As novas faces do cinema

A Revista de CINEMA selecionou 10 novos diretores de maior destaque na estreia em longa-metragem, para mostrar quem são, o que fazem, suas influências e seus projetos futuros. Uma geração pluralista e autoral. São eles, Eduardo Nunes (“Sudoeste”), Tiago Mata Machado (“Os Residentes”), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), André Ristum (“Meu País”), Vinícius Coimbra (“A Hora e a Vez de Augusto Matragra”), Helvécio Marins Jr. (“Girimunho”), Flávia Castro (“Diário de uma Busca”), Julia Murat (“Histórias que Só Existem Quando Lembradas”), Marco Dutra e Juliana Rojas (“Trabalhar Cansa”) e Sérgio Borges (“O Céu sobre os Ombros”).

Acompanhe, a cada semana, cada um desses diretores.

A hora e a vez de Vinícius Coimbra

Ninguém acreditava muito quando Vinícius Coimbra, com longa experiência na televisão e na publicidade, jamais havia dirigido algo para o cinema, sua produtora também estreava, resolveu fazer cinema. E tudo com muito pouco dinheiro e um enorme desafio: realizar uma nova adaptação de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, conto de Guimarães Rosa, sendo que a última, dirigida por Roberto Santos, em 1965, é considerado um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro – o próprio Leonardo Villar, protagonista da versão de 1965, negou o convite para atuar no longa, alegando que não haveria razão para alguém fazer o filme novamente. Vinícius, contudo, persistiu, comprou os direitos da família de Rosa, se juntou a produtora paulistana Prodigo Films, montou uma equipe (a começar pela fotografia de Lula Ferreira e o mesmo grupo de efeitos especiais de “Tropa de Elite”) e um elenco (formado por João Miguel, José Wilker, José Dumont e Chico Anysio) de estrelas, e acabou indo filmar na mesma fazenda em que Roberto Santos esteve nos anos 60. Em 2011, sua versão de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” consagrou-se o grande vencedor do Festival do Rio, ganhando os prêmios de melhor filme pelo júri oficial e voto popular, melhor ator e ator coadjuvante.

Vinícius nasceu em Niterói em 1971. Começou a trabalhar no mercado da publicidade, embora o cinema sempre falasse mais alto. “A literatura foi o que me induziu o desejo de contar histórias, além do trabalho com atores e a vontade de narrar através deles”, diz ele. Por volta de 1991, fez dois curtas, “Doente do Pulmão”, baseado na obra de Nelson Rodrigues, e “Primeiro Minuto”, para o Festival do Minuto. Foi assistente de direção em “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, e em “A Hora Mágica” (1998), de Guilherme de Almeida Prado, antes de entrar no universo da televisão. Em 2001, foi assistente de Denis Carvalho na novela “Um Anjo Caiu do Céu”. Em seguida, vieram outras novelas e minisséries como “JK” (2006), de Maria Adelaide Amaral, Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro, “Celebridade” (2003), de Gilberto Braga, “Paraíso Tropical” (2007), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares… e Vinícius chegou ao cargo de diretor geral na TV Globo. E só voltou ao cinema em 2011, escrevendo (com Manuela Dias), produzindo (com Adriano Civita e Beto Gauss) e dirigindo “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”.

A Hora e a Vez de Augusto Matraga

Assim como Roberto Santos, Vinícius também apostou em uma fidelidade ao texto do escritor mineiro, manifesta nos diálogos, entoados a partir de palavras do próprio conto, que conta a saga de Augusto Matraga, um homem poderoso do sertão que não respeita nada nem ninguém. Nas mãos de Vinícius, no entanto, o filme sublinha os elementos universais da obra de Rosa, a honra, a vaidade, o arrependimento, a humildade. É uma história de redenção, em que um homem de índole má toma consciência de seus males e passa a viver para os outros, fugindo da tentação. A recepção do filme não poderia ter sido mais surpreendente, segundo Vinícius: “Queríamos que o Guimarães Rosa chegasse ao público e acho que ele chegou! Vimos isso no prêmio de melhor filme pelo júri popular”, conta o cineasta, citando entre suas maiores influências, nomes grandes como Yasujiro Ozu, Robert Altman, David Lean, Frederico Fellini e Ingmar Bergman. Ansioso com a estreia do longa em circuito ainda este ano, Vinícius ganhou R$ 1 milhão do Fundo Setorial do Audiovisual para rodar “Faces da Alma”. “É uma adaptação contemporânea de Macbeth, de Shakespeare, passada em São Paulo. Vou filmá-la no ano que vem.”

 

Por Julio Bezerra

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