Lançamentos brasileiros do 2º semestre conseguirão manter market share igual ao conquistado pela dobradinha “Ainda Estou Aqui-Auto da Compadecida”?

Foto: Wagner Moura, em “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho

Por Maria Rosário Caetano

O cinema brasileiro teve um primeiro semestre dos mais animadores. Graças ao imenso sucesso de “Ainda Estou Aqui”, o filme de Walter Salles, que fizera sua estreia em 2024 e seguira em frente seduzindo plateias em ritmo de blockbuster. Até aproximar-se dos 6 milhões de ingressos e prenunciar um novo tempo. E, também, da comédia “O Auto da Compadecida 2”, estreia natalina, que bombou no primeiro semestre. Juntos, os dois filmes venderam 10 milhões de tíquetes.

Depois, veio o infantil “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, visto por um milhão de espectadores. E “Vitória”, com Fernanda Montenegro, que ultrapassou os 700 mil ingressos. Um quinto título – “Homem com H”, atrevida cinebiografia de Ney Matogrosso – fechou a temporada com 650 mil espectadores. Até Rita Lee, multiplicada em “Ritas”, deu sua ajudinha: vendeu 42 mil ingressos. Resultado: o primeiro semestre fechou com a produção nacional ocupando quase 15% do market share.

O cinema brasileiro conseguirá segurar o tranco nesse segundo semestre?

Por que julho foi um mês tão terrível? Nele, a produção nacional desempenhou papel de mero figurante (daqueles que passam no final do quadro e só são percebidos pelos parentes mais próximos). O mês de férias foi tomado de assalto (mais uma vez) pelos blockbusters de Hollywood.

A Revista de CINEMA analisou a lista de estreias do segundo semestre, publicada pelo Filme B, boletim editado por Paulo Sérgio Almeida, e deparou-se com 64 produções.

Só nessa quinta-feira, 7 de agosto, serão lançados quatro títulos. Na quinta seguinte, 14, serão oito (sim, oito). E assim por diante. Haverá outras quintas-feiras com um, dois, três e até seis lançamentos. Para uma só (18 de dezembro), não há nenhuma estreia prometida. Mas elas podem aparecer. Quem acompanha a Lista de Lançamentos do Filme B sabe que ela é dinâmica.

Quem desempenhará o milagroso papel de “Ainda Estou Aqui”, um filme que tem a ditadura militar como pano de fundo, e mesmo assim conseguiu comover milhões de espectadores? Muitos viram nele um “filme família”.

A resposta é óbvia: o candidato a causar frisson neste semestre é “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, também situado no tempo histórico da ditadura militar de 1964.

Embora não tenhamos visto o filme (o faremos na noite inaugural do Festival de Brasília, em 12 de setembro), há razões para confiarmos (e pisarmos no acelerador) ao buscar proximidades entre o desempenho dos dois filmes.

Ambos têm protagonistas estelares. O carioca, a carismática Fernanda Torres. O pernambucano, o igualmente carismático Wagner Moura. Os dois diretores são muitos respeitados e conhecedores da linguagem do cinema. Walter tinha um grande sucesso em seu currículo: “Central do Brasil” (1,6 milhão de ingressos). KMF tem um hit para chamar de seu: “Bacurau”, o western do Terceiro Mundo, que ele dirigiu com Juliano Dornelles, e chegou ao milhão de espectadores.

O pé no freio se deve a duas razões: o cinema de KMF costuma ser mais disruptivo que o de WSJr. O filme pernambucano dura 2h40, meia hora a mais que o carioca. Mas tudo isso cairá por terra se “O Agente Secreto” pegar no breu e virar um sucesso de bilheteria. Aguardemos, pois, o dia 6 de novembro, data de sua estreia brasileira.

E quem cumprirá o papel de “comédia do ano”, nos moldes da “Compadecida 2”?

Tudo indica que será “Minha Amiga”, de Susana Garcia, com as hilárias Ingrid Guimarães e Mônica Martelli. Este filme, porém, só estreará no Natal. Portanto, emprestará seu (possível) sucesso às estatísticas de 2026.

E que título cumprirá o papel desempenhado pelo gracioso “Chico Bento”, interpretado pelo chorão (testemunharam as lágrimas dele na Noite dos Otelos?) Isaac Amendoim?

Nesse segmento – o do filme infantil – o candidato certo é “DPA – O Fantástico Reino de Ondion”, dirigido pelo descolado Mauro Lima, responsável por sucessos como “Meu Nome Não é Johnny”, “Tim Maia” e pelo DPA 3 (“Uma Aventura no Fim do Mundo”).

Pode ser que “Tainá”, a indígenazinha que fez bonito em suas versões live action, dê certo como filme de animação destinado à criançada. O título da hora é “Tainá e os Guardiões da Amazônia em Busca da Flecha Azul”, de Alê Camargo e Jordan Nugem. Estreia em novembro (dia 19). “DPA 4” no estratégico 4 de dezembro, com a Globo na retaguarda.

“DPA – O Fantástico Reino de Ondion”, de Mauro Lima © Desirée do Valle

Que produção repetirá o significativo êxito de “Vitória”, de Andrucha Waddington? Um filme – registre-se – do qual alguns (meu caso) duvidaram que fizesse sucesso. Como acreditar que uma atriz nonagenária (caso de Fernanda Montenegro) pudesse interpretar uma ágil idosa capaz de ganhar o pão-de-cada-dia como massagista (até de robustos traficantes!), correndo pra lá e pra cá e enxergando como um lince (para o devido registro de atos criminosos por sua recém-adquirida câmara de vídeo). Visão de adolescente, capaz de ver tudo que se passava, a significativa distância, na “Boca de Fumo” (e cocaína)? Eu não acreditei (apesar do talento de Fernanda Montenegro), mas 700 mil brasileiros acreditaram. E pagaram para ver.

Depois dessa digressão, é chegada a hora de procurar entre as 64 promessas de estreias desse segundo semestre, alguma capaz de fazer os incrédulos tornarem-se crentes (graças ao poder persuasivo do cinema). Procurei e não encontrei. Creio que só Nossa Senhora da Compadecida, vulgo Fernanda Montenegro, tem esse dom.

E no terreno das cinebiografias? Quem fará (ou ultrapassará) o sucesso de “Homem com H”?

Há três produções que se apresentam com pretensão de sucesso: “Maurício de Sousa – O Filme”, de Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado (23 de outubro), “Silvio Santos Vem Aí”, de Cris D’Amato (30 de outubro) e “Asa Branca, a Voz da Arena”, de Guga Sander (27 de novembro).

Será que há pessoas interessadas na história do pai da Turma da Mônica? No empresário bem-sucedido, que construiu um pequeno império editorial? Só o tempo dirá.

Já o caso de Silvio Santos nos causa espanto. Pouco mais de um ano atrás, um filme sobre o “Homem do Baú” naufragou nas bilheterias. Foi lançado com número imenso de cópias e publicidade avantajada. Resultou em fiasco. Esperavam milhões de ingressos. Fez pouco mais de 150 mil. O que terá o novo filme, protagonizado por Leandro Hassum, para seduzir o público?

Pelo que se sabe, há outro dado preocupante: o recorte de D’Amato se prende ao ano de 1989, quando o apresentador de TV ameaçou concorrer à presidência da República. Recuou. Aguardemos, pois.

E o que esperar da cinebiografia “Asa Branca, a Voz da Arena”, que mostra a trajetória do locutor de rodeios Waldemar Ruy Santos (1962-2020)? Conseguirá mobilizar o grande público?

Interpretado por Felipe Simas, o narrador, depois da glória, mergulharia nas drogas, contrairia o vírus HIV e padeceria de um câncer. Morreu aos 57 anos. Pode ser que essa zona de sombras dê vigor a essa obscura cinebiografia.

Dois veteranos – Carlos Diegues (1940-2025) e Bruno Barreto, de 70 anos – terão filmes novos na tela. “Deus Ainda é Brasileiro”, que sequencia “Deus é Brasileiro”, sucesso de 2003, já tem data de lançamento (19 de dezembro). Antes dele, estreia a nova comédia de Bruno, integrante do Clã Barreto: “Traição Entre Amigas” (16 de outubro).

O cineasta carioca, que reinou – com “Dona Flor e seus Dois Maridos” – por décadas como detentor da maior bilheteria do cinema brasileiro (até ser superado por “Tropa de Elite 2” e por um dos “Minha Mãe é Uma Peça”) não tem conseguido colocar suas comédias no Top 10 da produção nacional.

Nessa quinta-feira, estreia o filme brasiliense “Pacto da Viola”. Prestem atenção em seu protagonista, o ceilandense Wellington Abreu. Ele se define como “ator, palhaço e pau-para-toda-obra”. É bom em todos esses ofícios. Venceu o Troféu Candango, ano passado, no Festival de Brasília. Depois, ele poderá ser visto em outro longa candango: “Cartório das Almas”, de Leo Bello (dia 9 de outubro).

“O Último Azul”, do pernambucano Gabriel Mascaro, é o nome mais atrativo do festejado cinema autoral. Ele estreia dia 28 desse mês, respaldado no Urso de Prata que conquistou em Berlim, em fevereiro último, e em elenco que soma Denise Weinberg e Rodrigo Santoro.

No campo dos documentários, haverá muitas opções. Destaco uma, que pode atrair boleiros (aliás, segmento refratário ao cinema): “Placar, a Revista Militante”, de Ricardo Correia e Sérgio Xavier Filho. Quem sabe a saudade da publicação tire (o possível) espectador de casa.

“A Sogra Perfeita 2”, de Cris D’Amato e Bianca Paranhos

No terreno das curiosidades, dois registros: Nelson Botter Jr aparece como diretor de “Nosso Louco Amor” (4 setembro) e de “Apanhador de Almas”, parceria com Fernando Alonso (18 do mesmo mês). Mesmo caso de Tiago Benedetti, que também assina dois filmes (estes religiosos) – “São Miguel Arcanjo – Santo de Batalha” e “O Poder do Rosário”.

E um derradeiro registro: finalmente foi definida a data de estreia de “A Palavra”, filme de Guilherme de Almeida Prado, que andava sumido desde “Onde Andará Dulce Veiga?” (2008). Agora, ele regressa em dose dupla. Com essa “Palavra”, que realizou há muitos anos, mas permaneceu inédita por incidentes de percurso (incluindo desentendimento com os produtores), e com o longuíssimo “Odradec” (2024), apresentando em maratonas nas mostras de São Paulo e de Tiradentes (este filme dura mais de quatro horas). Dificilmente encontrará quem o distribua.

LANÇAMENTOS PROGRAMADOS

7 de agosto

. “A Melhor Mãe do Mundo”, de Anna Muylaert (SP)
. “Pacto da Viola”, de Guilherme Bacalhao (DF)
. “Paterno”, de Marcelo Lordello (PE)
. “A Mensagem do Jequi”, de Igor Amin (MG)

14 de agosto

. “Os Enforcados”, de Fernando Coimbra (SP)
. “Neirud”, de Fernanda Faya (SP)
. “Placar, a Revista Militante”, de Ricardo Correia e Sérgio Xavier Filho (SP)
. “Tijolo por Tijolo”, de Victória Alvares e Quentin Delaroche (PE)
. “No Céu da Pátria nesse Instante”, de Sandra Kogut (RJ)
. “Rumo ao Topo”, de Tatty Vianna
. “Cordélicos – A Origem do Cabra da Peste”, de Ale McHaddo (SP)
. “São Miguel Arcanjo – Santo de Batalha”, de Tiago Benedetti (Brasil-Itália)
. “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil”, de Carla Camuarti (relançamento)

21 de agosto

. “CIC – Central de Inteligência Cearense”, de Halder Gomes (CE)
. “Uma Mulher sem Filtro”, de Arthur Fontes (RJ)
. “Luiz Gonzaga – Légua Tirana”, de Diogo Fontes e Marcos Carvalho (PE)
. Moacyr Luz, Embaixador dessa Cidade”, de Tarsila Alves (RJ)

28 de agosto

. “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro (PE)
. “Por um Fio”, de David Schurmann
. “Retrato de um Certo Oriente”, de Marcelo Gomes (Brasil-Líbano) – relançamento

4 de setembro

. “Malês”, de Antônio Pitanga (RJ)
. “A Praia do Fim do Mundo”, de Petrus Cariry (CE)
. “O Rei da Feira”, de José Joffily (RJ)
. “3 Obás de Xangô”, de Sérgio Machado (RJ)
. “Amazônia, Uma Nova Minamata?”, de Jorge Bodanzky (SP)
. “Nosso Louco Amor”, de Nelson Botter Jr

11 de setembro

. “Suçuarana”, de Clarissa Campolina e Sérgio Borges (MG)
. “Sonhar com Leões”, de Paolo Marinou-Blanco (Brasil-Portugal)
. “A Sogra Perfeita 2”, de Cris D’Amato e Bianca Paranhos (RJ)

18 de setembro

. “Barba Ensopada de Sangue”, de Aly Muritiba (SC-SP)
. “Uma Babá Gloriosa”, de Juana Pablo Pires
. “Apanhador de Almas”, de Fernando Alonso e Nelson Botter Jr

25 de setembro

. “Bicho Monstro”, de Germano Oliveira

2 de outubro

. “Eu e meu Avô Nihonjin”, de Célia Catunda (SP)
. “Praia do Silêncio”, de Gabriel Campos e Francisco Garcia (SP)
. “Aprender a Sonhar”, de Vítor Rocha
. “O Gato Galático”

9 de outubro

. “O Último Episódio”, de Maurílio Martins (MG)
. “Cartório das Almas”, de Leo Bello (DF)
. “Salomé”, de André Antônio (PE)
. “Bia Mais Um”, de Wellington Sari
. “Perrengue Fashion”, de Flávia Lacerda (RJ)
. “O Poder do Rosário”, de Tiago Benedetti

16 de outubro

. “Traição Entre Amigas”, de Bruno Barreto (SP)

23 de outubro

. “Maurício de Sousa – O Filme”, de Pedro Vasconcelos e Rafael Salgado (SP)
. “Salve Rosa”, de Susana Lira (RJ)

30 de outubro

. “Enterre seus Mortos”, de Marco Dutra (SP)
. “Silvio Santos Vem Aí”, de Cris D’Amato (RJ)
. “A Própria Carne”, de Ian SBF

6 de novembro

. “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho (PE)
. “Ruas da Glória”, de Felipe Sholl (RJ)
. “Maloucos Contra o Ladrão de Sonhos”, de Bruno Bennec
. “Rejeito”, de Pedro de Filippis (Brasil-EUA)

13 de novembro

. “(Des)Controle, de Rosane Svartman (RJ)
. “Marido de Aluguel”, de Paulo Fontenelle (RJ)
. “A Hora do Recreio”, de Lúcia Murat (RJ)

20 de novembro

. “A Queda do Céu”, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha (RJ)
. “Tainá e os Guardiões da Amazônia em Busca da Flecha Azul”, de Alê Camargo e Jordan Nugem (RJ)
. “O Velho Fusca”, de Emiliano Ruschel

27 de novembro

. “A Palavra”, de Guilherme de Almeida Prado (SP)
. “Asa Branca, a Voz da Arena”, de Guga Sander (SP)
. “A Natureza das Coisas Invisíveis”, de Rafaela Camelo (Brasil-Chile)

4 de dezembro

. “DPA – O Fantástico Reino de Ondion”, de Mauro Lima (RJ)
. “Cássia”, de Paulo Henrique Fontenelle (RJ, relançamento)

11 de dezembro

. “Deus Ainda É Brasileiro”, de Carlos Diegues (RJ)

18 de dezembro

Nenhuma estreia

25 de dezembro

. “Minha Amiga”, de Susana Garcia (RJ)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.