Cinemateca Brasileira exibe “Cemitérios: Territórios de Fé e Arte” com debate
“Cemitérios: Territórios de Fé e Arte”, dirigido por Marcos Rogatto, será exibido em uma sessão especial no dia 16 de agosto, às 19 horas, na Cinemateca Brasileira. O documentário apresenta os cemitérios da Consolação (São Paulo), Israelita de Cubatão, conhecido por Cemitério das Polacas, e da Saudade (Campinas) como ricos territórios que abrigam uma complexa mistura de histórias, paisagens e artes.
Após a sessão, haverá um bate-papo com o diretor, a produtora executiva e roteirista Patrícia Ogando e uma convidada, a diretora Paula Sacchetta, sobre a realização de documentários no Brasil e a importância desses cemitérios como um patrimônio cultural valioso a ser preservado.
Os cemitérios são muito mais do que locais de descanso final; eles são um patrimônio cultural material e imaterial que reflete as crenças, tradições e histórias de uma comunidade. “Cemitérios: Territórios de Fé e Arte” aborda tanto os aspectos estéticos e arquitetônicos dos cemitérios quanto as complexas relações do imaginário local em ritos devocionais. Aqui, as crenças religiosas se fortalecem na delicada interação entre vivos e mortos.
O Cemitério da Saudade, em Campinas, é o maior cemitério municipal da cidade. Situado no bairro Ponte Preta, ele abriga mais de 3 mil sepulturas tradicionais e é marcado por notáveis elementos arquitetônicos de Ramos de Azevedo. O local, agora tombado como patrimônio, é o repouso final para figuras emblemáticas, como o escravo Toninho e a prostituta Maria Jandira, que, apesar de marginalizados em vida, agora atraem uma legião de devotos e recebem milhares de visitas anualmente.
Considerado um dos mais importantes locais da capital, o Cemitério da Consolação é conhecido pela sepultura de personalidades brasileiras, desde artistas e intelectuais até fazendeiros, comerciantes e industriais que fizeram parte de diferentes ciclos econômicos do Brasil. Este cemitério, também tombado como patrimônio, se destaca por sua impressionante arte tumular, que atrai curiosos e turistas. Esculturas e obras de arquitetura narram as histórias de muitos artesãos, imigrantes italianos e portugueses, que eram marmoristas em seus países de origem.
Já o Cemitério Israelita de Cubatão, datado de 1929, abriga lápides de mulheres conhecidas como polacas. Muitas dessas mulheres chegaram ao Brasil ainda jovens, com a promessa de casamento e segurança em uma nova terra. Infelizmente, ao chegarem, eram forçadas à prostituição na região portuária de Santos. Este capítulo obscuro da história é pouco conhecido, mas é resgatado no documentário.
Para além dos espaços-personagens, os mortos e os vivos que ocupam os cemitérios também são personagens interessantes, como o caso de Francivaldo Gomes, apelidado de Popó, um ex-coveiro que se tornou guia de visitas no cemitério da Consolação. Com uma memória enciclopédica, ele encanta os turistas com suas visitas guiadas, compartilhando histórias biográficas relacionadas às ruas e avenidas da capital. Recentemente, o cemitério passou por mudanças na administração, mas Popó continua trabalhando lá, enquanto a transição ocorre. Com a privatização do serviço funerário do município de São Paulo, incertezas surgem, mas as visitas guiadas por Popó, que foram interrompidas por um período, continuarão até o final deste ano.