Espanha e Brasil brilham nos Prêmios Platino
Por Maria do Rosário Caetano
A Espanha triunfou – e o fez em grande estilo –, pela primeira vez, em sete anos de história dos Prêmios Platino, láurea atribuída anualmente aos melhores do cinema ibero-americano. “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, conquistou seis troféus, incluindo melhor filme, diretor, ator (Antônio Banderas) e roteiro.
O Brasil, porém, não fez feio. Teve desempenho significativo em ano de presença opaca da Argentina e México. “Democracia em Vertigem” (foto), de Petra Costa, que brilhara no Sundance Festival e chegara a finalista ao Oscar, triunfou na categoria melhor documentário. E Carol Duarte, a Eurídice de “A Vida Invisível”, foi eleita a melhor atriz. O filme de Karim Aïnouz – registre-se – ganhou o prêmio máximo na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes 2019.
O Brasil contava com um forte concorrente na categoria melhor filme de animação (“A Cidade dos Piratas”, de Otto Guerra, inspirado nos “Piratas do Tietê”, de Laerte), mas perdeu para o franco favorito, o espanhol “Buñuel no Labirinto das Tartarugas”. Este longa-metragem de Salvador Simó nasceu de graphic novel de Fermín Soles e, desde sua estreia, vem fascinando os amantes do bruxo andaluz, Luis Buñuel (1900-1983). Mix de documentário e animação, já premiado com o Goya espanhol, o filme conta parte da biografia do diretor dos surrealistas “O Cão Andaluz” e “A Idade do Ouro”. E de “Viridiana” e “A Bela da Tarde”. Aos trinta e poucos anos, Buñuel partiu, com pequena equipe, para La Hurdes, região mais pobre e esquecida na Espanha de então. Lá realizou o poderoso documentário “Terra sem Pão” (1933). O “labirinto das tartarugas” do título evoca arruado de casas cujos tetos lembravam o casco do réptil testudine.
Três outros países marcaram presença na premiação. A Costa Rica ganhou o Platino Educação em Valores com o feminista “O Despertar das Formigas”, de Antonella Sudasassi, visto na competição do Festival de Gramado e lançado em nosso circuito de arte, ano passado. A Colômbia somou dois prêmios com “Monos”, de Alejandro Landes, destaque em vários festivais. O México, depois do triunfo do ano passado (com “Roma”, de Cuarón), ganhou o Platino de “Opera Prima” (filme de diretor estreante, no caso, a diretora Lila Avilés) com “A Camareira”. Outra realização feminina e sensível, lançada em nosso circuito de arte.
A Espanha, em ano de ouro de sua história cinematográfica recente, ganhou, ainda, o Platino de melhor direção de arte, com “Mientras Dure la Guerra”, épico histórico ambientado na Guerra Civil, dirigido por Alejandro Amenábar. E fez barba cabelo e bigode no segmento “séries de TV e telefilme”. Dos cinco prêmios em disputa, a série “A Casa de Papel”, sucesso na Netflix, conquistou três.
VENCEDORES – CINEMA
. “Dor e Glória” (Espanha) – melhor filme, diretor (Pedro Almodóvar), ator (Antonio Banderas), roteiro (Almodóvar), montagem (Teresa Font) e trilha sonora (Alberto Iglesias)
. “Democracia em Vertigem” (Brasil) – melhor documentário
. “Buñuel no Labirinto das Tartarugas” (Espanha) – melhor animação
. “A Camareira” (México) – melhor opera-prima (filme de diretor estreante)
. “O Despertar das Formigas” (Costa Rica) – melhor filme “Educación en Valores”
. “A Vida Invisível” (Brasil) – melhor atriz Carol Duarte (A Vida Invisível) – Brasil
.“Monos”(Colômbia) – melhor fotografia (Jasper Wolf), som (Lena Esquenazi)
. “Mientras Dure la Guerra” (Espanha) – melhor direção de arte (Juan Pedro de Gaspar)
VENCEDORES – TELEVISÃO
. “A Casa de Papel” (Espanha) – melhor série, ator (Alvaro Morte), atriz coadjuvante (Alba Flores)
. “La Casa de las Flores” (México): Cecília Suárez – melhor atriz
. “Marginal III” (Argentina) – Gerado Romano
VENCEDORES DAS SETE EDIÇÕES
. 2014 – “Glória”, de Sebastián Lelio (Chile)
. 2015 – “Relatos Selvagens”, de Damián Szifron (Argentina)
. 2016 – “O Abraço da Serpente”, de Ciro Guerra (Colômbia)
. 2017 – “O Cidadão Ilustre”, de Duprat & Cohn (Argentina)
. 2018 – “Uma Mulher Fantástica”, de Sebastián Lelio (Chile)
. 2019 – “Roma”, de Alfonso Cuarón (México)
. 2020 – “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar (Espanha)