Meia Hora e as Manchetes que Viram Manchete

No “Meia Hora”, tabloide carioca de manchetes bem-humoradas e abordagens inusitadas, tiro vira ‘pipoco’ e facção criminosa é ‘bonde sinistrão’; bandido escondido ‘tá malocado’, vivo ‘toca o terror’, e morto ‘levou ferro’; a polícia, quando invade, ‘dá sacode’, quando atira, ‘senta o dedo’, quando prende, ‘mete em cana’; cadeia fica melhor como ‘tranca’, ‘jaula’ ou ‘xilindró’; ladrão de galinha é “vagabundo” e estuprador é “monstro”; o exterior é tratado de “no estrangeiro”; e mulher bonita ganha adjetivos hortifrutigranjeiros como morango, melancia, maçã, cereja e jaca.

“Meia Hora e as Manchetes que Viram Manchete”, dirigido por Angelo Defanti, nasceu da vontade de falar sobre um fenômeno exclusivamente carioca, com tanta repercussão dentro do Rio de Janeiro e tão pouca no resto do Brasil. Com o avançar da pesquisa, contudo, foi possível observar que o bom humor do jornal servia como chave de uma discussão muito maior. A trajetória e a linguagem da comunicação popular no país poderiam contribuir para um debate sobre um outra parcela da mídia, tida elitizada.

Afinal, o fator cômico do jornal “Meia Hora” faz suas manchetes perderem isenção e colabora para que suas notícias cheguem ao público com ponto de vista? Apelar para mulheres sensuais na capa é uma forma de vender mais jornais ou apenas de entregar o que o freguês demanda? Fazer piada com morte de bandidos é desrespeitar a vida ou reforça o discurso de combate ao crime? Sendo uma empresa privada, é justo exigir dos jornais impressos a função de educar o povo com algo que lhe faça exercer melhor sua cidadania?

Em épocas de mídia sendo acusada de golpista, “Meia Hora e as Manchetes que Viram Manchete” talvez contribua para alterar o quadro de passividade com o qual muitas pessoas têm se relacionado diante de certas notícias. Talvez, ao fim da projeção, o público possa questionar mais como as notícias são concebidas e quais as muitas perspectivas por trás de uma manchete.

O filme está na programação do Festival Latino-Americano de São Paulo e será lançado no dia 6 de agosto em circuito comercial, com distribuição da Boulevard Filmes.

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