Globo de Ouro adota certo cosmopolitismo, mas segue apegado a musicais e ignorando documentários
Foto: “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer
Por Maria do Rosário Caetano
Começou a temporada de prêmios cinematográficos. Nessa quinta-feira, 21 de dezembro, serão conhecidos os pré-finalistas ao Oscar. Ou seja, da primeira peneira sairão listas com os dez mais cotados. Depois, dia 23 de janeiro, serão conhecidos os finalistas.
O Goya espanhol já estabeleceu sua lista de concorrentes: “20 Mil Espécies de Abelha”, de Estibaliz Urresola Solagurem, com 15 indicações, e “A Sociedade da Neve”, de J. A. Bayona, com 13.
O Bafta britânico, o César francês, o David di Donatello italiano, o Ariel mexicano etc., já preparam suas listas e estabelecem seus calendários.
O Globo de Ouro, que andou com seu prestígio em baixa e sem vitrine (no sufoco, divulgou seus premiados pela internet), acabou arejando seu calcificado (idoso, branco e eurocêntrico-hollywoodiano) quadro de votantes. Por isso, ampliou (ainda que modestamente) a presença de nomes internacionais em sua lista de finalistas. Caso da francesa Justine Triet (embora seu filme seja falado boa parte em inglês). Ela concorre nas categorias melhor drama cinematográfico, melhor roteiro (em parceria com seu marido, o cineasta Arthur Harari) e melhor filme em língua não-inglesa. E sua atriz, a alemã Sandra Hüller (presente também em “Zona de Interesse”), está indicada como melhor intérprete feminina (categoria drama). Nada mal: quatro indicações.
Outra presença a se notar é a da finlandesa Alma Pöysti, a melancólica protagonista de “’Folhas de Outono”, parte da Tetralogia Proletária de Aki Kaurismaki, que concorre a melhor atriz de comédia ou musical. E o faz com uma triste história de amor, minimalista e temperada com citações metalinguísticas, que caiu no gosto cinéfilo planetário. No Brasil, depois de causar sensação na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme entrou em cartaz nos cinemas e vem disputando com o japonês “Monster”, de Hirozaku Koreeda, o posto de xodó do circuito de arte. Ambos se aproximam de 15 mil espectadores (cada). Nada mal para filmes de empenho artístico e lançados em poucas salas.
“Monster” não entrou na lista de candidatos ao Globo de Ouro, nem entrará na disputa pelo Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, pois o Japão indicou “Perfect Days”, do germânico Wim Wenders, filme com história, elenco e locações nipônicas. E que rendeu a Palma de Ouro ao ator Koji Yakusho. A ficção japa de Wenders está entre os cinco favoritos ao Oscar (junto com “Zona de Interesse”, “Folhas de Outono”, “A Sociedade da Neve” e “La Passion de Dodin Bouffant”, este o indicado da França, que preteriu “Anatomia de uma Queda”, vencedor de Cannes).
A lista de “filmes de língua não-inglesa” do Globo de Ouro independe de indicações de Academias Internacionais (caso do Oscar). E, para provar que ainda não saiu (para valer) do limite geográfico norte-americano (rumo ao verdadeiro cosmopolitismo), a turma da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Los Angeles queimou vaga internacional com produção made in USA – “Vidas Passadas”, de Celine Song. A trama se desenvolve em solo estadunidense, embora promova o encontro entre coreana do sul, que foi viver nos EUA, e amigo de infância que irá reencontrá-la décadas depois. Eles se comunicarão na língua materna. Ou seja, no idioma de Bong Joon-ho, único oriental a ganhar o Oscar principal (com “Parasita”).
“Vidas Passadas” tirou vaga de filmes da grandeza de “Ervas Secas”, do turco Nuri Bilge Ceylan, e de “Perfect Days”, de Wenders. Ou irreverentes como “Não Espere Muito do Fim do Mundo”, do romeno Radu Jude.
Completam a lista (seis títulos) de filmes estrangeiros do Globo de Ouro o badaladíssimo “Zona de Interesse”, para muitos o franco favorito, o italiano “Io Capitano” (Eu Capitão), de Matteo “Gomorra” Garrone, o espanhol “A Sociedade da Neve”, que vem ganhando força (por suas qualidades e pela retaguarda da Netflix) e o delicioso “Folhas de Outono”.
O que não dá para entender no Globo de Ouro é sua ligação atávica (e anacrônica) com os gêneros cinematográficos da Hollywood clássica: drama, musical, comédia (e animação). Para os Correspondentes Estrangeiros, o documentário – gênero que ganha cada vez mais repercussão mundial e força na TV e no streaming – não merece análise (e prêmio).
No dia sete de janeiro, mais uma vez, a festa do Globo de Ouro (edição número 81) vai ignorar o cinema não-ficcional que fez o nome de mestres como Flaherty, Dziga Vertov, Joris Ivens, Chris Marker, Frederick Wiseman e Eduardo Coutinho. E que sustentou a fama de Michael Moore.
Quanto aos filmes selecionados para a disputa dos troféus Globo de Ouro, vale um registro: houve esnobada geral ao “Napoleão”, de Ridley Scott. Até Joaquim Phoenix, que interpretou o general corso, ficou de fora. O “Coringa” só não ficou totalmente no sereno, porque tinha outro protagonista para ser analisado – o de “Beau Tem Medo”, de Ari Aster. Com ele, concorre a melhor ator de comédia ou musical.
Ao todo, no dia 7 de janeiro, a Associação de Correspondentes Estrangeiros vai distribuir 22 troféus para filmes, séries e telefilmes (15 para cinema e sete para TV). Um deles, o inusitado – chamemos assim – “troféu blockbuster”. Apelidado eufemisticamente de “melhor realização cinematográfica em bilheteria”. Heim??? E mais uma questão: será que não existem blockbusters na Índia, na Coreia do Sul, na China ou na França?!
Confira os finalistas:
CINEMA
Melhor filme (drama)
- ‘Anatomia de uma Queda’, de Justine Triet (França)
- ‘Assassinos da Lua das Flores’, de Martin Scorsese (EUA)
- Oppenheimer’, de Christopher Nolan (EUA)
- ‘Maestro’, de Bradley Cooper (EUA)
- ‘Vidas Passadas’, de Celine Song (EUA)
- ‘Zona de Interesse’, de Jonathan Glazer (Reino Unido)
Melhor filme (comédia ou musical)
- ”Pobres Criaturas’, de Yorgos Lanthimos
- Air: A História por Trás do Logo’, de Ben Affleck
- ‘American Fiction’, de Cord Jefferson
- ‘Barbie’, de Greta Gerwig
- ‘Os Rejeitados’, de Alexander Payne
- ‘Segredos de um Escândalo’, de Todd Haynes
Melhor filme em língua estrangeira
- ‘A Sociedade da Neve’, de J.A. Bayona (Espanha)
- ‘Zona de interesse’, de Jonathan Glazer (Reino Unido-EUA)
- Anatomia de uma Queda’, de Justine Triet (França)
- ‘Folhas de Outono’, de Aki Kaurismaki (Finlândia)
- ‘Io Capitano’, de Matteo Garrone (Itália)
- ‘Vidas Passadas’, de Celine Song (EUA)
Melhor filme de animação
- ‘Kimitachi wa dô ikiru ka’
- ‘Elementos’
- ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’
- ‘Super Mario Bros. – O filme’
- ‘Suzume’
- . ‘Wisnik: O Poder dos Desejos”
Melhor direção
- Yorgos Lanthimos – ‘Pobres Criaturas’
- Christopher Nolan – ‘Oppenheimer’
- Martin Scorsese – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Celine Song – ‘Vidas Passadas’
- Greta Gerwig – ‘Barbie’
- Bradley Cooper – “Maestro”
Melhor atriz (drama)
- Sandra Hüller – ‘Anatomia de uma Queda’
- Lily Gladstone – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Greta Lee – Vidas Passadas’
- Carey Mulligan – ‘Maestro’
- Cailee Spaeny – ‘Priscilla’
- Annette Bening – ‘Nyad’
Melhor ator (drama)
- Cillian Murphy – ‘Oppenheimer’
- Bradley Cooper – ‘Maestro’
- Leonardo Dicaprio – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Colman Domingo – ‘Rustin’
- Barry Keoghan – ‘Saltburn’
- Andrew Scott – ‘Todos Nós Desconhecidos’
Melhor atriz (comédia ou musical)
- Alma Pöysti – ‘Folhas de Outono’
- Emma Stone – ‘Pobres criaturas’
- Fantasia Barrino – ‘A Cor Púrpura’
- Jennifer Lawrence – ‘Que Horas eu te Pego?’
- Natalie Portman – ‘Segredos de um Escândalo’
- Margot Robbie – ‘Barbie’
Melhor ator (comédia ou musical)
- Paul Giamatti – ‘Os Rejeitados’
- . Nicolas Cage – ‘Dream scenario’
- Timothée Chalamet – ‘Wonka’
- Matt Damon – ‘Air: A História por Trás do Logo’
- Joaquin Phoenix – ‘Beau tem Medo’
- Jeffrey Wright – ‘American Fiction’
Melhor roteiro
- Justine Triet & Arthur Harari – ‘Anatomia de Uma Queda’
- Greta Gerwig & Noah Baumbach – ‘Barbie’
- Tony Mcnamara – ‘Pobres Criaturas’
- Christopher Nolan – ‘Oppenheimer’
- Eric Roth & Martin Scorsese – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Celine Song – ‘Vidas Passadas’
Melhor atriz coadjuvante
- Emily Blunt – ‘Oppenheimer’
- Danielle Brooks – ‘A Cor Púrpura’
- Jodie Foster – ‘Nyad’
- Julianne Moore – ‘Segredos de um Escândalo’
- Rosamund Pike – ‘Saltburn’
- Da’vine Joy Randolph – ‘Os Rejeitados’
Melhor ator coadjuvante
- Willem Dafoe – ‘Pobres Criaturas’
- Mark Ruffalo – ‘Pobres Criaturas’
- Robert De Niro – ‘Assassinos da lua das flores’
- Robert Downey Jr. – ‘Oppenheimer’
- Ryan Gosling – ‘Barbie’
- Charles Melton – ‘Segredos de um Escândalo’
Trilha sonora original em filme
- Jerskin Fendrix – ‘Pobres Criaturas’
- Ludwig Göransson – ‘Oppenheimer’
- Joe Hisaishi – ‘Kimitachi wa dô ikiru ka’
- Mica Levi – ‘Zona de Interesse’
- Daniel Pemberton – ‘Homem-Aranha: Através do aranhaverso’
- Robbie Robertson – ‘Assassinos da Lua das Flores’
Melhor canção original (filme)
- ‘Addicted to romance’ – Bruce Springsteen (‘She came to me’)
- ‘Dance the night’ – Mark Ronson, Andrew Wyatt, Dua Lipa, Caroline Ailin (‘Barbie’)
- ‘I’m just Ken’ – Mark Ronson, Andrew Wyatt (‘Barbie’)
- ‘Peaches’ – Jack Black, Aaron Horvath, Michael Jelenic, Eric Osmond, John Spiker (‘Super Mario Bros. – O filme’)
- ‘Road to freedom’ – Lenny Kravitz (‘Rustin’)
- ‘What was I made for?’ – Billie Eilish, Finneas O’Connell (‘Barbie’)
Melhor realização cinematográfica em bilheteria
- “Barbi
- “Oppenheimer”
- ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’
- ‘John Wick 4: Baba Yaga’
- ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
- ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’
- ‘Super Mario Bros. – O Filme’
- ‘Taylor Swift: The Eras Tour’
TELEVISÃO
Melhor série de TV (drama)
- ‘1923’
- ‘The Crown’
- ‘The diplomat’
- ‘The Last of us’
- The morning show’
- ‘Succession’
Melhor série de TV (comédia ou musical):
- ‘Abbott Elementary’
- ‘Barry’
- ‘The Bear’
- ‘Jury Duty’
- ‘Only murders in the building’
- ‘Ted Lasso’
Melhor série limitada, série antológica ou telefilme
- ‘All the light we cannot see’
- ‘Treta’
- ‘Daisy Jones & The Six’
- ‘Fargo’
- ‘Fellow Travelers’
- ‘Lessons in chemistry’
Melhor atriz em série de TV (drama)
- Helen Mirren – ‘1923’
- Bella Ramsey – ‘The last of us’
- Keri Russel – ‘The diplomat’
- Sarah Snook – ‘Succession’
- Imelda Staunton – ‘The Crown’
- Emma Stone – ‘The curse’
Melhor ator em série de TV (drama)
- Bryan Cox – ‘Succession’
- Kieran Culkin – ‘Succession’
- Gary Oldman – ‘Slow horses’
- Pedro Pascal – ‘The last of us’
- Jeremy Strong – ‘Succession’
- Dominc West – ‘The Crown’
Melhor atriz em série de TV (comédia ou musical)
- Rachel Brosnahan – ‘The marvelous mrs. Maisel’
- Quinta Brunson – ‘Abbott Elementary’
- Ayo Edebiri – ‘The Bear’
- Elle Fanning – ‘The Great’
- Selena Gomez – ‘Only murders in the building’
- Natasha Lyonne – ‘Poker face’
Melhor ator em série de TV (comédia ou musical)
- Bill Hader – ‘Barry’
- Steve Martin – ‘Only Murders In The Building’
- Jason Segel – ‘Shrinking’
- Martin Short – ‘Only Murders In The Building’
- Jason Sudeikis – ‘Ted Lasso’