Cinema brasileiro reconquista o público, mas falta espaço para lançamento de mais 300 filmes

Foto: “A Filha do Palhaço”, de Pedro Diogenes

Por Maria do Rosário Caetano

Nas próximas semanas e meses, dezenas (centenas) de filmes brasileiros brigarão pela luz dos projetores digitais. Por um mísero horário (que seja!) no circuito exibidor, composto com pouco mais de 3 mil salas. Poucos serão os favorecidos.

Nessa quinta-feira, estreiam “Lilith”, de Bruno Sáfadi, e “Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor”, de Alfredo Manevy. Outros, com estreias anunciadas (e adiadas), aguardam sua hora e sua vez. As salas do circuito cultural continuam tomadas pela ótima safra do Oscar 2024.

O frisson anual causado pela estatueta dourada da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em especial esse ano, deixou muitos filmes brasileiros impossibilitados de encontrar salas para seus lançamentos.

A fase desesperadora dos três últimos anos (2020 a 2022, tempo de pandemia e de desprezo pela cultura por parte do governo Bolsonaro) vai dando visíveis (e significativos) sinais de melhora. No final de 2023, o público voltou a lembrar que o cinema brasileiro existe e emprega milhares de pessoas. E, assim sendo, recolocou a compra de ingressos para a produção prata-da-casa em seu cardápio cinematográfico.

O estado de catatonia, que parecia não ter fim, foi sacudido pelo relativo sucesso de “Nosso Sonho”, sobre a dupla Claudinho e Buchecha (quase 500 mil espectadores), e “Mussum, o Filmis” (quase 300 mil).

No primeiro trimestre desse ano de 2024, quatro produções nacionais – “Minha Irmã e Eu” (2,3 milhões de ingressos), “Nosso Lar 2” (1.650.000), “Mamonas Assassinas” (870 mil) e “Os Farofeiros 2” (500 mil espectadores em seus primeiros cinco dias de lançamento) – trouxeram alento aos produtores. Desses filmes, dois são comédias (o das “Irmãs” goianas e o dos farofeiros comandados por Roberto Santucci, um dos Midas do gênero). Um é espírita (“Nosso Lar 2”). “Mamonas Assassinas” soma biografia (da Banda de Guarulhos) e humor.

Morreram na praia filmes formatados para o sucesso e (quem sabe) o milhão de espectadores: “Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo” (200 mil), “Príncipe Lu e a Lenda do Dragão” (170 mil), e “Apaixonada”, comédia romântica protagonizada (e produzida) por Giovanna Antonelli (lançada em 213 salas, um bom circuito, vendeu em seus primeiros quatro dia apenas 9.878 ingressos. E obteve média muito baixa (46 espectadores/sala). Os dados são do Boletim Filme B, editado por Paulo Sérgio Almeida.

Para se ter um parâmetro de comparação: a comédia barraqueira “Farofeiros 2” foi lançada em 659 salas e atingiu ótima média: 639 pagantes/sala. Especialistas em mercado, como o próprio Paulo Sérgio Almeida, já colocam o filme no sonhado “Clube do Milhão”.

O ‘ibope’ do Oscar subiu de forma significava nessa sua nonagésima-sexta edição, realizada no Dolby Theater californiano (no último domingo, 10 de março). Muitos dos filmes premiados continuarão em cartaz, caso de “Anatomia de uma Queda”, “O Menino e Garça” e “Pobres Criaturas”. Circunstância que deve perturbar a disponibilização do circuito de arte para os filmes brasileiros (em especial, os documentários e as ficções mais inquietas, experimentais ou, parodiando o ator e diretor Wagner Moura, os “títulos mais cabeçudos”). Afinal, eles costumam a circular pelo “circuitinho”.

Antes de listarmos as produções nacionais que serão vistas ao longo desse mês e até o final de junho (para nos reduzirmos ao primeiro semestre), vale registrar que, pelo menos uma distribuidora, a pequena Embaúba, pode não ter peso econômico, mas prima pela organização. Seus dez filmes, entre eles, os ótimos “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge, vencedor do Festival de Brasília 2022, “Estranho Caminho”, de Guto Parente, e “A Filha do Palhaço”, de Pedro Diógenes, já estão com data marcada (ver lista abaixo).

“Estranho Caminho”, de Guto Parente

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É de bom senso, nessa hora, evocar trecho de artigo do professor (UFSC), gestor cultural e cineasta Alfredo Manevy, publicado na Ilustríssima (Folha de S. Paulo, 03/02/2024), no qual ele constata que não há espaço para toda a produção atual do cinema brasileiro em nosso pequeno circuito exibidor (menos de 10% de nossos municípios — são quase 6 mil — dispõe de salas de cinema).

Manevy, que protagoniza sua primeira experiência como realizador (com a estreia de “Confissões de um Sofredor”), corajosamente, escreveu: “O Brasil vem batendo recordes de produção. Devemos terminar o ano com mais de 300 longas-metragens produzidos com investimentos da Lei Paulo Gustavo e do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Para onde vai essa produção?”

Confira os lançamentos programados:

MARÇO

Dia 14 – “Lilith”, de Bruno Sáfadi (ficção)
Dia 14 – “Lupicínio Rodrigues – Confissões de Um Sofredor”, de Alfredo Manevy (doc)
Dia 21 – “Morcego Negro”, de Chaim Litevski e Cleisson Vidal (doc)
Dia 21 – “Saudosa Maloca”, de Pedro Serrano (fic)
Dia 21 – “Bola pro Alto”, de Cecília Lang (doc)
Dia 28 – “Nada Será Como Antes – A Música do Clube da Esquina”, de Ana Rieper (doc)
Dia 28 – “Dois é Demais em Orlando”, de Rodrigo Van Der Put (fic)
Dia 28 – “Jango no Exílio”, de Pedro Lucas (doc)

ABRIL

Dia 02 – “Meu Amigo Lorenzo”, de André Luiz Oliveira (doc)
Dia 04 – “Licença para Enlouquecer”, de Hsu Chien (fic)
Dia 04 – “A Matéria Noturna”, de Bernard Lessa (fic)
Dia 04 – “Morte, Vida e Sorte”, de Alexandre Alencar (fic)
Dia 04 – “Uma Família Feliz”, de José Eduardo Belmonte (fic)
Dia 11 – “A Paixão Segundo GH”, de Luiz Fernando Carvalho (fic)
Dia 11 – “Uma Baía”, de Murilo Salles (doc)
Dia 11 – “Evidências do Amor”, de Pedro Antonio Paes (fic)
Dia 11 – “As Linhas da minha Mão”, de João Dumans
Dia 18 – “Sem Coração”, de Mara Normande e Tião (fic)
Dia 18 – “Jorge da Capadócia”, de Alex Machafer (fic)
Dia 18 – “Vidente por Acidente”, de Rodrigo Van Der Put (fic)
Dia 18 – “José Aparecido Oliveira – O Maior Mineiro do Mundo”, de Mário Lúcio Brandão (doc)
Dia 25 – “Aumenta que é Rock’n’Roll”, de Thomas Portella (fic)
Dia 25 – “Meu Sangue Ferve por Você”, de Paulo Machline (fic)
Dia 25 – “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos”, de Daniela Broitman (doc)

MAIO

Dia 02 – “Férias Trocadas”, de Bruno Barreto (fic)
Dia 02 – “O Anel de Eva”, de Duflair Barradas (fic)
Dia 09 – “Vermelho Monet”, de Halder Gomes (fic)
Dia 09 – “!Bandida – A Número Um”, de João Wainer (fic)
Dia 16 – “De Repente, Miss!”, de Hsu Chien e Cris D’Amato (fic)
Dia 16 – “Mato ou Morro”, de Caco de Souza (fic)
Dia 16 – “Mallandro – O Errado que Deu Certo”, de Marco A. Cravalho (fic)
Dia 23 – “Morando com o Crush”, de Hsu Chien
Dia 23 – “A Festa de Léo”, de Luciana Bezerra e Gustavo dos Santos (fic)
Dia 23 – “Avassaladoras 2.0.”, de Mara Mourão (fic)
Dia 30 – “Os Dragões”, de Gustavo Spolidoro (fic)
Dia 30 – “Princesa Adormecida”, de Bruno Garotti (fic)
Dia 30 – “Toda Noite Estarei Lá”, de Suellen Vasconcelos e Tati Franklin (doc)
Dia 30 – “Grande Sertão”, de Guel Arraes (fic)

JUNHO

Dia 13 – “Entrelinhas”, de Guto Pasko (fic)
Dia 13 – “Verissimo”, de Luzimar Strich (doc)
Dia 20 – “Tô de Graça, o Filme”, de César Rodrigues (fic)
Dia 27 – “Ainda Somos os Mesmos”, de Paulo Nascimento (fic)
Dia 27 – “Casa Izabel”, de Gil Baroni (fic)

Lançamentos da Distribuidora Embaúba

11/04 – “As Linhas da Mão”, de João Dumans
02/05 – “A Filha do Palhaço”, de Pedro Diogenes
23/05 – “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge
13/06 – “O Estranho”, de Flora Dias e Juruna Mallon
04/07 – “A Flor do Buriti”, de João Salaviza e Renée Nader Massora
01/08 – “Estranho Caminho”, de Guto Parente
29/08 – “Zé”, de Rafael Conde
19/09 – “Quando Eu me Encontrar”, de Michelline Helena e Amanda Pontes
10/10 – “Termodielétrico”, de Ana Costa Ribeiro
31/10 – “Corpo Presente”, de Leonardo Barcelos

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