Mostra Internacional de Cinema anuncia programação

De 16 a 29 de outubro, acontece em São Paulo a tradicional Mostra Internacional de Cinema. Durante duas semanas, serão exibidos 331 títulos e mais quatro programas de curtas de variados países e diversas cinematografias em 35 salas de 29 espaços, entre cinemas, espaços culturais e museus espalhados pela capital paulista. A seleção deste ano faz um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo, além das principais tendências, temáticas, narrativas e estéticas produzidas em todo o mundo.

A 38ª Mostra Internacional de Cinema é composta por cinco seções: Competição Novos Diretores, que exibe títulos de diretores que tenham realizado até dois longas (os mais bem votados pelo público serão vistos pelo Júri Internacional, que escolhe posteriormente os que vão receber o Troféu Bandeira Paulista); Perspectiva Internacional, que apresenta um panorama do recente cinema mundial; Retrospectivas, seção com obras de diretores importantes ou mesmo desconhecidos; Apresentações Especiais, exibição de clássicos ou de filmes de diretores que estão sendo homenageados pela Mostra; e Mostra Brasil, títulos brasileiros inéditos em São Paulo.

A abertura da Mostra acontecerá no dia 15 de outubro, para convidados, no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer. O filme selecionado para abrir o evento é o argentino Relatos Selvagens, de Damián Szifrón, que conta com Ricardo Darín (“O Segredo de Seus Olhos”) no elenco. O filme selecionado para a competição do Festival de Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro, bateu todos os recordes do cinema argentino em sua primeira semana em cartaz.

O diretor estará na abertura para apresentar o filme, junto da atriz Érica Rivas e do produtor Martín Mosteirin. O filme também foi produzido pelos irmãos Agustín e Pedro Almodóvar.

Dentre os filmes inéditos confirmados para a edição deste ano, estão Retorno a Ítaca, de Laurent Cantet; Tsili, de Amos Gitai, A Gangue, de Miroslav Slaboshpitsky, que levou o Grande Prêmio na Semana da Crítica do Festival de Cannes; Leviatã, de Andrey Zvyagintsev, que levou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes; As Noites Brancas do Carteiro, de Andrei Konchalovskiy, ganhador do Leão de Prata em Veneza; The Captive, de Atom Egoyan, que foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes; O Homem que Elas Amavam Demais, de André Téchiné; Dancing Arabs, de Eran Riklis, mesmo diretor de Lemon Tree (2008); Wild, de Jean-Marc Vallée, mesmo diretor de Clube de Compras Dallas; Acima das Nuvens, de Olivier Assayas, que foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes; O Segredo das Águas, de Naomi Kawase, que foi indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes; entre os brasileiros, A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, com o ator Irandhir Santos e grande vencedor do Festival de Paulínia deste ano; Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, vencedor do Festival de Brasília; Boa Sorte, de Carolina Jabor, melhor filme pelo júri popular no Festival de Paulínia; A Cidade Imaginária, de Ugo Giorgetti; Permanência, de Leonardo Lacca, e Cássia, de Paulo Henrique Fontenelle, dedicado à história de Cássia Eller.

A seleção de filmes também traz quatorze obras que já foram indicadas por seus países para concorrerem à vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro: Relatos Selvagens, da Argentina; Winter Sleep, da Turquia;  Força Maior, da Suécia; Viver é Fácil com os Olhos Fechados, da Espanha; Filha, do Paquistão; Tristeza e Alegria, da Dinamarca; Dois Dias, Uma Noite, da Bélgica; O Vale Sombrio, da Áustria; Mateo, da Colômbia; Noite Decisiva, da Finlândia; A Ilha dos Milharais, da Geórgia; Duas Irmãs, Uma Paixão, da Alemanha; Leviatã, da Rússia e O Círculo, da Suíça.

Como tem acontecido nas edições anteriores, a Mostra destaca a filmografia de um determinado país, apresentando uma seleção de títulos que mais representam o cinema local, além de organizar uma aproximação com profissionais brasileiros. A Espanha é o país homenageado nesta 38ª Mostra, que traz ao Brasil 42 filmes, uma exposição fotográfica e a Coleção Joly-Normandin, que conta com 53 curtas realizados entre 1896 e 1897.

Entre os destaques da seleção espanhola estão Hermosa Juventud, de Jaime Rosales, que recebeu menção honrosa do júri ecumêmico do Festival de Cannes; Costa da Morte, de Lois Patiño, que ganhou o prêmio de melhor diretor estreante no Festival de Locarno; As Bruxas de Zugarramurdi, de Alex de la Iglesia, que levou oito prêmios Goya; A Ferida, de Fernando Franco, que venceu o Goya de melhor diretor estreante; Viver É Fácil Com Os Olhos Fechados, de David Trueba, que levou o prêmio Goya de melhor filme, diretor, roteiro, música original, ator (Javier Cámara) e atriz (Natalia Molina); e Estrela Cadente, de Luís Miñarro, segundo longa de ficção deste que é um famoso produtor espanhol (Fatatsume no Mado, Tio Boonme, Medianeras, Girimunho).

Nesta 38ª edição, a Mostra Internacional de Cinema terá boa parte da filmografia do cineasta Pedro Almodóvar exibida. A homenagem começará já na abertura, com a exibição do filme Relatos Selvagens, de Damián Szifrón. O filme foi produzido pelos irmãos Pedro e Agustín Almodóvar e concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano.

A Mostra deste ano é feita sob a égide desse artista libertário. A retrospectiva que a Mostra lhe dedica abarca todas as fases de sua carreira: do humor anárquico de Pepi, Luci, Bom E Outras Garotas De Montão (1980), Maus Hábitos (1983), Que Fiz Eu para Merecer Isto? (1984), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) e Ata-Me (1890), passando pela paixão incandescente de A Lei do Desejo (1987), o flerte com o thriller de Carne Trêmula (1997), o lirismo sublime de Fale com Ela (2002), que muitos consideram sua obra-prima, além das obras mais recentes.

O cineasta espanhol Víctor Erice também estará na Mostra. Como reconhecimento de sua obra, o Festival de Locarno deste ano premiou o cineasta com um Leopardo de Ouro por sua carreira. A Mostra traz ao Brasil os três longas realizados por Víctor Erice: O Espírito da Colmeia (1973), O Sul (1983) e O Sol do Marmelo (1992).

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Governo da Espanha – Acción Cultural Española, a Mostra traz a São Paulo a exposição México Fotografado por Luis Buñuel. Com projeto museológico assinado por Daniela Thomas e Felipe Tassara, a exibição reúne uma série de fotos realizada pelo cineasta espanhol e conservada pela Filmoteca Española, em Madri. Elas representam apenas uma pequena parcela de um conjunto de milhares de imagens feitas pelo ícone do cinema surrealista na busca de locações para os filmes que rodou no México, entre 1947 e 1965. No total, são 85 fotografias, quase todas relacionadas a produções deste período. A seleção conta ainda com outras imagens que não têm relação com algum filme específico, mas que em conjunto ajudam a revelar o minucioso trabalho de pesquisa realizado por Buñuel antes de começar as filmagens – antes mesmo de se dedicar à escrita dos roteiros.

Com o propósito de aproximar e estreitar as relações cinematográficas entre Brasil e Espanha, a 38ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o Cinema do Brasil e a Ancine promovem um encontro de produção entre os dois países, reunindo produtores e fontes de financiamento, nos dias 23 e 24 de outubro. O evento conta com a parceria do Governo da Espanha, e as instituições espanholas:  ICAA (Instituto de la Cinematografía y las Artes Audiovisuales), Acción Cultural Española, SGAE e ICEX – España Exportación, Inversiones.

Como parte também do Foco Espanha, a Mostra apresenta os seguintes clássicos do cinema espanhol em cópias restauradas pela Cinemateca daquele país: O Toque da Meia Noite, de Orson Welles (1965); Flamenco, de Edgard Neville (1952); A Idade do Ouro (1930) e Um Cão Andaluz (1929), ambos de Luis Buñel; e Frivolinas (1927), de Arturo Carballo.

O produtor, diretor, distribuidor e exibidor Marin Karmitz, fundador da MK2, uma das empresas mais importantes do cinema autoral, com mais de 100 títulos em seu catálogo, é também homenageado na 38ª edição da Mostra.

A homenagem contará com uma retrospectiva de 30 títulos consagrados como A Trilogia das Cores, de Krzysztof Kieslowski, O Vento nos Levará (1999), de Abbas Kiarostami, Atirem no Pianista (1960) e Antoine e Colette (1962), de François Truffaut, O Melissokomos, de Theo Angelopoulos, Ópera do Malandro, de Ruy Guerra e Melô, de Alain Resnais. Parte destas obras será exibida sob o Vão Livre do MASP.

Nascido em 1938, em Bucareste, na Romênia, Marin Karmitz imigrou para a França logo após a Segunda Guerra Mundial. No início dos anos 60, alinhado com os movimentos sociais que explodiam na França nesse momento, iniciou suas experimentações com cinema realizando alguns curtas, e em seguida fundou a MK2 para rodar seu primeiro longa Sete Dias em Outro Lugar (1969). Teve uma atuação importante durante os eventos de Maio de 68 em Paris, buscando novas propostas e políticas para a produção cinematográfica na França. Em seguida, dirigiu dois longas diretamente relacionados com sua militância política, Camaradas (1970) e Golpe por Golpe (1972), e em seguida abriu uma sala de cinema dedicada à exibição de filmes políticos, já que as salas que até então existiam recusavam-se a exibir filmes desse tipo.

A MK2 se tornou logo uma importante empresa na indústria de cinema da França e da Europa toda, não somente produzindo filmes autorais, como também distribuindo e exibindo. A empresa é hoje, dona da maior rede de salas de arte do país, com 60 telas em 10 complexos, todas completamente digitalizadas.

A homenagem à MK2 contará também com a exibição do documentário Marin Karmitz: Uma Vida Nos Filmes – Master Class De Marin Karmitz, de Felix Von Boehm, que através de depoimentos de personalidades do cinema como Juliette Binoche, Michael Haneke e Agnès Varda, conta a trajetória de Karmitz.

Neste ano, a Mostra faz ainda uma homenagem especial a Charles Chaplin, comemorando os 100 anos da criação do personagem Carlitos, com a exibição do curta Corrida de Automóveis para Meninos (1914), dirigido por Henry Lehrman e do longa O Circo (1928), dirigido e estrelado por ele próprio.

Em Corrida…, Charles Chaplin aparece pela primeira vez com seu personagem The Tramp, conhecido no Brasil como Carlitos, ou O Vagabundo, que acabou por torná-lo mundialmente famoso e um ícone do cinema. Neste curta, Carlitos é apenas mais um espectador de uma corrida automobilística de crianças, mas faz de tudo para aparecer frente às câmeras, atrapalhando não só as filmagens, como também o público e a própria corrida. Esse filme não tem somente a importância de estrear Carlitos no cinema, como também é um dos primeiros filmes da história em que a “quarta parede” é rompida, momento que ocorre quando uma das câmeras de filmagem aparece.

O Circo é por muitos considerado um dos melhores filmes de Charles Chaplin, sendo seu segundo em total de arrecadação e o sétimo na história do cinema mudo. No filme, Carlitos acaba indo parar em um circo enquanto fugia da polícia, que o confundira com um ladrão de carteiras. Ele, sem querer, acaba entrando no espetáculo e fazendo grande sucesso com o público, sendo logo contratado pelo dono, que irá se aproveitar dele. Ele ainda arranja tempo para se apaixonar pela acrobata, filha desse mesmo proprietário.

O filme havia sido indicado para quatro categorias do Oscar, mas a Academia resolveu tirar as indicações e dar a Chaplin um prêmio especial pela genialidade ao escrever, produzir, dirigir e atuar em um mesmo filme, além de compor a trilha sonora. Em 1972, ganha homenagem da Academia pela importância de sua obra para o cinema.

Ambos os filmes serão exibidos em DCP no dia 1º de novembro,  na área externa do Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, com acompanhamento da Orquestra Experimental de Repertório da Fundação Teatro Municipal de São Paulo e regência do Maestro Carlos Eduardo Moreno. A composição de Swing little Girl, trilha Sonora do O Circo, é do próprio Chaplin e a do curta metragem, Corrida de Automóveis para Meninos, de Timothy Brock.

Dólares de Areia, de Laura Amélia Guzmán e Israel Cárdenas, é o filme de encerramento da 38ª Mostra. Para prestigiar a sessão estará a atriz Geraldine Chaplin, que no filme faz o papel de Anne, uma senhora francesa que encontra na República Dominicana um refúgio para passar o resto de sua vida, mas acaba se envolvendo com Noeli, uma jovem local que apenas busca tirar proveito dos tantos turistas que vão até ali. O filme dominicano estreou internacionalmente no Festival de Toronto.

 

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