Gramado faz sua edição mais ambiciosa e entrega Kikito de Cristal a Paulina García
Por Maria do Rosário Caetano
O Festival de Cinema de Gramado dá início, nesta sexta-feira, 12 de agosto, à sua edição de número 50 com a exibição presencial de dois longas-metragens – “A Mãe”, do brasileiro Cristiano Burlan, e “La Pampa”, do peruano Dorian Fernández Moris –, ambos na disputa pelo Kikito, estatueta que evoca um sol estilizado, com cara de flor (a hortênsia) abundante na Serra Gaúcha. Serão exibidos, também em competição, os curtas-metragens “O Fim da Imagem”, do paranaense Gil Baroni (do divertido longa-arco-íris “Alice Jr”), e o carioca “Deus Não Deixa”, de Marçal Vianna.
Ano de festança cinquentenária é ano de inovação. Com o parceiro fiel das últimas décadas, o Canal Brasil, o festival gaúcho engendrou ideia curiosa. Vai exibir, para os assinantes da Globoplay espalhados por todo território brasileiro, uma competição de longas documentais. São cinco títulos ao todo. O primeiro deles, programado para esta sexta-feira inaugural (em horário nobre, 20h) é “Ademã – A Vida e as Notas de Ibrahim Sued”, dos cariocas Isabel Sued Perrin e Paulo Henrique Fontenelle. Ela, uma estreante. Ele, um craque, diretor de “Loki” (sobre o mutante Arnaldo Baptista) e “Cássia” (sobre a cantora Cássia Eller). Uma boa solução para manter Gramado no mundo líquido, já que a pandemia o forçou a duas edições virtuais (na telinha do Canal Brasil). Mas fica uma dúvida: como o público festivaleiro e a imprensa especializada assistirão aos documentários selecionados se, no mesmo horário, estarão (no Palácio dos Festivais) assistindo a longas e curtas-metragens? Quem for subir a Serra Gaúcha para festejar os 50 anos do evento gramadense, o mais badalado do audiovisual brasileiro, tem que reservar energia e levar – como diriam os mineiros – “uma matulinha” para o cinema. Sim, as maratonas serão imensas, intermináveis. Começarão, diariamente, às seis da tarde para terminar por volta da meia-noite. Afinal, serão exibidos dois longas e dois curtas, apresentados por suas equipes (o festival gaúcho não regateia convites para elencos estelares) e feitas muitas homenagens.
Gramado é, além de um festival de cinema, um eterno desfilar de astros pelo tapete vermelho do Palácio dos Festivais (o Cine Embaixador) e um território insaciável de homenagens. Este ano, além do Kikito de Cristal, que caberá à grande atriz chilena Paulina García, a “Glória” de Sebastián Lélio (laureada com o Urso de Prata em Berlim), do tradicional Troféu Oscarito (para Marcos Palmeira), do Eduardo Abelin (para Joel Zito Araújo) e do Cidade de Gramado (para Aracy Esteves), brotaram outros lauréis.
A atriz Ítala Nandi, gaúcha de Caxias do Sul, vai ganhar o Troféu Leonardo Machado, ator e apresentador do Fest Gramado, que morreu precocemente, deixando muitos filmes e saudades. A mesma láurea será dada ao crítico cinematográfico Hélio Nascimento, ao cineasta Ivo Czamanski e à produtora Gina O’Donnell.
Não pensem que acabou. Haverá homenagens a ex-diretores do festival (Enoir Zorzanello, Esdras Rubin e Alemir Coletto). Será que os três receberão a Medalha P.F. Gastal, o “Paulo Emilio Salles Gomes do Sul”, e mais famoso curador do festival serrano? Haverá, ainda, o Troféu Reverência para cinco ex-ocupantes da Prefeitura Municipal (dois in memoriam).
Haja quadris e “matula” para sustentar estas noites que se anunciam longas neste festejo de meio século. E haja torcida para que os ótimos restaurantes da badalada estância turística funcionem de madrugada. Senão, os que amam o cinema acima de tudo terão que sorver apenas uma fumegante sopa de capeletti antes de dormir. E sabendo que no dia seguinte haverá maratona de debates dos longas e dos curtas-metragens. Gramado tem boa tradição neste setor. Seu público já “quebrou o pau” com Neville d’Almeida (“Rio Babilônia”), já se emocionou às lágrimas com Osmar Prado (na pele do boxeador Kid Jofre) e já viu um modesto ator Toni Ramos dizer que faria o que pudesse para suprir a ausência do diretor de “Noites do Sertão” (o mineiro Carlos Alberto Prates Correia, verdadeiro bicho-do-mato, fugiu do debate).
A programação de Gramado 50 sofreu uma baixa inesperada: o filme espanhol “A Boda de Rosa”, de Icíar Bollaín, foi desclassificado. A curadoria descobriu, tardiamente, que ele não era inédito, como exigia o regulamento. A representação ibero-americana, portanto, perde um forte representante, pois o filme da atriz (de “Terra e Liberdade”, de Ken Loach) e diretora madrilenha tem no elenco a talentosa atriz almodovariana Candela Peña e o catalão Sergí Lopez.
Para ocupar a vaga aberta, mas fora de competição, será exibido o filme “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky (quarta-feira, 17 de agosto), em sessão especial. O longa, uma coprodução Brasil-Portugal, protagonizado por Cauã Reymond, retrata o retorno do imperador D. Pedro I a Portugal para tentar recuperar seu trono europeu.
Confira a programação:
CMB (curta-metragem brasileiro), LMB (longa-metragem brasileiro), LME (longa-metragem estrangeiro), LMD (longa-metragem brasileiro documental, exibição apenas no Canal Brasil), LME (longa-metragem especial), CMG (curta-metragem Gaúcho) e LMG (longa-metragem gaúcho)
Sexta-feira, 12
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB O Fim da Imagem (PR), de Gil Baroni (14’)
LMB A Mãe (SP), de Cristiano Burlan (90’)
CMB Deus Não Deixa (RJ), de Marçal Vianna (20’)
LME La Pampa (Peru, Chile, Espanha), de Dorian Fernández Moris (105’)
A partir das 20h, no Canal Brasil:
LMD Ademã – A vida e as notas de Ibrahim Sued (RJ), de Isabel Sued Perrin e Paulo Henrique Fontenelle (104’)
Sábado, 13
A partir das 13h15, no Palácio dos Festivais:
CMG Nós que fazemos girar (Porto Alegre), de Lucas Furtado / 20’
CMG “Sinal de Alerta Lory F” (Porto Alegre), de Fredericco Restori / 18′
CMG Drapo A (Encantado), de Alix Georges e Henrique Lahude / 19′
CMG Possa Poder (Porto Alegre), de Victor Di Marco e Márcio Picoli / 19’13”
CMG Olho por mim (Porto Alegre), de Marcos Contreras / 11’
CMG Apenas para registro (Porto Alegre), de Valentina Ritter Hickmann / 15’
CMG Johann e os Ímãs de geladeira (Porto Alegre), de Giordano Gio / 24’
CMG Perfection (Gravataí), de Guilherme G. Pacheco / 14’
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB Último Domingo (RJ), de Joana Claude e Renan Barbosa Brandão / 17’07” *Audiodescrição disponível
LMB O clube dos anjos (RJ), de Angelo Defanti / 98’00” *Audiodescrição disponível
CMB Benzedeira (PA), de Pedro Olaia e San Marcelo / 15’01”
LME 9 (Uruguai, Argentina), de Martín Barrenechea e Nicolás Branca / 105’00”
A partir das 20h, no Canal Brasil:
LMD Um par para chamar de meu (SP), de Kelly Cristina Spinelli / 82’00”
Domingo, 14
A partir das 13h15, no Palácio dos Festivais:
CMG Madrugada (Rio Grande, Pelotas), de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza / 19’09”
CMG Tudo permanece em constante movimento (Porto Alegre), de Cristine de Bem e Canto / 07’01”
CMG Nação preta do Sul – O Curta (Porto Alegre), de Nando Ramoz e Gabriela Barenho / 24’59”
CMG A diferença entre mongóis e mongolóides (Porto Alegre, Canoas), de Jonatas Rubert / 04’41”
CMG Mby’á nhendu – o som do espírito Guarani (Porto Alegre, Maquiné e Camaquã), de Gerson Karaí Gomes / 18’20”
CMG Fagulha (Porto Alegre), de Jéssica Menzel e Jp Siliprandi / 07’58”
CMG Sintomático (Porto Alegre), de Marina Pessato / 04’05”
CMG O abraço (Porto Alegre), de Gabriel Motta / 17’36”
CMG Mora (Porto Alegre), de Sissi Betina Venturin / 10’51”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB Ímã de geladeira (SE), de Carolen Meneses e Sidjonathas Araújo / 19’55”
LMB Noites alienígenas (AC), de Sérgio de Carvalho / 80’20”
CMB O elemento tinta (SP), de Luiz Maudonnet e Iuri Salles / 09’29”
LME El camino de Sol (México), de Claudia Sainte-Luce / 77’17”
A partir das 20h, no Canal Brasil:
LMD Elton Medeiros – o sol nascerá (RJ), de Pedro Murad / 80’01”
A partir das 22h30, no Palácio dos Festivais:
Entrega do Troféu Assembleia Legislativa – Mostra Gaúcha de Curtas
Segunda-feira, 15
A partir das 14h, no Palácio dos Festivais:
LMG Campo Grande é o céu (Mostardas), de Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux / 71’24”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB Tekoha (SP), de Carlos Adriano / 14’15”
LMB O pastor e o guerrilheiro (DF), de José Eduardo Belmonte / 115’03”
CMB Serrão (MG), de Marcelo Lin / 18’36”
LME O último animal (Portugal, Brasil), de Leonel Vieira / 109’14”
A partir das 20h, no Canal Brasil:
LMD O destino está na origem (GO), de Pedro de Castro Guimarães / 61’01”
Terça-feira, 16
A partir das 14h, no Palácio dos Festivais:
LMG Dog Never Raised (Porto Alegre, São Leopoldo), de Bruno de Oliveira / 71’08”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB O pato (PB), de Antônio Galdino / 11’18”
LMB A porta ao lado (RJ), de Julia Rezende / 113’11”
CMB Solitude (AP), de Tami Martins e Aron Miranda / 13’20”
LME Cuando Oscurece (Argentina, Uruguai), de Néstor Mazzini / 76’44”
A partir das 20h, no Canal Brasil:
LMD Eu nativo (PA), de Ulisses Rocha / 71’11”
Quarta-feira, 17
A partir das 14h, no Palácio dos Festivais:
LMG 5 Casas (Dom Pedrito), de Bruno Gularte Barreto / 75’01”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB Fantasma neon (RJ), de Leonardo Martinelli / 20’00”
LMB Marte um (MG), de Gabriel Martins / 115’01”
CMB Mas eu não sou alguém (SP), de Daniel Eduardo e Gabriel Duarte / 13’11”
LME – Sessão especial de “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky
Quinta-feira, 18
A partir das 14h, no Palácio dos Festivais:
LMG Despedida (Pelotas, Porto Alegre, Viamão), de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes / 90’23”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
CMB Um tempo pra mim (RS), de Paola Mallmann / 20’59”
LMB Tinnitus (SP), de Gregório Graziosi / 105’00”
CMB Socorro (PA), de Susanna Lira / 16’52”
LME Inmersión (Chile, México), de Nicolas Postiglione / 72’01”
Sexta-feira, 19
A partir das 14h, no Palácio dos Festivais:
LMG Casa vazia (Santana do Livramento, Rivera), de Giovani Borba – 78’01”
A partir das 18h, no Palácio dos Festivais:
Filme de encerramento Exibição do longa-metragem documental vencedor
Sábado, 20
A partir das 21h, no Canal Brasil, site e redes sociais do evento:
Cerimônia de premiação para as Mostras Competitivas de Curtas-Metragens Brasileiros e Longas-Metragens Brasileiros, Documentais, Estrangeiros e Gaúchos
* Os longas-metragens documentais seguem em exibição no Globoplay; os filmes entram no aplicativo após exibição no Canal Brasil e permanecem até às 23h59 de quarta, dia 17.
Para assistir pelo serviço de streaming é preciso ser assinante e acessar https://globoplay.globo.com.
Os documentários (no Canal Brasil):
. “Ademã – A Vida e as Notas de Ibrahim Sued”, de Isabel Sued Perrin e Paulo Henrique Fontenelle (Rio, 106’)
. “Elton Medeiros – O Sol Nascerá”, de Pedro Murad (Rio, 80’)
. “Um Par Para Chamar de Meu”, de Kelly Cristina Spinelli (SP – 82’)
. “Eu Nativo”, de Ulisses Rocha (Pará – 71’)
. “O Destino Está na Origem”, de Pedro de Castro Guimarães (Goiás – 61’)
Os longas brasileiros:
. “A Mãe”, de Cristiano Burlan (SP)
. “O Clube dos Anjos”, de Angelo Defanti (RJ)
. “Noites Alienígenas”, de Sérgio Carvalho (Acre)
. “Marte Um”, de Gabriel Martins (MG)
. “O Pastor e o Guerrilheiro”, de José Eduardo Belmonte (DF)
. “Tinnitus”, de Gregorio Graziozi (SP)
Os longas ibero-americanos:
. “La Pampa”, de Dorian F. Moris (Perú)
. “9”, de M. Barrenechea e N. Brance (Uruguai)
. “El Camino del Sol”, de Claudia Sante-Luce (México)
. “O Último Animal”, de Leonel Vieira (Portugal)
. “Inmsersión”, de Nicolas Postiglione (Chile)