Mostra Tiradentes homenageia a atriz Dira Paes

A 18ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, que acontece na cidade histórica mineira no período de 23 a 31 de janeiro, inaugura o calendário audiovisual no Brasil com mais de 100 filmes em pré-estreias nacionais e mundiais, oficinas, debates, seminário, exposições, lançamento de livros, entre outras atividades, e homenageia a atriz paraense Dira Paes, que terá sua carreira celebrada pela mostra. Na abertura, será exibido o longa-metragem inédito “Órfãos do Eldorado”, em que Dira atua sob direção de Guilherme Coelho em adaptação do romance do autor amazonense Milton Hatoum.

Dira Paes (ou Ecleidira Maria Fonseca Paes, seu nome de batismo) nasceu em Abaetetuba (PA) em 1969. A atriz estreou no cinema ainda adolescente, com 16 anos de idade, no longa “A Floresta das Esmeraldas”, do diretor estadunidense John Boorman. Apenas dois anos depois, fez “Ele, o Boto”, filme emblemático de Walter Lima Jr. que já se aproximava do tipo de produção que a atrairia nos anos seguintes, sedimentando sua caminhada como uma das profissionais mais versáteis, ousadas e corajosas da dramaturgia cinematográfica e televisiva no país.

De fato, Dira Paes se tornou rosto e corpo conhecidos não apenas por aparecer constantemente em novelas e séries de televisão, mas também por emprestar a presença magnética a longas-metragens de grande repercussão dentro e fora do Brasil. Depois de atuar, ainda não tão reconhecida, em “Corisco e Dadá” (1996), de Rosemberg Cariry, e “Anahi de las Misiones” (1997), de Sérgio Silva, Dira emplacou uma série de outros filmes, em especial dois de altíssima voltagem urbana e narrativa de impacto: “Cronicamente Inviável” (2000), de Sérgio Bianchi, e “Amarelo Manga” (2002), de Cláudio Assis.

Intercalando três frentes de trabalho (televisão, cinema comercial e cinema autoral), Dira Paes se tornou uma atriz blockbuster ao protagonizar, ao lado de Angelo Antônio, o drama “Dois Filhos de Francisco” (2005), no qual viveu a mãe dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. O filme foi visto por 5,3 milhões de espectadores. Menos de um ano depois, ela reapareceu num trabalho radicalmente diferente, repetindo a parceria com o pernambucano Cláudio Assis no multipremiado e controverso “Baixio das Bestas”.

Os trabalhos mais recentes de Dira Paes foram nas minisséries “Amores Roubados” e “O Rebu”, ambas sob direção de José Luiz Villamarin e exibidas na TV Globo em 2014.

A homenagem a Dira Paes segue uma tendência da Mostra de Tiradentes, sobretudo em anos recentes, de reverenciar intérpretes como João Miguel, Rosanne Mulholland, Irandhir Santos, Selton Mello e Simone Spoladore. Todos eles transitaram por outra tela mais pop, a da TV, mas têm em comum um pacto com o cinema de autor, realizado por diretores experientes ou em começo de percurso.

Em tempos de novas e infindáveis tecnologias, em que distrações das mais variadas e elaboradas dominam a atenção das pessoas, com câmeras e aparatos por todos os lados, com infinidade de possibilidades de visão e registro, enfim, num ainda iniciante século XXI que se caracteriza pela dispersão e pela multi-informação, a 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes propõe em 2015 a seguinte questão: “Qual o lugar do cinema hoje?”.

Sob esta temática, o evento atinge a maioridade questionando em que medida as produções cinematográficas de imersão, que insistem em se elaborarem a partir da exigência por uma maior atenção e cognição, fazem sentido num mundo em que os multiplexes e a maior parte das salas de exibição se tornaram verdadeiros parques temáticos e modernizados (com telas gigantes de iMax, cadeiras balançantes e projeções em 3D e 4D).

Dentro deste contexto, a Mostra vai propor questões a partir de sua temática central, entre elas: na ampliação e dispersão dos tempos atuais, o cinema autoral exigente sobreviverá de que forma? O aumento de produção de filmes nesse segmento mais independente é sinal evidente de seu estado de saúde ou de um universo no qual o acúmulo de imagens e narrativas não encontram modos de circulação suficientes? As escolas de cinema e audiovisual preparam seus estudantes para que estéticas, estilos, telas e modos de percepção?

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