Itaú Cultural Play estreia a mostra 5 vezes Carlos Reichenbach
No ano em que Carlos Reichenbach, um dos mais celebrados cineastas brasileiros, completaria 80 anos, a Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita do cinema nacional, estreia uma mostra em sua homenagem. No ar a partir de 18 de julho, 5 vezes Carlos Reichenbach traz alguns dos principais filmes do diretor, que foram premiados em eventos como o Festival de Brasília: “Alma Corsária” (São Paulo, 1993), “Bens Confiscados” (São Paulo, 2004), “Garotas do ABC” (São Paulo, 2004), “Falsa Loura” (foto, São Paulo, 2007) e “Lilian M: Relatório Confidencial” (São Paulo, 1975, este já presente no catálogo).
Um dos destaques da mostra 5 vezes Carlos Reichenbach é “Alma Corsária” (1993), uma das obras mais celebradas do diretor. O filme narra a história dos poetas e amigos de infância Rivaldo Torres e Teodoro Xavier, que lançam um livro escrito a quatro mãos em uma pastelaria no centro de São Paulo. O evento atrai personagens encantadores e incomuns, incluindo familiares, pequenos criminosos, desocupados e trabalhadoras do sexo. A partir dessa cena no presente, a narrativa retrocede aos anos 1950 para recontar a história da amizade entre os dois autores.
Com seu olhar retrospectivo, Reichenbach cria um inventário de toda uma geração e percorre três décadas da história do Brasil, fazendo um elogio à amizade e ao aprendizado amargo e alegre da vida. O longa-metragem foi o grande vencedor do Festival de Brasília de 1993, conquistando as categorias de melhor filme, direção, roteiro, montagem e prêmio da crítica, e é um dos quatro filmes de Reichenbach presente na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
A seleção da IC Play também exibe “Falsa Loura” (2007), último filme dirigido por Reichenbach antes de sua morte. Descrito pelo próprio diretor como um musical brasileiro e proletário, o longa-metragem acompanha Silmara, uma operária de uma fábrica paulistana que sonha em ascender socialmente, interpretada por Rosanne Mulholland. Enquanto equilibra o trabalho, a vida social com suas amigas e os cuidados com o pai ex-incendiário, Silmara se envolve com dois artistas – um cantor pop em início de carreira, papel de Cauã Reymond, e um ídolo da música romântica, vivido por Maurício Mattar –, tirando importantes lições de vida dessas experiências.
A produção é notável por seu elenco feminino forte, que sustenta com maestria uma história de juventude cheia de referências cinematográficas, múltiplas camadas de significado e uma perspicaz crítica social. Pela atuação no filme, Djin Sganzerla foi premiada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Brasília de 2007.
“Bens Confiscados” (2004) é considerado um dos melhores filmes brasileiros dos anos 2000. Nele, Carlos Reichenbach constrói um melodrama que expõe os bastidores da política nacional, onde segredos sórdidos, corrupção, adultério e tráfico de influência se entrelaçam sem pudor. A trama centra-se em Serena, enfermeira-chefe de um hospital público no Rio de Janeiro. Amante de um senador da República com quem mantém uma relação não resolvida, ela recebe a visita de um assessor do político após a eclosão de escândalos que ameaçam a reputação dele. Para evitar que a situação fuja ao controle, Serena é encarregada de cuidar do filho secreto do senador, que foi enviado à força para um decadente balneário no litoral gaúcho.
Admirador do cineasta alemão Douglas Sirk (1897-1987), Reichenbach evoca o estilo do mestre do melodrama para confrontar o cinema brasileiro com sua própria história contemporânea. Betty Faria, uma das produtoras, brilha como estrela principal do filme.
Com uma atualidade surpreendente, “Garotas do ABC”, também lançado em 2004, é um filme provocador que aborda temas como neonazismo, violência policial e preconceito. A trama se passa na região do ABC paulista, historicamente ligada à indústria têxtil e metalúrgica, e acompanha a rotina de um grupo de operárias, suas diversões e aspirações. Entre elas está Aurélia, uma trabalhadora negra, bela e determinada. Sua vida toma um rumo perigoso, quando ela se apaixona por Fábio, um jovem branco envolvido com uma gangue neonazista.
A produção, que ganhou o prêmio especial do júri no Festival de Brasília de 2003, é original em seu roteiro e exibe as marcas registradas do cinema de Reichenbach: a mistura de gêneros, a tensão entre o realismo e a estilização, e as referências a outros filmes e autores, tanto brasileiros quanto estrangeiros. Nela, Selton Mello interpreta um “intelectual” de extrema-direita, ideólogo do grupo de neonazistas da qual Fábio faz parte.
Por fim, a mostra 5 vezes Carlos Reichenbach exibe “Lilian M: Relatório Confidencial” (1975), que também integra a coleção permanente da IC Play Histórias do Cinema Brasileiro, dedicada aos diferentes caminhos que a sétima arte percorreu no país desde sua origem. Segundo longa-metragem do diretor, libertário, provocativo, erótico e político, ele acompanha a jornada de uma mulher do campo que abandona sua família para tentar a vida na metrópole.
Sua ascensão social a leva a se envolver com uma galeria de personagens excêntricos, incluindo um industrial, um empresário alemão que financia a repressão e um jovem burguês agressivo e mimado. Censurado pelo governo militar, que cortou 25 minutos de sua duração original, o filme foi restaurado no final dos anos 2000.
Nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas trazido pela família ainda bebê a São Paulo, Carlos Reichenbach foi não só cineasta, como também fotógrafo, roteirista e músico. Um dos principais diretores de cinema da chamada Boca do Lixo, polo de produção cinematográfica localizado no centro da capital, que teve seu auge entre as décadas de 60 e 80, ele ficou conhecido pelo seu cinema de autor, marcado pela mistura entre o erudito e o popular.
Com um repertório de filmes premiados em festivais nacionais e internacionais, Reichenbach foi o primeiro a ganhar, em 2001, o Troféu Eduardo Abelin, concedido pelo Festival de Gramado como uma homenagem a cineastas e entidades do audiovisual pelo trabalho feito em benefício do cinema brasileiro. Por trás de suas lentes já estrelaram atores como Betty Faria, Selton Mello, Cauã Reymond, Beth Goulart e Ney Latorraca (1944-2024). Carlão, como era chamado na comunidade cinéfila, morreu em 14 de junho de 2012, dia em que completava 67 anos de idade, deixando um legado de amor pelo cinema e inventividade.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG, Android TV e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast. Você também pode encontrar conteúdo da IC Play nas plataformas Claro TV+ e Watch Brasil.