A chegada da Inquisição no Brasil Colônia em “As Órfãs da Rainha”
Foto © Jonathas Marques Abrantes
O longa histórico “As Órfãs da Rainha”, novo filme da diretora, produtora e roteirista Elza Cataldo, faz sua pré-estreia em São Paulo no próximo dia 16 de agosto, dentro da programação do 26º Festival de Cinema Judaico. Já no dia seguinte, 17 de agosto, a obra – que recebeu o prêmio de Melhor Filme Histórico no Toronto International Women’s Film Festival, entre outros prêmios, entra em cartaz nos cinemas da capital paulista.
Com distribuição da Cineart Filmes e produção da Persona Filmes, Elza Cataldo – que estreou na direção com “Vinho de Rosas” (2005) – volta mais uma vez ao passado, trazendo o período da Inquisição no Brasil Colônia do século XVI e promove um resgate da importância da presença feminina nas páginas da história brasileira para falar de temas infelizmente ainda atuais, como a opressão às mulheres e a intolerância.
Podendo ser considerado como uma narrativa de ficção no gênero histórico, “As Órfãs da Rainha” conta a história das três irmãs órfãs, Leonor (Letícia Persiles), Brites (Rita Batata) e Mécia (Camila Botelho). Criadas como católicas pela rainha de Portugal, elas são enviadas a contragosto para a colônia brasileira com a ordem de se casarem. A dura adaptação à precariedade do Novo Mundo é vivida de forma diferente por cada uma delas. Leonor é quem mais resiste à nova realidade e escreve cartas para a rainha, pedindo permissão para voltar. A resposta, entretanto, nunca chega.
À medida que o tempo passa, ela se apaixona pelo marido, Escobar, tem filhos com ele e passa a admirar a religião judaica. Brites, por sua vez, faz de tudo para conquistar o marido violento, Tales, e lhe dar um filho. Já Mécia, rejeitada devido a uma deficiência física, se encanta por um indígena. A irmandade é colocada à prova, quando o Inquisidor chega à Bahia, em 1591, espalhando medo e desconfiança entre os habitantes de Vila Morena. Leonor, Brites e Mécia são surpreendidas por acusações de práticas judaizantes. Em meio às ameaças da Inquisição, as três irmãs descobrem sua verdadeira origem e vão fazer suas próprias escolhas.
“As Órfãs da Rainha” foi filmado na Zona da Mata de Minas Gerais, em uma antiga fazenda localizada na zona rural de Tocantins (onde uma vila cenográfica foi construída).
No elenco estão Letícia Persiles, Rita Batata e Camila Botelho no papel das protagonistas. O grupo se completa com a presença de nomes como os de César Ferrario, Alexandre Cioletti, Juliana Carneiro da Cunha, Jai Baptista, Inês Peixoto, Teuda Bara, Celso Franteschi, Eduardo Moreira, Odilon Esteves, Luiz Gomide, Beto Militani, entre outros.
Antes de estrear em circuito comercial, “As Órfãs da Rainha” teve passagem em alguns festivais internacionais de cinema. No Toronto International Women’s Film Festival, o filme foi agraciado com o prêmio de Melhor Filme Histórico. Além disso, a produção foi selecionada para o Washington Jewish Film Festival 2023 e conquistou o prêmio de melhor narrativa no Los Angeles Independent Women Film Awards. No Feedback Female Film Festival 2022, conquistou o título de Melhor Filme de Longa-metragem.
A realização de “As Órfãs da Rainha” contou com o apoio do Polo Audiovisual Zona da Mata. Criado em 2002, o Polo mobiliza lideranças da região em torno de um Programa de Cultura, Educação, Inovação e Desenvolvimento Sustentável.
O roteiro leva as assinaturas da própria diretora, junto a Pilar Fazito e Newton Cannito. Para assegurar a fidelidade ao lastro histórico, Elza conta que, no curso do processo que precedeu as filmagens, chegou a ler mais de 300 livros. No processo de redação, os três também contaram com uma consultoria de calibre, composta pelo historiador Ronaldo Vainfas, especialista no tema Inquisição; pela escritora e historiadora Mary del Priore, especialista em história das mulheres; e pelo rabino Uri Lam, que é formado em Psicologia e tem mestrado em Filosofia.
Além da direção e da coautoria do roteiro, Elza Cataldo também assina a produção de “As Órfãs da Rainha”. Ela acabou ainda contribuindo na concepção dos figurinos ao compilar imagens encontradas nos livros fontes de sua pesquisa. O figurino é assinado por Sayonara Lopes e Rosângela Nascimento com consultoria da Beth Filipecki.