Filmes de Hermes Leal são disponibilizados gratuitamente pela HL Filmes

A produtora HL Filmes está disponibilizando, gratuitamente, dois filmes de Hermes Leal em seu canal Vimeo. Ambos documentais, “Araguaia”, reconstrói a desconhecida Guerrilha do Araguaia, com relatos de militares e guerrilheiros, que saíram do anonimato para relatar torturas e mortes, em um dos maiores extermínios de pessoas na história do Brasil. O longa foi realizado a partir da série televisiva “Guerra do Araguaia” exibido em 2017 no canal CineBrasilTV, em 3 episódios de 52 minutos.

Já o média-metragem “Os Simulacros da Felicidade – Como Camuflamos o Fim do Sofrimento” aborda um tema caro à todos: a felicidade. Ou como as pessoas buscam modos de vida para tentar se chegar à ela. Este é o tema do oitavo documentário realizado pelo diretor Hermes Leal, jornalista e doutor em Semiótica das Paixões pela FFLCH/USP, baseado no Café Filosófico, exibido pela TV Cultura, para a série “Pensamento Contemporâneo”, exibida em 2018 nos canais Curta! e CineBrasilTV.

Com temas pertinentes para nossa atual conjuntura política e social, os filmes se mostram essenciais para uma reflexão urgente, mesmo tendo suas produções datadas de 2018.

Leandro Karnal, em cena de "Os Simulacros da Felicidade"

“Araguaia” denuncia e reconstitui o massacre de 69 pessoas que faziam parte da Guerrilha do Araguaia, ocorrida entre 1972 e 1974, na floresta amazônica no sul do Pará. Pela primeira vez, militares assumem seus crimes e descrevem em detalhes como mataram dezenas de pessoas a sangue frio. Neste conflito, houve a maior mobilização de tropas no Brasil desde a Guerra do Paraguai e a Segunda Guerra Mundial; as forças militares utilizaram cerca de sete mil homens para combater e eliminar os guerrilheiros.

O documentário revela a verdade dos fatos, de forma a jogar luz em um dos episódios mais obscuros da História do Brasil, ainda no anonimato. Por isso, relata, cronologicamente, os cinco anos de preparação e os dois anos de combates desta sangrenta guerra, com depoimentos de militares (coronéis e soldados); documentos secretos; relatos inéditos de guerrilheiros, que há mais de 40 viviam no anonimato; dos camponeses, que foram torturados e mortos tanto quanto os guerrilheiros; e contextualizada por historiadores e jornalistas especializados no assunto.

Com narração do ator Paulo Betti, o filme aborda todo o período dos combates, mostrando fatos inéditos dos dois lados do conflito, dos militares e dos guerrilheiros, e como dezenas de militantes do PC do B, vindos do Rio de Janeiro, Sãos Paulo, Ceará e Bahia, enfrentaram um Exército bem armado, que precisou de três grandes campanhas para derrotar, decapitar e exterminar guerrilheiros mal armados, mas adaptados à selva. Até hoje, os militares não informaram o destino dos corpos de 49 pessoas desaparecidas no conflito.

Os depoimentos dos sobreviventes, oito guerrilheiros, que estão vivos porque foram presos no início do conflito, ou conseguiram escapar no calor dos combates, antes do massacre final, dão um teor real aos acontecimentos do dia a dia da guerrilha. Suas façanhas foram presenciadas por camponeses, que sofreram nas mãos dos militares tanto quanto os guerrilheiros, que até hoje mantêm suas cicatrizes e a presença dos amigos guerrilheiros em suas vidas.

Filmado nas locações onde os eventos ocorreram, na região entre Marabá (sul do Pará) e Xambioá (norte do Tocantins), “Araguaia” busca, em seu conjunto e seus desdobramentos, compreender o que foi este fato histórico do país. Foram necessários meses de investigação para localizar e convencer guerrilheiros e militares para quebrar seus silêncios e revelar tudo que foi mantido em segredo até hoje. Até os dias atuais, nenhum militar havia assumido seus crimes publicamente, assim como detalhou suas operações de guerra. Coronel Lício, por exemplo, um dos personagens do filme, pode ser considerado a pessoa que mais matou durante todo o regime militar. Assim como se revela um dos maiores centros de tortura do país, senão o maior, por onde passaram mais pessoas torturadas, chamado Casa Azul, que até hoje se mantém de pé na periferia de Marabá como uma memória viva das atrocidades cometidas lá dentro. Encerrando com um diagnóstico sobre a busca da verdade, a punição dos responsáveis pelas atrocidades – ainda há 49 corpos desaparecidos –, e a dor de quem perdeu seus amigos e parentes.

A narrativa reconstrói, cronologicamente, os sete anos de conflito, revelando os antecedentes, os treinamentos, as campanhas militares, até iniciar os combates, onde os militares e seus guias descrevem com detalhes como mataram, por exemplo, a guerrilheira Sônia, com oitenta tiros. Este evento é relatado pelos militares que a executaram, sendo que um deles carrega até hoje uma cicatriz do tiro recebido no rosto por Sônia antes de morrer. Relatam também a morte de vários outros guerrilheiros em cenas sangrentas, incluindo a decapitação dos corpos dos mortos, que lembram uma carnificina.

O segundo filme, “Os Simulacros da Felicidade – Como Camuflamos o Fim do Sofrimento”, faz uma abordagem inédita sobre a felicidade, sobre como construímos nossa felicidade em cima de simulacros, seja na internet ,seja na criação de uma sensação de felicidade a qualquer custo, através dos depoimentos do historiador Leandro Karnal, do filósofo Luiz Felipe Pondé, do escritor Mario Sergio Cortella, do apresentador Marcelo Tas e do jornalista Clóvis de Barros Filho.

Para Hermes Leal, o documentário é muito oportuno, levanta questões urgentes para o mundo que está se conformando, especialmente porque “atualmente, o meio de vida virtual, através das redes sociais, nos conduz a caminhos equivocados para sermos felizes. E o que estamos construindo a partir disto para o futuro da humanidade?”, questiona o diretor.

Hermes Leal © Milton Mansilha

O documentário, realizado em 2018 pela HL Filmes, Brasil Música e Artes, Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, com patrocínio da CPFL Energia e Instituto CPFL faz parte da série “Pensamento Contemporâneo”, criada por Leal em 2011, composta por médias-metragens documentais que abordam temas filosóficos, sociais, antropológicos, psíquicos, ambientais, artísticos, entre outros, sempre com a participação dos mais importantes especialistas do mundo acadêmico, especialmente da USP, UFRJ e Unicamp, e de outras partes do mundo.

Entre os episódios já exibidos, destacam-se “O Sofrimento do Brasil – A Vida em Forma de Condomínio” (2017), uma diagnóstica social do país, a partir da metáfora “vida em forma de condomínio”, vista pelo foco da psicanálise de Sigmund Freud e Jacques Lacan, e analisada pelos especialistas Christian Dunker, Vladimir Safatle, entre outros; e  “Evolução nas Artes”, com análise de obras literárias, cinematográficas e pinturas por João Cezar de Castro Rocha, Jorge Coli, entre outros. Destaca-se nesta série também o documentário “Ecos de Maio de 1968 e a Política Transgressora”, sobre questões filosóficas da sociedade de controle e crise sobre o atual estágio do pensamento francês do final do século XX, em especial as obras de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Jacques Derrida, sobre a ótica dos filósofos franceses Guillaume Le Blanc e Pierre Zaoui.

 

Araguaia
Documentário, 95 min., Brasil, 2018
Direção e Roteiro: Hermes Leal
Narração: Paulo Betti
Disponível gratuitamente via Vimeo: https://vimeo.com/285279964

Os Simulacros da Felicidade – Como Camuflamos o Fim do Sofrimento
Documentário, 26 min., Brasil, 2018
Direção e Roteiro: Hermes Leal
Disponível gratuitamente via Vimeo: https://vimeo.com/286206014

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