Jean-Luc Godard ganha maior e mais completa retrospectiva já realizada
Em 3 de dezembro, o cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard completará 85 anos de idade. Durante 43 dias, de 21 de outubro a 2 de dezembro, “Jean-Luc Cinéma Godard” realiza uma retrospectiva completa que exibirá todas as obras do diretor nos CCBBs de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e no CineSesc.
A mostra contempla a produção do cineasta em seus mais de 60 anos de carreira, com a exibição de 125 obras vindas da França, entre longas, médias e curtas-metragens, séries televisivas, filmes publicitários e vídeo-cartas, as quais exploram os temas mais variados realizados pelo diretor.
Jean-Luc Godard passou a infância e juventude na Suíça. Em 1952, tornou-se colaborador da revista francesa Cahiers du Cinéma e, durante este período, realizou cinco curtas-metragens.
No final da década de 1950, junto com François Truffaut e Claude Chabrol, Godard formou o triunvirato central da Nouvelle Vague, movimento cinematográfico francês que mudou a história do cinema. Em “Acossado” (1959), seu primeiro longa-metragem, já é possível observar procedimentos fundamentais para toda sua obra, como a desconstrução do enredo tradicional.
Ao final da década de 1960, junto ao intelectual Jean-Pierre Gorin, fundou então o grupo Dziga Vertov. O coletivo realizou, entre outras obras, “Vento do Leste” (1969), “Lutas Ideológicas na Itália” (1970) e “Vladimir e Rosa” (1970).
Os anos entre 1975 e 1980 foram marcados pelo experimentalismo com o vídeo e com a televisão. Godard e sua mulher, Anne-Marie Miéville, produziram duas séries no período: “Seis Vezes Dois: Sobre e Sob a Comunicação” (1976) – doze episódios de 50 minutos, cuja primeira parte é um ensaio crítico e a segunda é constituída por entrevistas feitas por Godard com personalidades diversas – e “France Tour Détour Deux Enfants”(1979), série em que Godard e Miéville continuam seu percurso em direção a uma posição crítica da comunicação, tomando emprestado os códigos da gramática televisual – reportagens, chamadas de matéria, entrevistas, clipes –, criando uma espécie de antitelevisão.
“Salve-se Quem Puder (A Vida)” (1979) marcou o retorno de Godard para ficção narrativa e o cinema. A partir de então, o cineasta realizou filmes como “Carmen de Godard” (1983) e o polêmico “Eu lhe Saúdo, Maria” (Je vous Salue, Marie, 1985), censurado no Brasil e em diversos outros países.
A partir de 1988, a produção de Godard ganhou um caráter mais retrospectivo. A fase culminou em “História(s) do Cinema”, obra em oito capítulos, que reflete a história do cinema através de seu próprio meio.
Mesmo com a idade avançada, Godard não deixou de produzir e inovar. Em 2010, lançou o longa “Filme Socialismo” e, em 2014, “Adeus à Linguagem”, obra que trabalha o 3D de maneira original, não só em relação aos seus filmes anteriores como a todo o cinema que o precede.
A mostra vai apresentar nas três unidades do CCBB (RJ, SP e DF) duas raridades da filmografia do cineasta: uma reconstituição que Godard realizou do longa-metragem “esquecido” “Salve a Vida (Quem Puder)” e um episódio abandonado de “Seis Vezes Dois”, obras exibidas pouquíssimas vezes que serão trazidas pelo professor inglês Michael Witt, diretor do centro de pesquisa em filmes e cultura audiovisual da universidade de Roehampton, Londres, e autor de Jean-Luc Godard, Cinema Historian (Indiana University Press, 2013) e coeditor de Jean-Luc Godard: Documents (Éditions du Centre Pompidou, 2006). Além de apresentar os filmes, Witt também fará uma palestra em cada unidade do CCBB.
Paralelamente à exibição dos filmes, a mostra também realiza, no dia 14 de novembro, mesas de debate em todas as praças. E nos dias 5 e 6 de novembro, cursos e palestras com convidados nacionais e internacionais. Os debates, cursos e palestras são gratuitos.
No CCBB-SP, ocorre um debate com Ismail Xavier, professor da ECA-USP desde 1971 e professor visitante da Universidade de Nova York (1995), da Universidade de Iowa (1998) e da Université Paris III – Sorbonne Nouvelle (1999) e com o crítico e pesquisador de cinema Luiz Carlos Oliveira Jr., autor do livro A Mise en Scène no Cinema: Do Clássico ao Cinema de Fluxo.
Haverá também um curso com Mateus Araújo, professor do departamento de cinema da ECA-USP e doutor pela Université de Paris I. Intitulado “Auto-retrato e Auto-crítica no Cinema de Godard”, que no curso pretende apontar e discutir as diferentes figuras do autor e da autocrítica que atravessam a obra de Godard desde seu início, nos anos 50, até os últimos trabalhos.
No CineSesc, em São Paulo, o evento contará com a palestra da francesa Céline Scemama, professora de estética do cinema na Université Paris I – Panthéon Sorbonne e autora de Histoire(s) du Cinema de Jean-Luc Godard: la Force Faible d’un.
Além da exibição de filmes e debates, a mostra também lançará um catálogo de 304 páginas com textos inéditos e um artigo crítico para cada uma das 104 obras de Godard. Além de pesquisadores brasileiros, contribuíram para o livro especialistas internacionais, como Cyril Beghin, integrante do comitê de redação dos Cahiers du Cinéma; David Faroult, cineasta e professor de pesquisa em cinema na Université Paris III; Dario Marchiori, conferencista em História das Formas Fílmicas na Université Lyon 2, e da professora e autora Céline Scemama.
O catálogo contará ainda com seis ensaios escritos por Alain Bergala, professor da Université Paris III – Sorbonne Nouvelle, colaborador da revista Cahiers du Cinéma e autor de Jean-Luc Godard par Jean-Luc Godard e Godard autravail; Raymond Bellour, professor da Université Paris III – Sorbonne Nouvelle e coautor de Jean-Luc Godard: Son + Image; Nicole Brenez, autora do livro Cinéma/Politique; o professor e doutor Mateus Araújo; Michael Witt, autor de Jean-Luc Godard, Cinema Historian e o professor e crítico Ruy Gardnier.
A partir de 21 de outubro, o NOW, plataforma de video-on-demand da NET, irá disponibilizar 14 filmes de Jean-Luc Godard. Entre os títulos selecionados, estão clássicos do diretor como “Bande à Part” (1964), “La Chinoise” (1967) e “Sauve Qui Peut” (La Vie) (1979).
A programação completa da mostra pode ser conferida no site bb.com.br/cultura.
Mostra Jean-Luc Cinéma Godard
Data: de 21 de outubro a 30 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil – SP, RJ e DF, e de 26 de novembro a 2 de dezembro, no CineSesc, em São Paulo