Festival Sesc consagra “Roma”, “Arábia” e “O Beijo no Asfalto”

Por Maria do Rosário Caetano

Dois filmes brasileiros – o mineiro “Arábia” e o carioca “O Beijo no Asfalto” – conquistaram os principais prêmios do 45º Festival Sesc Melhores Filmes, em cerimônia realizada no CineSesc, na noite de quarta-feira, 10 de abril, em São Paulo. O mexicano “Roma” confirmou sua condição de filme internacional mais festejado da temporada. Sagrou-se o melhor longa estrangeiro para a Crítica e o Público.

O cineasta Alfonso Cuarón foi eleito, também por Crítica e Público, o melhor diretor. E o Público elegeu, ainda, a jovem indígena Yalitza Aparicio, em sua estreia no cinema, como a melhor atriz. Se não bastasse, a curadoria do Prêmio Sesc atribuiu menção honrosa aos atores mirins Daniela de Mesa e Marco Graf, intérpretes de dois dos quatro filhos dos patrões da doméstica Cleo, justo os mais novos e os mais apegados a ela.

Os prêmios de “Roma” foram recebidos pelo adido cultural do Consulado mexicano, Oscar Soberanes, que exaltou o “grande reconhecimento internacional” do filme de Cuarón, fato que, nas palavras dele, tem trazido “imenso orgulho ao meu país”. Soberanes terá que embalar quatro sólidos troféus desenhados pelo artista plástico Emannuel Araújo, diretor do Museu Afro-Brasileiro, para enviar ao bairro Roma, na capital mexicana, onde vive a família Cuarón.

A premiação internacional, mais enxuta que a brasileira, reconheceu mais três filmes: “Três Anúncios para um Crime” (melhor atriz para Frances McDormand), segundo a Crítica, “Trama Fantasma” (melhor ator, para Daniel Day-Lewis), também por escolha da Crítica, e “Infiltrado na Klan”, o adrenalinado filme black de Spike Lee (melhor ator para John David Washington), eleito pelo Público.

A premiação brasileira surpreendeu com a consagração (pelo voto popular) do cineasta estreante Murilo Benício, responsável por nova adaptação cinematográfica da peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues.

Primeiro, Benício recebeu prêmio de melhor ator (segundo o Público), por seu trabalho no vigoroso terror “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, no qual interpreta o dono de restaurante paulistano que, depois de um assalto, transforma-se em cenário de sanguinolentos enfrentamentos.

O ator, famoso por seu trabalho em telenovelas, agradeceu o prêmio lembrando que o colega Lázaro Ramos lhe perguntara por que andava tão afastado do cinema. Ele respondeu: “porque me chamam para papeis semelhantes aos que desempenho na TV, então, é preferível fazer telenovelas e minisséries”. Foi então que chegou o convite de Gabriela para que interpretasse papel em tudo diferente ao que ele representara até então. Aceitou, com imensos entusiasmo e entrega (em “Animal Cordial”, Murilo e Luciana Paes interpretam, banhados em sangue, umas das mais impressionantes cenas de sexo do cinema brasileiro).

No final da festa, Murilo Benício foi chamado de volta ao palco para receber, por “O Beijo no Asfalto”, os prêmios de melhor filme, diretor, roteiro (dele próprio), atriz (para sua mulher, a mineira Débora Falabella) e fotografia (Walter Carvalho). Este último troféu foi recebido pelo irmão de Walter, o cineasta paraibano-brasiliense, Vladimir Carvalho, que aproveitou o microfone para sugerir ao Sesc que promova, em suas unidades, Mostra do Novo Cinema Paraibano. Afinal, argumentou: “o estado nordestino não pariu gêmeos, nem trigêmios, mas sim sêxtuplos”, pois apresentou, na última edição do Festival Aruanda, em dezembro passado, seis longas-metragens made in Paraíba.

Outro filme que recebeu ampla consagração foi o mineiro “Arábia” (melhor longa, melhor direção, de Afonso Uchoa e João Dumans, e melhor ator para Aristides de Souza, o Juninho). As escolhas vieram da Crítica. O filme, um road movie proletário-existencialista, venceu o Festival de Brasília em 2017 e foi consagrado em múltiplas resenhas críticas.

“Benzinho”, a deliciosa e cassavetsiana comédia dramática de Gustavo Pizzi, teve reconhecida sua “alma”: a atriz Karine Teles que, além de imantar nossos olhos com seu imenso talento, é coautora do roteiro, também premiado (fruto de parceria com seu ex-marido, o cineasta Gustavo Pizzi). As duas escolhas foram feitas pela Crítica. O diretor buscou os prêmios e Karine mandou agradecimento em vídeo, cercada pelos filhos gêmeos, Francisco e Arthur. Ela lembrou que o CineSesc fora o primeiro cinema em que seus recém-nascidos pisaram. Ela os levou ao cinema da Rua Augusta, em 2011 , quando recebeu o Prêmio Sesc por seu trabalho no filme “Riscado”. Os gêmeos integram o elenco de “Benzinho”.

“O Processo”, o longa de Maria Augusta Ramos sobre o impeachment da presidenta Dilma Roussef, foi eleito o melhor documentário (pela Crítica e pelo Público). O troféu foi recebido pela montadora Karem Akerman, ao lado da distribuidora Silvia Cruz, da Vitrine Filmes. Enquanto Silvia lembrava que o documentário vendera mais de 60 mil ingressos, fato que o colocou entre as 10 maiores bilheterias brasileiras, ano passado, Karem estendia faixa negra, na qual se lia, em letras brancas “Lula Livre”.

Para provar que o gênero horror/terror está em alta no cinema brasileiro, a Crítica reconheceu o lusitano Rui Poças pela melhor fotografia de “As Boas Maneiras”, longa da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra.

Confira os vencedores:

FILMES BRASILEIROS

. “Arábia”: melhor filme, diretores (Afonso Uchoa e João Dumans) e ator (Aristides de Souza, o Juninho) para a Crítica

. “O Beijo no Asfalto”: melhor filme, diretor (Murilo Benício),  roteiro (Murilo Benício, atriz (Débora falabella) e fotografia (Walter Carvalho) para o Público

. “Benzinho”: melhor atriz: Karine Teles (para a crítica), melhor roteiro (Karine Teles e Gustavo Pizzi) para a Crítica

. “O Processo”: melhor documentário (para a Crítica e para o Público)

. “As Boas Maneiras”: melhor fotografia (Rui Poças) para a Crítica

. “O Animal Cordial”: melhor ator (Murilo Benício) para o Público

FILMES ESTRANGEIROS

. “Roma”: melhor filme, diretor (Alfonso Cuarón) para Crítica e Público e melhor atriz (Yalitza Aparicio) para o Público. Mais menção honrosa para as crianças Daniela de Mesa e Marco Graf

. “Três Anúncios para um Crime”: melhor atriz (Frances McDormand) para a Crítica

. “Trama Fantasma”: melhor ator (Daniel Day-Lewis) para a Crítica

. “Infiltrado na Klan”: melhor ator (John David Washington) para o Público

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