Prêmio Almanaque: Estrella Morente & Fernando Trueba

O Prêmio Almanaque desta edição vai para Fernando Trueba e Estrella Morente pelo CD “Amar en Paz”. Ele, o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro (com “Sedução”/1993), produziu o disco em que a cantora de flamenco, Estrella Morente, de 34 anos, acompanhada de Niño Josele, interpreta clássicos da música popular brasileira. De Villa-Lobos a Luiz Bonfá, de Pixinguinha a Tom Jobim, de Ary Barroso a Chico Buarque, de Radamés Gnatalli a Paulinho da Viola. Apesar da embalagem branca e discreta, o CD traz encarte recheado de fotos poderosas. O Brasil deve muito a Trueba. Ele fez, aqui, um belo documentário – “Milagre no Candeal” – protagonizado por Carlinhos Brown e turma do gueto soteropolitano. Nenhum distribuidor brasileiro ou rede de TV comprou o filme. Alguns o viram em sessão histórica, no terreiro browniano, durante a Jornada de Cinema da Bahia. Mesmo ignorado por nossos cinemas e TVs, Trueba seguiu amando o Brasil e sua música. E produziu esta joia que é “Amar en Paz”. Será que o disco será lançado por aqui? E “Milagre no Candeal”? Um dia chegará às nossas TVs e locadoras? Nunca é demais lembrar que o cineasta vem, há anos, pesquisando a história de Tenório Júnior, músico que acompanhava Vinícius de Moraes em turnê por Buenos Aires, quando foi confundido com militante político e assassinado. E que fez um canto de amor à música latino-americana no delicioso documentário “Calle 54”. Neste filme, Gatto Barbieri evoca Glauber Rocha e repete frase consagrada por Paulo Cezar Saraceni: “não se pode viver sem Rossellini”.