se, em parte, na temática escolhida pelo curador Francis Vogner dos Reis para esta edição – “A imaginação como potência”.

Às sessões cinematográficas somar-se-ão debates, oficinas, encontros, performances cênicas e shows musicais em vários espaços da cidade colonial de Tiradentes, outra joia do circuito histórico-arquitetônico herdado do período colonial. Toda a programação é de acesso gratuito.

A principal mostra do festival mineiro se compõe com filmes 100% inéditos, mas há segmentos que apresentam produções já vistas em outras telas. Este ano, os longas que tiveram circulação nacional (alguns até internacional) são “Pacarrete”, do cearense Allan Deberton, “Acqua Movie”, do pernambucano Lírio Ferreira, “O Lodo”, do mineiro Helvécio Marins, “Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, da gaúcho-paulista Bárbara Paz, “Três Verões”, da carioca Sandra Kogut, e o média-metragem “Sete Anos em Maio”, de Affonso Uchôa.

A Mostra Aurora, peça de resistência do festival mineiro, selecionou oito títulos: os cearenses “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso, e “Canto dos Ossos”, de Jorge Polo e Petrus de Bairros, o brasiliense “Cadê Edson?”, de Dácia Ibiapina, o goiano “Mascarados”, de Marcela Borela e Henrique Borela, os paulistas “Pão e Gente”, de Renan Rovida, e “Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu”, de Bruno Risas, e os mineiros “Natureza Morta”, de Clarissa Ramalho, e “Sequizágua”, de Maurício Rezende. Os filmes serão avaliados pelo Júri da Crítica. Será atribuído, também, o Prêmio Helena Ignez a um destaque feminino desta competição.

A Mostra Olhos Livres, criada há quatro anos, seleciona trabalhos de realizadores com trajetória testada (ou consolidada), mas que seguem “em constante expansão de invenções e novos sentidos de apreensão”. Os escolhidos serão avaliados por Júri Jovem e concorrerão ao Prêmio Carlos Reichenbach. A competição, este ano, reúne a baiano-paulistana Helena Ignez (“Fakir”), a colombiano-carioca Paula Gaitán (“É Rocha e Rio, Negro Leo”), os mineiros Sueli Maxakali e Isael Maxakali (“Yãmĩyhex: As Mulheres-Espírito”), os baianos Ary Rosa e Glenda Nicácio (“Até o Fim”) e Geraldo Sarno (“Sertânia”).

Para representar o “núcleo duro” do eixo temático que norteia a vigésima-terceira edição da Mostra Tiradentes, a curadoria selecionou três longas-metragens e quatro curtas. Os longas são o alagoano “Cavalo”, de Rafhael Barbosa e Werner Salles, o pernambucano “Um Dia com Jerusa”, de Viviane Ferreira, e o carioca “Sofá”, de Bruno Sáfadi. Que se somarão aos curtas “Inabitáveis”, do capixaba Anderson Bardot, “Pattaki”, do sergipano Everlane Moraes, “O Verbo se Fez Carne”, do pernambucano Ziel Karapotó, e “A Felicidade Delas”, da paulistana Carol Rodrigues.

Na cerimônia de encerramento, dia 1º de fevereiro, quando serão entregues os troféus Barroco aos melhores filmes, a Mostra Tiradentes exibirá “A Torre”, segundo longa-metragem do mineiro Sérgio Borges, diretor de “O Céu sobre os Ombros” (2010), eleito o melhor filme no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Neste novo trabalho, Enrique Diaz interpreta André, “um homem que se isola em uma floresta para lidar com as perdas de sua vida e acaba sendo desafiado por memórias e culpas que tentou deixar para trás”.

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