Mostra SP torna-se a mais poderosa vitrine do cinema brasileiro
Por Maria do Rosário Caetano
O papel outrora desempenhado pelos festivais de Brasília, Gramado ou do Rio de Janeiro – ser a primeira vitrine para um longa brasileiro – caberá, agora, à Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O festival paulistano exibirá, em primeira mão, 36 produções made in Brazil.
O evento, o maior e um dos mais tradicionais festivais do país, realiza sua quadragésima-quinta edição de 20 de outubro a 3 de novembro, em formato presencial (12 salas) e on-line. E vai mostrar, em primeira mão, mais de 200 filmes internacionais, também 100% inéditos em nosso território.
Muitos dos filmes brasileiros inéditos (por aqui) passaram por festivais como Cannes (“Medusa”, de Anita Rocha da Silveira), Roterdã (Madalena”, de Madiano Marchetti) e Veneza (“Deserto Particular”, de Aly Muritiba, “7 Prisioneiros”, de Alex Moratto, e “Salamandra”, de Alex Carvalho).
Um dos longas que escolheram a Mostra como primeira vitrine brasileira – a animação “Bob Cuspe, Nós Não Gostamos de Gente”, de César Cabral – venceu festivais na França (Anecy, a Meca do cinema animado) e Canadá. O filme marca o retorno do cineasta paulistano ao universo do quadrinista Angeli. Juntos eles realizaram o premiadíssimo “Dossiê Rê-Bordosa”, saborosa mistura de documentário e animação. Cabral navega, mais uma vez, pelos dois territórios.
A jovem diretora nipo-brasileira Thais Fujinaga também escolheu a Mostra paulistana como sua primeira vitrine. Ela disputará, se passar pela peneira do voto popular, o Troféu Bandeira Paulista, desenhado por Tomie Otake, com seu primeiro longa, “A Felicidade das Coisas”.
O festival comandado por Renata Almeida só coloca, em sua única mostra competitiva, filmes de realizadores de até dois longas-metragens. Os pré-selecionados pelo público (brasileiros e estrangeiros) serão, nos dias finais do evento, analisados por júri oficial formado pelos cineastas Beatriz Seigner, Joel Zito Araújo e Carla Caffé, mais conhecida por seu trabalho como diretora de arte.
Dos 36 filmes inéditos, 15 estarão na Competição Novos Diretores, 18 na Mostra Brasil e os outros em apresentações especiais. A representação brasileira contará, ainda, com dois filmes no núcleo ligado à memória – “O Rei da Noite” (1975), de Hector Babenco, protagonizado por Paulo José e Marília Pera, e “Terra Estrangeira” (1995), de Walter Salles e Daniela Thomas, com Fernanda Torres e Fernando Alves Pinto à frente do elenco.
“7 Prisioneiros”, produzido (para a Netflix) por Fernando Meirelles e pelo indiano Ramin Bahrani, de “O Tigre Branco”, está habilitado à competição por tratar-se do segundo longa do jovem diretor de “Sócrates”. O novo filme de Alex Moratto, protagonizado por Christian Malheiros e Rodrigo Santoro, será exibido em sessão especial no Museu da Imigração que, em parceria com a agência da ONU, mostrará dois títulos voltados à defesa dos Direitos Humanos. Além do brasileiro, o outro escolhido é “Pegando a Estrada”, do iraniano Panah Panahi, filho do diretor de “O Balão Branco”, Jafar Panahi.
Vencer o Troféu Bandeira Paulista de melhor filme de jovens diretores é parada dura. Até hoje, só “Cinema, Aspirinas e Urubus”, do pernambucano Marcelo Gomes, conseguiu tal feito. A sorte está, pois, lançada.
O Festival do Rio (de 2 a 12 de dezembro) e o Festival de Brasília (7 a 14 de dezembro) – empurrados ambos para o último mês do ano – enfrentarão grandes desafios, caso queiram fazer jus à sua história como plataforma de lançamento de filmes brasileiros. A disputa pelos troféus Redentor e Candango, este o mais antigo do país, será desfavorável aos cariocas e brasilienses enquanto estes festivais não forem recolocados em suas datas tradicionais. A Mostra de São Paulo, em 45 anos de história, nunca alterou seu calendário (sempre acontece nos dez últimos dias de outubro).
Veja abaixo a lista de filmes 100% inéditos (em território brasileiro), que escolheram a Mostra paulistana como primeira vitrine:
. “A Felicidade das Coisas”, de Thais Fujinaga
. “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky
. “Tarsilinha”, de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo
. “Bob Cuspe, Nós Não Gostamos de Gente”, de Cesar Cabral
. “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira
. “7 Prisioneiros”, de Alex Moratto
. “Deserto Particular”, de Aly Muritiba
. “O Pai da Rita”, de Joel Zito Araújo
. “As Verdades”, de José Eduardo Belmonte
. “O Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz
. “O Melhor Lugar do Mundo”, de Caco Cicoler
. “Salamandra”, de Alex Carvalho
. “Sars-COV-2/O Tempo da Epidemia”, de Eduardo e Lauro Escorel
. “Já que Ninguém me Tira para Dançar”, de Ana Maria Magalhães
. “Sol”, de Lô Politi
. “Ziraldo, Era uma Vez um Menino”, de Fabrizia Pinto
. “Ziraldo, uma Obra que Pede Socorro”, de Guga Danneman
. “Curtas Jornadas Noite Adentro”, de Thiago B. Mendonça
. “O Circo Voltou”, de Paulo Caldas
. “Tempo de Ruy”, de Adilson Mendes
. “Transversais”, de Emerson Maranhão
. “Antígona 442 a.C.”, de Maurício Farias
. “As Faces do Mao”, de Dellani Lima e Lucas Barbi
. “Mares do Desterro”, de Sandra Alves
. “Despedida”, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes
. “Os Donos da Casa”, de Carla Dauden
. “Mundo Novo”, de Álvaro Campos
. “Meu Tio José”, de Ducca Rios
. “Maior que o Mundo”, de Beto Marquez
. “A Lei”, de Amadeo Canônico
. “Urubus”, de Cláudio Borelli
. “Memória Sufocada”, de Gabriel Di Giacomo
. “Fédro”, de Marcelo Sebá
. “ A Terra de Frente”, de Thiago Cóstacks
. “Poropopó”, de Luís Igreja